Por Marli Olmos – Valor Econômico
FORTALEZA - Os dois finalistas da eleição para prefeito de Fortaleza pareciam satisfeitos ontem por ter conseguido na campanha para o segundo turno apoio mais explícito dos padrinhos políticos. O atual prefeito, Roberto Cláudio (PDT), favorito nas pesquisas, contou, entusiasmado, que o ex-ministro Ciro Gomes havia garantido presença no último comício antes da votação. O adversário, Capitão Wagner (PR) não gosta do termo "padrinho". Prefere referir-se ao senador Tasso Jereissati (PSDB) como "tradicional aliado". Ele diz que como tem só 37 anos para governar bem precisará "juntar a força da sua juventude com a dos mais experientes".
No fim do penúltimo debate antes da eleição, ontem à tarde, Wagner frisou que ter tradicionais caciques a seu lado - Tasso e o senador Eunício de Oliveira (PMDB) - não significa que vai permitir "ingerências". Já seu adversário, destacou, "foi tirado do bolso do paletó dos irmãos Ferreira Gomes [Cid e Ciro]. Cláudio não rebateu no mesmo nível. Nem precisa. São mais do que suficientes os ataques de Ciro Gomes, que em sua conta de Facebook chamou o adversário do afilhado político de "fascista".
A reta final da eleição municipal em Fortaleza marca a continuidade da disputa de duas forças da política local, segundo o cientista político Valmir Lopes, professor da Universidade Federal do Ceará. "De um lado, Roberto Cláudio representa a força que foi derrapada num plano nacional, mas com forte expectativa de poder da família Ferreira Gomes e que tem como projeto nacional conduzir Ciro à candidatura para presidente da Republica e Cid para a de senador", afirma o analista.
Do lado oposto, Tasso Jereissati e Eunício de Oliveira já estiveram em campos opostos no passado, mas uniram-se nas eleições de 2014. Segundo Lopes, embora Ciro não dependa exclusivamente da vitória de Cláudio para perseguir a trilha da eleição presidencial, em 2018, seria importante ter o controle da máquina da Prefeitura de Fortaleza". Tasso não dá sinais de novas pretensões na carreira política. Mas Eunício já trabalha com o foco voltado à disputa do governo estadual em 2018, diz Lopes.
Cláudio conta, ainda, com uma terceira força, do governador Camilo Santana (PT), que nessa campanha mostrou-se muito mais à vontade para apoiar o candidato do PDT do que a petista e ex-prefeita Luizianne Lins, em terceiro lugar no primeiro turno. Há quem diga que Santana estaria inclinado a deixar a legenda. Por outro lado, permanecer no PT pode ajudar a compor alianças em 2018.
Esse não é o único contraste da política cearense. Nessa eleição, prefeito e vice seguiram caminhos opostos. Cláudio tenta a reeleição e seu atual vice, Gaudêncio Lucena (PMDB), próximo de Eunício Oliveira, aliou-se à oposição e será de novo vice-prefeito de Fortaleza se Wagner vencer.
Quando a discussão entra em política nacional os dois candidato a prefeito da quinta maior capital do país evitam dar palpites. Ao ser perguntado pelo Valor se está disposto a seguir o exemplo do prefeito eleito de São Paulo João Doria, de pedir recursos ao presidente Michel Temer para manter a tarifa do transporte subsidiada, Cláudio, foi objetivo: "Primeiro deixa eu ganhar a eleição."
Pesquisas do início da semana indicam que ele será o vencedor. Outras duas serão divulgadas antes de domingo. Cláudio obteve 40,8% dos votos válidos no primeiro turno enquanto Wagner ficou com 31,1%. Na última sondagem, o atual prefeito tinha 45% e opositor 36%. Os analistas estimam que os 15% que a candidata petista obteve no primeiro turno serão divididos entre os dois. "A população mais assistida por programas sociais tende a optar por reeleger Cláudio enquanto os desassistidos podem preferir uma mudança", diz Lopes.
Aos 41 anos, Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra, que é médico, admite que a saúde é um dos maiores dramas do município. O ex-deputado estadual, que já passou por PSB e Pros antes de filiar-se ao PDT, diz que se reeleito continuará a buscar financiamento estrangeiro para sanar as deficiências.
Com a marca de o mais votado em eleições para vereador e deputado na carreira política, Wagner Souza Gomes manteve o foco da campanha na questão da segurança, outra aflição na cidade que lidera o ranking nacional em número de homicídios por habitantes. No debate, Wagner reiterou que vai armar os guardas municipais e até a colocar alguns à paisana em ônibus.
O nome político de "Capitão" é uma homenagem a antigo cargo na polícia militar. Mas isso já provocou confusão na eleição. No dia da votação do primeiro turno, a chapa da situação protestou contra a presença de eleitores vestindo camiseta do Capitão América, o herói de revistas em quadrinhos. O candidato da oposição achou uma injustiça. "Não havia meu nome na camiseta; sequer meu número", disse ao Valor. Capitão entrou na Justiça com pedido de liminar e foi atendido No domingo, qualquer fortalezense está autorizado a votar usando traje do capitão. Do América, que fique bem claro.
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