A crise política que eclodiu com a delação da JBS pode pôr a perder os primeiros sinais de recuperação do mercado de trabalho, caso coloque a economia em ponto morto, como tudo indica, ou até em marcha a ré. Os primeiros indicadores positivos no emprego em três anos foram capturados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, que registrou em abril a criação de 59,8 mil postos. O resultado ficou abaixo do que alguns especialistas esperavam, mas foi o melhor para o mês desde 2014. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), por exemplo, projetava criação de 80 mil vagas em abril.
A recuperação foi mais significativa nos setores de serviços e na agricultura, que puxaram a alta no mês, mas também foi sentida na indústria e no comércio. Nos serviços, foram criadas 24,7 mil vagas, um terço nas áreas médica, odontológica e veterinária. A queda da inflação e dos juros abriram espaço para o aumento da demanda das famílias por serviços. A agricultura também teve bom desempenho, com saldo positivo de 14.648; seguida pela indústria de transformação, que abriu 13.689 vagas, sobretudo nos subsetores de fabricação de produtos farmacêuticos e alimentos e bebidas. Já o comércio, principalmente varejista, respondeu por 5.327 novas contratações. O único setor que demitiu foi a construção civil, que fechou 1.760 postos. Dos 26 subsetores acompanhados pelo Caged, 15 aumentaram as contratações no primeiro quadrimestre, mais do que os sete de igual período de 2016, indicando que o emprego começou a se disseminar.
Os novos postos criados se concentraram no Sudeste, com 46 mil vagas, com destaque para São Paulo, especialmente o interior do Estado, em parte pelo ciclo da cana-de-açúcar. No Centro-Oeste, surgiram 10,5 mil vagas; e, no Sul, 5,5 mil. Já o Norte e Nordeste perderam pouco mais 1 mil vagas cada, devido à menor presença da agropecuária e à baixa produtividade. Abril foi o segundo mês positivo em criação de vagas no ano, depois de fevereiro, quando a oferta de 35,6 mil novos postos interrompeu uma sequência de 22 meses de dados negativos. No acumulado do ano, o resultado ainda está negativo em quase 1 mil vagas; e, em 12 meses, em 969,9 mil.
O retrato do mercado de trabalho pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua), elaborada pelo IBGE, ainda é negativo. O desemprego fechou o primeiro trimestre em 13,7%, novo recorde histórico, com um contingente de 14,2 milhões de pessoas sem emprego, 1,834 milhão a mais do que no fim de 2016. Entre os jovens na faixa entre 18 a 24 anos, quase 30% procuraram uma vaga de trabalho no primeiro trimestre, após estabilidade no final do ano passado.
Outro indicador que reflete o impacto negativo da recessão no mercado de trabalho é a taxa de subutilização, que leva em conta o número de pessoas que trabalham menos de 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais (5,3 milhões de pessoas) e daqueles que gostariam de trabalhar, mas não procuraram emprego ou não estavam disponíveis para trabalhar no momento em que foi feito o levantamento. Esse grupo envolve nada menos do que 12,3 milhões de pessoas. Somadas aos desempregados, totalizam 26,5 milhões de pessoas, o que significa uma taxa de subutilização de 24,1% no primeiro trimestre deste ano. Há um ano, esse número era de 19,3%.
Mas acreditava-se que a supersafra deste ano mudasse o quadro nos próximos meses, com o aumento das contratações no campo e na cadeia relacionada como transporte e comércio exterior de grãos, ajudada pela recuperação da indústria. A previsão era de recuperação no segundo semestre, quando o mercado de trabalho costuma se aquecer, e que o ano fechasse com números melhores do que os de 2016, quando mais de 1 milhão de vagas foram fechadas.
A recuperação do mercado de trabalho era uma das notícias mais esperadas após três anos de recessão e dava indicações de que caminhava para um resultado positivo até fim do ano, expectativa sustentada por outros indicadores positivos como o aumento de 1,12% no primeiro trimestre do IBC-Br, índice do Banco Central considerado uma estimativa do Produto Interno Bruto (PIB). Mas a crise política colocou essa possibilidade em dúvida diante do impacto da turbulência política. Em cenário de incertezas, as empresas evitam investir e contratar.
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