Por Marcos de Moura e Souza – Valor Econômico
BELO HORIZONTE - O bombardeio desencadeado pelo tucano João Leite contra o empresário Alexandre Kalil (PHS) na disputa do segundo turno pela prefeitura de Belo Horizonte (MG) mostrou efeito na pesquisa divulgada ontem pelo Ibope. O levantamento mostrou Kalil oscilando de 41% para 39% e Leite de 35% para 36%. A diferença caiu de cinco para três pontos percentuais.
Depois de quase 30 anos sem eleger prefeito em Belo Horizonte, o PSDB tinha um caminho que parecia livre para a vitória este ano. O deputado estadual tucano João Leite esteve desde o início da campanha em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. Mas perdeu a liderança para o empresário Alexandre Kalil (PHS) logo após o segundo turno, de acordo com os levantamentos. A estratégia agressiva gerou divergências na própria campanha tucana.
Kalil nunca havia disputado uma eleição. Se vencer, promete cortar, numa canetada, milhares de cargos e rever contratos municipais com grandes empresas. A Odebrecht, disse ele ao Valor, é uma das que estão em seu alvo. O mote de sua foi o de se apresentar como alguém que não tem os vícios dos políticos tradicionais.
Kalil já era muito conhecido dos mineiros. Sua fama vem do futebol. Foi presidente do Atlético Mineiro de 2008 a 2014. E seu dinheiro vem da construção civil. Ele é dono de empreiteiras com um histórico de contratos com a prefeitura de Belo Horizonte. Setenta por cento (R$ 2,2 milhões) dos recursos que abasteceram de sua campanha vieram do seu bolso.
Desde as primeiras pesquisas de intenção de voto, Kalil, de 57 anos, aparecia em segundo lugar, sempre atrás de João Leite, de 61 anos. O tucano também veio do futebol. Foi goleiro-ídolo do Atlético na juventude. Nenhum dos outros candidatos chegou nem perto deles nas pesquisas. O maior financiador de sua campanha foi o PSDB.
Leite tinha atrás de si a força do partido. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente da legenda, é belo-horizontino e sempre foi bem votado na cidade. O candidato formou uma aliança ampla, conseguiu o maior tempo de TV e começou fazendo uma campanha leve, quase sem ataques aos adversários e com uma série de propostas.
Kalil (com PHS e Rede ao seu lado) dispunha de pouco mais de 20 segundos e agradou boa parte do eleitorado desqualificando no atacado a classe política. Seu slogan não podia ser mais explícito: "Chega de político".
Para os tucanos, ganhar em Belo Horizonte é chave para o partido disputar o governo de Minas em 2018. E também para o presidenciável Aécio mostrar alguma força em casa. Mas talvez porque a tarefa de Leite parecesse muito fácil, Aécio praticamente não participou da campanha.
Então veio o segundo turno. Leite passou em primeiro, mas Kalil teve mais votos do que os tucanos esperavam. Na semana passada, o Ibope mostrou pela primeira vez uma virada do ex-cartola.
Em entrevista ao Valor, o candidato do PHS disse que cargos de primeiro e segundo escalão não serão preenchidos com base em indicações políticas. O candidato fala em cerca de 4 mil funcionários, que são comissionados e que, segundo diz, é um grupo dos "penduricalhos dos políticos". "Isso é rua, isso é na caneta. Isso é cargo comissionado de indicação do prefeito", disse ele.
Outra mudança tem a ver com um projeto da atual prefeito, Marcio Lacerda (PSB): escolas construídas e administradas pela Odebrecht por um contrato de PPP. A empreiteira é responsável por toda a estrutura e manutenção das unidades (menos pela educação).
"Vamos passar um rastilho. Vamos ver tudo. Tem boas empresas. Mas eu sei que as PPPs da Odebrecht vão ter de sair, vamos ao Ministério Público e ver como é que se faz isso.", disse Kalil. "São contratos lesivos. Se fossem contratos bons, saúde e educação não estariam na crise que estão. Se tivesse tudo a mil maravilhas ninguém ia mexer." A PPP rendeu 46 escolas infantis e 5 do ensino fundamental, nas quais estudam 24 mil alunos.
Kalil também ameaça rever uma PPP com um consórcio integrado pela Andrade Gutierrez que gere um hospital. "Nós temos que tirar o dinheiro da Andrade Gutierrez, da Odebrecht, os sócios do PSDB", disse à rádio CBN. O dinheiro, afirmou, iria para quem precisa mais de ajuda. Ao Valor, as empresas disseram que não comentariam.
Mudanças também previstas na relação com empresas de ônibus. Kalil diz que elas deixarão de dar as cartas na empresa municipal de transportes e terão de passar a oferecer veículos de melhor qualidade. Sobre a relação com os vereadores, diz que eles serão mais ouvidos em suas propostas.
O Valor pediu uma entrevista com Leite, mas sua assessoria disse que, em função da agenda, ele não poderia atender a reportagem.
Aécio apareceu ontem pela primeira vez no segundo turno na propaganda tucana. "Nossos adversários fizeram uma campanha contra a política, com isso fizeram a defesa da má política.", disse Aécio, afirmando que a democracia precisa da "boa política". E que foi esta que "afastou pela via constitucional um governo corrupto e incompetente que se transformo em símbolo da má política."
Desde a semana passada, Leite vem apostando fortemente em fazer propaganda negativa de Kalil - uma estratégia que enfrentava resistência de parte de seus conselheiros. Bateu numa dívida de IPTU que há anos o adversário tem com a prefeitura e nas dívidas previdenciárias que ele tem com ex-funcionários.
Casos que estão na Justiça, que já lhe rendeu uma condenação em primeira instância. "Isso foi um problema que eu tive na hora. No momento. Empresário tem momento. No momento eu não pude pagar", disse Kalil ao Valor, afirmando que as ações que pesam contra ele tem R$ 48 milhões em garantia.
Frases controversas de Kalil dos últimos anos sobre religião, mulher e roubar no futebol inundam o horário tucano. Uma delas, num debate de dias atrás, viralizou. Kalil diz "eu roubo, mas não peço propina". Depois, se corrigiu afirmando que queria dizer 'eu devo".
Entre 18% a 20% dos eleitores estão desencantados e dizem que vão votar em branco ou anular o voto no domingo.
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