O presidente nacional do PT, Rui Falcão, chamou de "trensalão" o caso das denúncias de propina em processos de licitação dos trens do metrô em São Paulo. Na outra ponta, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa dos principais quadros do PSDB paulista e afirmou que o partido "não é farinha do mesmo saco", numa referência ao PT. Os petistas trabalham para criar uma CPI na Câmara dos Deputados.
Para PT, caso Siemens é "trensalão"; FHC reage: "PSDB não é farinha do mesmo saco"
Luciana Nunes Leal, Wilson Tosta, Eduardo Brasciani, Débora Alvares, Daiene Cardoso
RIO, BRASÍLIA - PT e PSDB "nacionalizaram" ontem a guerra política originada com a denúncia de pagamento de propinas em processos de licitação dos trens do Metrô nos governos tucanos em São Paulo. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, batizou o caso de "trensalão", numa referência ao esquema do mensalão, que atingiu o PT em 2005. Na outra ponta o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o PSDB "não é farinha do mesmo saco", numa referência ao PT.
Falcão reclamou do tratamento dado pela imprensa ao caso em São Paulo. Se houvesse alguns de nossos partidos envolvidos, seria a maior corrupção da história. Mas dizem que é cartel e que a vítima é o Estado", discursou o petista, no Rio, em seminário que analisava as manifestações de junho no País, "As manifestações não vão cessar. Haverá uma em São Paulo, no próximo dia 14, contra o propinoduto ou o trensalão."
Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique saiu em defesa dos quadros tucanos, apesar de o presidente nacional da legenda, Aécio Neves (MG), não ter dado declarações oficiais pelo partido (mais informações no texto ao lado). Segundo FHC, "há muita agitação, mas pouca coisa concreta a respeito" da denúncia. "Não houve acusação de que o governo de São Paulo tivesse sido favorecido ou que algum político do PSDB tivesse se beneficiado", disse o tucano, que também estava no Rio ontem.
"Quando começam a misturar as águas, não é bom. isso pode dar a impressão de que é parecido com o que outros fizeram. (...) A população ficaria pensando que é tudo farinha do mesmo saco. E não é", disse FHC.
"Do que eu saiba, os governadores de São Paulo Mário Covas (morto em 2001), Geraldo Alckmin e José Serra são pessoas que não entram neste campo de corrupção", enfatizou.
O caso das propinas foi delatado pela multinacional Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A empresa fez com o Cade um "acordo de leniência", ou seja, admite negociatas em licitações e, em troca, fornece provas e informações sobre o ilícito e o suposto esquema de pagamento de propinas a políticos.
Fernando Henrique Cardoso admitiu que licitações podem gerar corrupção e afirmou que o ex-governador José Serra foi transparente ao dar respostas sobre denúncias. Reportagem publicada no jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira revelaram a existência de e-mail de executivo da Siemens relatando conversa com o então governador José Serra na qual ele teria sugerido que a empresa fizesse acordo com a primeira colocada, a espanhola CAF, para a licitação não ter de ser cancelada. Serra nega o fato.
"A concorrência para compra de 40 trens de São Paulo, realizada em 2008, foi uma verdadeira ação anticartel (...) Ganhou a CAF, uma empresa espanhola que ofereceu o menor preço. O Estado economizou cerca de R$ 200 milhões (...) A Siemens ofereceu preços bem mais altos. Por isso perdeu, ficando em segundo lugar. Diga-se que não recebeu nenhum tipo de compensação. Não foi subcontratada nem ganhou contratos novos. Ou seja, os fatos sugeridos nesse(s) e-mail(s) de executivo (s) da Siemens não aconteceram", disse Serra, em nota.
Base resiste à CPI. O comando nacional do PT trabalha para criar em Brasília, na Câmara, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as denúncias que atingem o PSDB. A estratégia encontra resistência nos partidos da base. A situação não interessa às demais legendas, como o PSB, PDT, PP, PTB, que fazem alianças com tucanos e petistas nos Estados.
Como na Câmara há 17 investigações à espera de instalação, o PT quer emplacar uma Comissão Parlamentar de inquérito Mista, envolvendo deputados e senadores, que teria criação facilitada. "Os fatos estão vindo muito rapidamente, num volume muito grande. Isso requer uma investigação forte", justificou Paulo Teixeira (PT-SP), encarregado pelo partido de recolher as assinaturas,
"Por que vamos nos meter nisso?", questiona o 2.º vice-presidente do Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). "O que move isso é uma questão política. Nós não vamos entrar nessa briga", avisou o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE). "Nossa tendência é de não assinar a CPI nesse momento de crise e de véspera de eleição. Há uma investigação grande do Ministério Público e da Polícia Federal. Não estamos afim de participar dessa guerra entre PT e PSDB", emendou o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (SP). "Ninguém vai querer assinar isso agora com uma nuvem de dúvidas sobre a eleição do ano que vem", resumiu um parlamentar da base.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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