Folha de S. Paulo
Desde quarta (9), sobram teorias para decifrar a vitória de Donald Trump, classificada de "surpreendente" pela mídia e por especialistas em eleições dos EUA.
Para o professor de ciências sociais Thomas Roulet, do King's College de Londres, a surpresa decorre do fenômeno da "espiral do silêncio".
Em artigo publicado no britânico "The Telegraph" cinco dias antes das eleições americanas, ele alertara que, apesar das previsões a favor de Hillary Clinton, a ideia de que ela teria a maioria poderia ser falsa.
A tese da espiral foi apresentada em meados dos anos 70 pela cientista política alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Basicamente, seu trabalho apontou a tendência de um grupo em optar pelo silêncio sobre determinado tema por acreditar que tem opinião polêmica e oposta à da maioria e de grande parte da mídia.
A espiral então força essa parcela da população a não se manifestar por temer isolamento em razão de uma posição, em tese, controversa.
Conversei com o professor Roulet após a eleição de Trump. Ele destaca que a "espiral do silêncio" também deve ter influenciado o Brexit, quando os britânicos derrubaram prognósticos ao votar pelo fim da aliança com os vizinhos da União Europeia.
"Esse silêncio majoritário não está no radar porque representa uma voz controversa. Quando há apenas duas opções, como no plebiscito britânico e na eleição americana, é difícil apurar com precisão sua presença", diz.
Segundo ele, os partidários de Trump, do Brexit e de outras posições supostamente impopulares são demonizados e apresentados como uma minoria. "E eles acreditam que são mesmo", explica o pesquisador.
"Isso faz com que provavelmente expressem menos suas opiniões, inclusive para os institutos de pesquisa", afirma. Os eleitores de Trump ficaram "invisíveis" ao mesmo tempo em que os simpatizantes de Hillary tinham voz. "Mas o apoio a Trump era muito mais amplo do que o esperado", conclui o professor.
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