Quem ainda não se convenceu de que o insucesso do ensino por aqui tem mais a ver com ineficiência e iniquidade do que com falta de verbas deveria consultar os dados relativos ao Brasil no relatório "Education at a Glance 2016".
Referentes ao ano de 2013, as informações foram compiladas pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), conhecido clube das 35 nações mais desenvolvidas. A organização também reúne estatísticas sobre não membros, como o Brasil, e a comparação nem sempre é desfavorável ao país.
Considere-se o gasto público nacional com educação: segundo a OCDE, o setor absorve 16,1% do dispêndio governamental, acima da média de 11,2% do grupo. Como fatia do PIB, a cifra brasileira (5,5%) não só é maior que o padrão da OCDE (4,7%) mas também supera as de Chile (4%) e México (4,5%).
A cobertura do sistema de ensino, no entanto, deixa a desejar. Apenas 57% das crianças de três anos contam com vagas de pré-escola (OCDE: 71%), que tem relação direta com o posterior aproveitamento no aprendizado. E 14% da população adulta conta com diploma universitário (média na OCDE: 35%), o que garante a essa parcela pelo menos o dobro do salário de quem só conclui o ensino médio.
Embora restrito a uma parte privilegiada da população, o ensino superior consome fatia desproporcional das verbas. No conceito de paridade de poder de compra (PPP, em inglês) usado pela OCDE, investem-se em cada aluno de universidade pública, aqui, US$ 13.540 anuais, mais que o triplo do reservado para estudantes dos níveis anteriores (US$ 3.824).
Disparidade similar afeta os salários docentes. Titulares de universidades federais dispõem de remuneração semelhante à de colegas de instituições escandinavas.
No ensino básico, o professor brasileiro ganha abaixo da média da OCDE, mesmo com o piso de R$ 2.135 que vários prefeitos e governadores reputam insustentável. Além disso, trabalha mais semanas por ano (42, contra 37 a 40 noutros países) e tem mais alunos (de 23 a 27, contra média de 21 a 23).
Essa enxurrada de números deixa claro que nosso sistema educacional é, antes de mais nada, ineficiente e iníquo. Despejar mais recursos, em particular em meio a restrições orçamentárias amargas, não se parece em nada com uma solução.
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