Por Fernando Taquari – Valor Econômico
PORTO ALEGRE - Em cerca de dois meses o deputado federal Nelson Marchezan Jr. (PSDB) deixou de forma gradual a condição de azarão e se tornou o favorito na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre. Ao iniciar a campanha em quarto nas pesquisas, poucos apostavam que o tucano terminaria à frente no primeiro turno. Muito menos que teria uma vantagem confortável sobre o vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB) e sua coligação de 14 partidos nos levantamentos do segundo turno.
A eventual vitória de Marchezan encerraria um jejum do PSDB, que nunca governou a capital gaúcha, e consolidaria o crescimento do partido no Rio Grande do Sul, com a eleição recorde de 27 prefeitos no Estado. O número pode crescer se o deputado Jorge Pozzobom ganhar em Santa Maria. Nesse caso, saltaria de 10% para aproximadamente 25% o eleitorado gaúcho administrado pela sigla.
Com o apoio de movimentos que protestaram pelo impeachment de Dilma Rousseff, como o MBL, Marchezan construiu seu favoritismo com um discurso adaptado ao sentimento de descrença da população com os políticos Nos programas de TV, quando fala diretamente ao telespectador, costuma aparecer através de uma câmara em movimento que acompanha seus passos apressados pelas ruas de Porto Alegre. Com voz firme e postura assertiva, se apresenta como o "candidato da mudança".
Repete à exaustão a defesa da transparência na gestão e as críticas à "velha política". A cartilha é a mesma em entrevistas e reuniões com entidades de classe. Exitosa até aqui, a estratégia vai de encontro com sua trajetória. Advogado de formação, o tucano não é exatamente uma figura nova para o eleitorado porto-alegrense, já que aos 44 anos está em seu segundo mandato consecutivo como deputado federal. Entre 2007 e 2010, também foi deputado estadual.
A eleição de 2016 ainda marca a sua segunda tentativa de ser prefeito da capital gaúcha. Em 2008, ele concorreu ao cargo, mas obteve apenas 2,83% dos votos. Além disso, o tucano carrega a política no DNA, com nome e sobrenome bem conhecidos. Seu pai, Nelson Marchezan, foi um ex-deputado federal com passagens por Arena, PDS, PPR e PSDB antes de falecer, em 2002, aos 63 anos, vítima de uma parada cardíaca.
Além de explorar a imagem do "novo", o deputado tem se beneficiado da avaliação negativa do governo de José Fortunati (PDT). Segundo o Ibope, 55% dos eleitores desaprovam a atual gestão, da qual Melo, como vice-prefeito, faz parte. Na pesquisa, Marchezan aparece com 44% das intenções de voto e tem seus melhores desempenhos entre homens, jovens e eleitores com renda familiar acima de cinco salários mínimos.
Já Melo, que conta 33% das preferências, se sai melhor entre eleitores com 45 e 54 anos e com ensino fundamental, onde empata com o adversário. Nos últimos dias, o vice-prefeito tem feito um apelo aos que se abstiveram, votaram em branco ou anularam no primeiro turno e aos eleitores da ex-deputada Luciana Genro (Psol) e do ex-prefeito Raul Pont (PT), derrotados no início de outubro, para que compareçam às urnas, a despeito da decisão dos dois partidos de não declararem apoio a nenhum dos finalistas.
"Embora seja um direito do eleitor, não votar é sempre escolher o pior. A omissão pode comprometer o futuro da cidade", diz Melo, que aos 58 anos acumula três mandatos como vereador. Nesta reta final, ganhou o apoio do PCdoB em ato que contou com a presença de militantes ligados ao PT e ao Psol.
Durante a campanha, sobretudo no segundo turno, Melo tem procurado se apresentar como um "homem de diálogo" em uma tática que tem o objetivo de viabilizá-lo entre os eleitores de esquerda e fazer um contraponto a Marchezan, conhecido pelo "pávio-curto", conforme reconhecem seus aliados. Em outra frente, o pemedebista defende a atual administração e critica o que classifica de "promessas fáceis" do adversário.
A troca de farpas cresceu nas últimas semanas em um segundo turno que ganhou contornos policiais depois da morte do coordenador da campanha pemedebista, Plínio Zalewski, ainda sob investigação, e de um suposto ataque ao comitê de campanha de Marchezan. A Polícia Federal, porém, concluiu que não houve disparos e que os vidros do prédio quebraram devido a fortes ventos.
Apesar das críticas mútuas, as duas candidaturas têm propostas parecidas. Ambos prometem desburocratizar a prefeitura, utilizar a tecnologia em áreas como segurança e ampliar o horário de atendimento em postos de saúde. A paridade reflete em certo sentido a aliança entre PSDB e PMDB no Estado, principalmente na oposição ao governo petista de Tarso Genro (2010-2014).
Tucanos e pemedebistas também estiveram juntos nas últimas três administrações em Porto Alegre, embora o PSDB tenha saído da base recentemente. O PP, que ocupa a vice na chapa de Marchezan, segue com cargos na prefeitura.
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