Dados de 2014 indicam piora em 2015
• Analistas projetam contração do PIB entre 1% e 1,5% neste ano; janeiro e fevereiro já mostram esfriamento
• Inflação maior, salários corroídos, desemprego em alta, Operação Lava Jato e ajuste fiscal aumentam pessimismo
Gustavo Patu e Pedro Soares – Folha de S. Paulo
RIO - A estagnação da economia deve ser se guida por uma recessão neste ano, que tem como pano de fundo uma inflação maior, salários corroídos, desemprego em alta, os desdobramentos da Operação Lava Jato e a necessidade do governo de cortar gastos e aumentar a arrecadação para equilibrar as contas públicas.
Esses fatores e os dados já conhecidos de janeiro e fevereiro apontam para uma contração do PIB entre 1% e 1,5% em 2015, segundo analistas.
É esperado um aprofundamento da queda dos investimentos, que pode chegar a 8%. Em 2014, recuaram 4,4%, mais fraco índice desde 1999.
Em períodos de grande turbulência e incerteza como o atual, investidores ficam menos confiantes e postergam suas decisões de comprar máquinas, construir prédios ou até mesmo as famílias em reformar suas casas.
Construção em baixa
A construção civil, principal integrante do investimento, teve no ano passado a maior queda desde 2003, com perda de 2,6%. "O maior impacto negativo veio das obras de infraestrutura, com o fim da Copa", afirmou Rebecca Palis, coordenadora do IBGE.
Também pesaram a menor produção de máquinas e equipamentos --um dos segmentos que levaram à queda de 1,2% da indústria.
O setor também foi prejudicado pela menor fabricação de veículos, com a retirada do IPI reduzido. O PIB industrial só não teve desempenho pior graças ao avanço da indústria extrativa (petróleo e minério de ferro).
Neste ano, o pessimismo tende a aumentar.
"O lastro [para o crescimento] em 2015 vai ser baixo. Tudo aponta para uma recessão neste ano, que será mais ou menos intensa de acordo com o cenário político e a reação popular diante do ajuste fiscal", afirma Thiago Biscuola, da RC Consultores.
Lava Jato
Um fator adicional é a crise da Petrobras, amplificada neste ano e que fez a companhia e sua ampla cadeia de fornecedores cortarem investimentos. Segundo Rebecca Palis, o efeito da Lava Jato sobre a construção civil deve aparecer mais nos resultados deste ano.
Já o consumo das famílias, motor do PIB durante o governo Lula e em franca desaceleração desde 2010, deve permanecer estável neste ano, sem contar com o estímulo da redução de tributos.
O cenário para este ano é bem diferente, com impostos e preços controlados pelo governo em alta, com a necessidade do governo de fazer caixa e retirar subsídios.
"O consumo [alta de 0,9% em 2014] deve desacelerar ainda mais com a deterioração do mercado de trabalho e uma inflação na faixa de 8%, que praticamente impede ganhos reais de salários", diz Vinícius Botelho, da FGV.
Com menos dinheiro para gastar com o aumento de itens básicos como energia e alimentos, o setor de serviços sentiu o baque do freio no orçamento das famílias.
Sustentáculo do PIB nos últimos anos quando se analisam os setores produtivos, o setor de serviços, o de maior peso na economia, cresceu apenas 0,7% em 2014.
Foi o mais baixo ritmo de toda a série histórica do IBGE, iniciada em 1996.
Para 2015, é esperado um crescimento ainda mais modesto --na faixa de 0,5%.
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