Alves decidiu com base na opinião pública e não nos fatos, dizem petistas
Renúncia do petista José Genoino ontem também provocou um início de tumulto no plenário da Casa
BRASÍLIA - A renúncia de José Genoino gerou um princípio de crise entre o PT e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e provocou tumulto no plenário da Casa.
Os petistas responsabilizaram Alves. Avaliam que ele pressionou os colegas de Mesa a seguirem seu entendimento de que era preciso abrir o processo de cassação. Também o acusaram de tomar decisões mais com base na opinião pública do que nos fatos.
Seguindo orientação da cúpula da sigla, os petistas baixaram o tom público de uma possível retaliação ao comando da Casa. Mas disseram que o episódio deixou sequelas.
"Me sinto decepcionado com Henrique Alves", afirmou o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR).
O discurso foi reforçado pelo presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Décio Lima (PT-SC). Para ele, Alves errou na condução do caso, pois Genoino está de licença médica e não poderia ter amplo direito de defesa.
A renúncia começou a ser costurada na noite de anteontem, após o PT ter a indicação de que o processo seria apoiado pela maioria da Mesa, conforme mostrou a Folha ontem.
A avaliação sobre a medida passou pelo crivo de um pequeno grupo, que incluía Vargas, o líder da bancada, José Guimarães (CE), irmão de Genoino, e o ex-presidente Lula.
Guimarães ligou para Genoino e avisou que o cenário não era favorável. Ele, então, deu sinais que já pensava em entregar o cargo. "Não vou aceitar o processo", teria dito.
O líder pediu mais tempo para as negociações. Pouco antes da reunião, Genoino enviou a carta ao irmão e disse: "Não vou me diminuir. Quero tomar uma atitude digna".
Segundo Vargas, "o único pleito" do deputado "era não ter no currículo a expressão deputado cassado".
Com a renúncia, a bancada do PT começou a discutir a reação pública. Ficou acertado que, num primeiro momento, a prioridade era destacar a injustiça contra Genoino e ressaltar sua atuação política.
Falando na tribuna por quase meia hora, Guimarães disse que o Congresso saiu diminuído e que o pecado de Genoino foi ter sido presidente do PT. Ele reclamou também da atuação da imprensa.
O discurso gerou mal-estar. Liliam Sá (Pros-PR) questionou Guimarães: "O Brasil não quer ouvir isso", disse. "Me sinto envergonhada. Até hoje os mensaleiros não conseguiram se defender. O Brasil não merece isso".
Ela foi interrompida por Alves, sob o argumento de que foi "inconveniente nesse momento difícil". Tentando mostrar normalidade na relação com o PT, ele afirmou que a decisão foi dura para a Casa.
Fonte: Folha de S. Paulo
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