Quando criou o PT, em 1980, Luiz Inácio Lula da Silva ouviu muitas críticas. Uma delas era a de que durante as greves de metalúrgicos em anos anteriores sempre havia pensado "naquilo". Teria usado o sindicalismo como escada porque só queria mesmo fazer política.
A crítica não colou. Lula acumulou adeptos ao longo dos anos. Perdeu várias eleições até ganhar o Palácio do Planalto por duas vezes e se tornar o mais popular líder político da história recente do Brasil.
Num país ainda em formação, é natural (e desejável) ativistas de todos os setores tentarem a sorte em disputas eleitorais. Esse debate voltou agora por causa da possibilidade de o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, despir-se da toga e se lançar candidato na corrida pelo Planalto no ano que vem --ele tem hoje 15% de intenções de voto, segundo o Datafolha.
A crítica a essa eventual decisão de Barbosa guarda parentesco com a desfechada contra Lula há mais de 30 anos. O comentário geral pode ser resumido assim: "Se ele fizer isso vai ficar claro que só foi duro no julgamento do mensalão porque desejava ir para a política e disputar a Presidência da República".
Esse tipo de desqualificação é pedestre. Não subtrai voto de ninguém. Os problemas de Joaquim Barbosa numa disputa são outros. Primeiro, ele não tem vida partidária. Segundo, são exíguas as opções decentes na lista de 32 legendas brasileiras.
É uma tarefa quase inexequível fazer campanha eleitoral no Brasil sem tempo de rádio e de TV. Os principais partidos já comissionaram seus ativos para Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). O que sobraria para Joaquim Barbosa? Fazer uma campanha como "outsider" e torcer para ter mais votos do que Marina Silva em 2010.
Impossível não é. Mas trata-se de um risco enorme. Não está claro até o momento se o presidente do STF deseja enfrentar tal desafio.
Fonte: Folha de S. Paulo
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