• O primeiro governo Dilma teve a ilusão de que abrindo as torneiras das finanças públicas e aumentando o intervencionismo a economia estaria salva da recessão
A divulgação dos resultados preliminares do Produto Interno Bruto referentes ao último trimestre de 2014 (e do ano como um todo ) serviu mais para se avaliar o efeito da nova metodologia de cálculo do PIB adotada pelo IBGE, pois todas as demais estatísticas já vêm refletindo a difícil conjuntura econômica do país. Crescimentos abaixo de 0,5% ao ano não são considerados relevantes pelos próprios especialistas do IBGE (assim como uma retração de igual proporção), pois, em qualquer dessas hipóteses, trata-se de um quadro de estagnação. É claro que existe uma sensação psicológica de alívio por ter havido um crescimento de 0,1% e não um encolhimento de 0,1%.
O que importa agora é a análise das causas dessa estagnação. Ainda que desacelerando, o consumo das famílias registrou crescimento no ano passado (variação de 0,9%, a menor desde 2003). Preocupante foi a queda dos investimentos, da ordem de 4,4%,. Durou pouco a satisfação de sabermos que, pela nova metodologia, o país registrara taxas de investimentos de mais de 20% do PIB em 2011 e 2012 — 25% é considerado o índice ideal. Com a retração ocorrida no ano passado, a taxa de investimento voltou a ser inferior a 20%.
Também, nesse caso, estar um pouco acima ou um pouco abaixo só tem mesmo um efeito psicológico de curto prazo. A retração de investimentos é de fato muito séria devido às circunstâncias em que ocorreu. O primeiro governo Dilma tentou manter a economia ativa abrindo as torneiras das finanças públicas. Emitiu uma montanha de títulos públicos para repassar recursos ao BNDES, que, com empréstimos a taxas subsidiados, acabou se tornando a única fonte de financiamentos de longo prazo na economia brasileira.
Pura ilusão, calcada na visão equivocada de que o Estado deve ser sempre o ator principal e determinante nos rumos da economia, cabendo ao setor privado papel coadjuvante. Se no lugar do intervencionismo estatal, o governo tivesse se orientado mais a estimular forças de mercado, o país já poderia ter poupança privada suficiente para financiar os investimentos, pois os próprios negócios gerariam renda e capital capazes de sustentar um processo de crescimento.
Mas, mesmo quando governo se convenceu da necessidade de usar mais o regime de concessões nos empreendimentos de infraestrutura, perdeu-se um tempo precioso tentando-se definir taxas máximas de retorno calculadas com base em critérios fora da realidade, devido à ojeriza ao lucro.
Daí a grande expectativa que se criou em torno do ajuste fiscal em andamento. A desaceleração econômica do ano passado se aguçou nesses primeiros meses de 2015, o que é evidenciado pelo aumento do desemprego. No entanto, a política econômica segue agora um curso que se afasta do artificialismo, dando mais chance para o mercado funcionar. Os dados podem até espelhar uma deterioração de imediato, mas as perspectivas hoje são bem mais promissoras do que as do último trimestre de 2014.
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