Paula Reverbel – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Em depoimento a investigadores, o ex-senador e delator Delcídio do Amaral afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou o espaço do PMDB no governo e na Petrobras para evitar pedido de indiciamento seu e de um de seus filhos na CPI dos Correios, que investigou o mensalão.
"Ou eu abraço o PMDB ou eu vou morrer", disse Delcídio para ilustrar o raciocínio que, segundo ele, foi feito por Lula eclosão do escândalo do mensalão. O depoimento foi prestado em 31 de agosto.
O ex-senador, que presidiu a CPI dos Correios, afirmou que o relatório que estava sendo elaborado propunha, entre outras coisas, o indiciamento do ex-presidente Lula e de um dos filhos dele. Delcídio diz acreditar que esse filho era Fábio Luís Lula da Silva –conhecido como Lulinha.
Teria havido, então, acordo que passou pelas lideranças dos partidos para que o pedido de indiciamento fosse retirado. Segundo o delator, os indícios, levantados especialmente pela oposição, eram suficientes para levar a um impeachment.
De acordo com o delator, o escândalo do mensalão foi um divisor de águas no governo do petista, que até então era "muito hermético", dando pouco espaço a partidos que não estavam com o PT desde antes de 2003.
"E daí o PMDB veio fortemente para o governo e estabeleceu tentáculos em toda a estrutura de governo, não foi só na Petrobras não", afirmou o ex-senador. "Assumiu o ministério de Minas e Energia, Eletrobras, o setor elétrico que, nos governos anteriores era feudo do PFL, o setor elétrico e de energia de modo geral passou a ser feudo do PMDB", acrescentou.
Delcídio diz ainda que foi escolhido para presidir a CPI dos Correios –que investigou o mensalão– porque era novato no Senado, não conhecia o regimento e poderia embaralhar as investigações.
PMDB da Câmara
Segundo Delcídio, o ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada, sucedeu Nestor Cerveró na área Internacional da estatal devido a pressão do PMDB da Câmara.
Cerveró era sustentado no cargo pelo PMDB do Senado e por Renan Calheiros. Com o funcionamento da CPI, diz Delcídio, a ala da do partido na Câmara exigiu participação na diretoria Internacional para votar de acordo com os interesses de Lula.
As indicações dessa parte da sigla era definidas pelo deputado Fernando Diniz (PMDB-MG), morto em 2009. Também participavam o atual Michel Temer e o deputado cassado Eduardo Cunha.
Outro lado
Procurado pela Folha, o advogado José Roberto Batochio, que atua na defesa de Lula, afirmou ser público e notório que o PMDB tinha a maior bancada no Congresso e que era preciso fazer uma aliança com o partido para governar.
"O motivo da aliança, da abertura de espaço ao PMDB no governo era só esse", disse. "Delcídio está inventanto mentiras para trocar pela liberdade", concluiu.
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