- O Globo
A economia parou em 2014, apesar da Copa do Mundo, das eleições que normalmente aumentam o gasto público e incentivam a atividade econômica, e a despeito da melhoria da economia mundial. Na divulgação dos dados, ontem, ficou provado que o número ruim foi resultado da política econômica errada: o país teve um resultado de 0,1% no PIB e uma inflação no teto da meta.
Não há esperanças de melhora a curto prazo. A queda de 4,4% do investimento, por si só, já indica que 2015 não será um ano fácil. Para quem tinha alguma dúvida, ela acabou com a declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que o país está vivendo neste começo de ano uma “forte desacelerada”. Está preparando, talvez, a opinião pública para o número que virá do primeiro trimestre de 2015. O que Levy espera é que a alta do dólar acabe produzindo o efeito de empurrar as exportações, e isso ajude a economia neste ano que já se sabe que será de recessão.
O PIB não saiu do lugar, mas muita coisa mudou na forma de cálculo pelo IBGE. Os dados foram revisados de 1996 até agora, mudando ligeiramente alguns anos, mas com alterações mais fortes no governo Dilma. Em 2011, como já foi divulgado semanas atrás, o crescimento saiu de 2,7% para 3,9%. O de 2012 saiu de 1% para 1,8%. O de 2013 saiu de 2,5% para 2,7%. Com o 0,1% de 2014, o país teria, se os números não fossem alterados, uma média de crescimento anual de 1,5% no primeiro governo Dilma. As mudanças levaram o crescimento médio a ser de 2,1%. Mesmo assim, é a pior taxa desde o real.
O IBGE mudou a metodologia e, além disso, fez agora as revisões que normalmente são feitas de forma mais espaçadas.
— Todos os países divulgam os dados preliminares e depois fazem revisões. Aqui no Brasil, também. Só que, como estávamos mudando a metodologia do PIB, deixamos para fazer depois essas revisões, que são feitas a partir das novas pesquisas que são incorporadas — explicou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais.
A nova forma de calcular o PIB fez três alterações importantes, como explicou Roberto Olinto, coordenador de pesquisas do IBGE, e Rebeca Palis. Primeiro, pesquisa e desenvolvimento deixaram de ser classificados como gasto para virarem investimento. É bem verdade que isso não provoca um salto grande porque, no Brasil, infelizmente, há poucos centros de pesquisa. Segundo, houve uma reformulação da forma de calcular a construção civil, com a incorporação de salários, o que fez subir 2010 e 2011, principalmente. A terceira mudança afetou negativamente 2010 e positivamente 2011, que é o uso das térmicas.
— Quando se usa as térmicas há uma queda da renda do setor de eletricidade, e, portanto, ele contribui menos para a alta do PIB. Em 2010, houve grande uso das termelétricas. Em 2011, elas foram desligadas, e isso favoreceu mais o cálculo de 2011 — disse Roberto Olinto.
Essas alterações da forma de calcular são aperfeiçoamentos naturais do indicador e, em alguns casos, seguem orientações internacionais, mas mesmo com revisões e mudanças, o fundamental permanece igual. De 2011 para 2012, o Brasil desacelerou durante o governo Dilma. Melhorou um pouco em 2013, para parar completamente em 2014. Agora se prepara para um PIB negativo em 2015. Um período sem brilho algum, apesar dos fortes subsídios dados aos setores industriais, principalmente, e do incentivo ao endividamento.
O governo usou a desculpa durante todo o ano passado de que a crise internacional explicava o resultado ruim da economia, mas ontem os Estados Unidos divulgaram o crescimento do ano de 2014 em 2,2%. Os Estados Unidos vêm retomando o crescimento, a Europa cresceu mais que o Brasil, a Alemanha terminou o ano em 1,6%. A China desacelerou, mas ficou acima de 7%. A Índia acelerou para 7%. A Colômbia cresceu 4,6%. Em relação à América Latina, o Brasil só está melhor do que a Venezuela, que enfrenta forte recessão.
Com todos os números na mão, não há dúvida: não crescemos porque o Brasil errou na condução da política econômica. E ainda teremos que passar por mais turbulências para colocar a casa em ordem.
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