sábado, 17 de setembro de 2016

Comunicação ruim - João Domingos,

- O Estado de S. Paulo

Não é raro ouvir de deputados e senadores que fazem parte da base de apoio do presidente Michel Temer no Congresso a observação de que do chefe do Executivo aos ministros, a impressão que eles passam é a de deslumbramento com o poder.
Deslumbramento tão grande que estaria levando todos a bater cabeça, como numa disputa para ver quem é que aparece mais.

Pode ser. Pode não ser.

O fato é que se eles passam essa impressão, há um culpado de fácil identificação, que se chama comunicação de governo.

Trata-se de uma questão estratégica. Governo que não a resolve vê seus índices de popularidade rumo ao precipício. E índices ruins são fatais para a credibilidade de qualquer governo, além de arruinarem perspectivas de sucesso eleitoral futuro.

Temer vem fazendo seguidas reuniões com seus ministros mais próximos para tratar da comunicação, que é ruim. Quer um porta-voz ao seu lado. De preferência, o porta-voz deve ser do sexo feminino, para ver se melhora a imagem estranha que ficou da montagem de um governo só de marmanjos.

(Houve a troca de Osório Medina por Grace Fernandes, na AGU, mas a impressão que ficou do governo de Temer foi a daquela primeira fotografia, marcada pela presença de homens de terno escuro e sorridentes, quem sabe deslumbrados).

Construir uma boa comunicação de governo é difícil. É preciso sempre levar em conta que notícias positivas despertam desconfianças. As negativas são como praga, espalham-se rapidamente.

E não adianta destinar milhões e milhões de verbas de publicidade para tentar melhorar a imagem do governo se o próprio governo faz atos de sabotagem contra si mesmo, a partir de disputas internas, brigas, fofocas, declarações sem sentido de um ou mais ministros, como a do titular do Trabalho, Ronaldo Nogueira, segundo o qual estava-se pensando em flexibilizar a jornada diária de trabalho para até 12 horas.

Inundar os meios de comunicação com peças de propaganda sobre qualquer coisa nem sempre é a solução. Porque, se o tema não for bem escolhido, pode funcionar ao contrário. E, se parecer que é mentira, aí é que a suspeita de que há uma tentativa de burlar a vigilância do cidadão vai crescer.

Por exemplo: dizer que o País está gerando emprego só tem sentido se de fato estiver gerando muito emprego. A família de um desempregado jamais vai acreditar que a história contada num filmete publicitário é verdadeira.

Dizer que a administração está transformando a vida dos cidadãos ao levar água tratada e saneamento para todos cairá muito mal entre aqueles que vivem próximo a esgotos a céu aberto.

Nem Michel Temer nem seus ministros deram a atenção necessária à comunicação do governo logo que assumiram.

Rapidamente, e antes mesmo que o jogo tivesse começado, já estavam perdendo por uns 3 a 0. Reverter esse placar não é impossível, mas que será difícil, será.

Por isso mesmo, nas reuniões que Temer pretende fazer a partir da próxima semana para tratar da comunicação de governo, ele terá de ter muito cuidado. Não pode tomar uma decisão voluntariosa, querer mudar tudo de uma vez. Se conseguir mostrar para a população até dezembro que as medidas de controle de gastos são necessárias, já será um golzinho importante, um golzinho para tentar puxar outros, de forma que até o fim do mandato possa buscar o empate.

Para conseguir esse feito, porém, Temer precisa se lembrar de que não depende mais do impeachment. O que falar precisa valer. Se for contra aumento de salário, que isso fique esclarecido de vez. Idas e vindas, recuos de recuos passam a imagem de insegurança. Não tem comunicação que dê jeito.

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