Procurador da força-tarefa da Lava Jato avalia que eventual saída do peemedebista, por renúncia, impedimento ou cassação, 'não mudaria em quase nada os rumos da investigação'
Daniel Weterman | O Estado de S. Paulo
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), afirmou nesta terça-feira que uma eventual saída do presidente Michel Temer (PMDB) da Presidente, por renúncia, impedimento ou cassação, não mudaria em “quase nada” os rumos da Operação Lava Jato.
Ao dar uma entrevista durante o lançamento de seu livro A Luta Contra a Corrupção, na capital paulista, Dallagnol afirmou que mudança de governo não significa fim da corrupção e que outros investigados assumiriam o poder na eventual queda do peemedebista. “Mudança de governo, atualmente, não é nenhum caminho andado contra a corrupção. Se cair Temer, vão assumir outras pessoas que estão sendo investigadas por corrupção”, disse.
Ele afirmou que o MPF não se manifestará sobre o impeachment de Michel Temer, assim como não emitiu opinião sobre o impedimento de Dilma Rousseff (PT) no ano passado. Em declarações anteriores, Dallagnol já afirmou que o impeachment da petista não estancou a prática de crimes investigados na Operação.
O procurador disse ainda que o foco da Lava Jato é combater a corrupção contra todos os políticos que a praticam, “seja o presidente” ou quem for.
O investigador prega ainda uma “grande renovação” no Congresso brasileiro em 2018. O procurador defendeu que a sociedade escolha, nas próximas eleições, políticos que não sejam investigados ou denunciados por crimes de corrupção e que apoiem o fim do foro privilegiado. Ele ainda comentou a tendência de “outsiders” se apresentarem para governar o País. Como candidatos, o chefe da Lava Jato no MPF disse que empresários, cientistas e professores precisam concorrer no pleito .”Nós precisamos que seja da política, agora, precisamos de política renovada, pessoas de bem que não entrariam na política se não para o bem da sociedade”, declarou.
JBS. Deltan Dallagnol também defendeu o acordo de delação premiada com os executivos da JBS. O procurador admitiu que há uma indignação com os benefícios concedidos aos irmãos Joesley e Wesley Batista, mas que não iria avaliar o mérito do acordo com a JBS porque não participou das negociações. O procurador disse, entretanto, que é preciso esclarecer alguns “equívocos” com os termos da delação.
Ele rechaçou a tese de que as investigações atrapalham a economia e deveriam prezar pela estabilidade econômica. Para ele, se não houver investigações, o Brasil entraria em uma falsa estabilidade. “Imagina que o governo atual tivesse se consolidado, e o acordo com a JBS não tivesse sido feito e os fatos não viessem à tona. Todo mundo ia ficar com a sensação de estabilidade, mas ela seria ilusória”, afirmou.
O procurador disse que os irmãos Joesley e Wesley Batista tinham alternativas para não assinar o acordo, porque possuem influência e poderiam agir para serem absolvidos em eventuais julgamentos. Já para a Procuradoria-Geral da República, afirmou, a alternativa era não ter um acordo e não investigar os fatos que vieram à tona com os depoimentos e provas colhidas. “A alternativa dele (de Rodrigo Janot, procurador-geral) era não ter um acordo, não ter todas aquelas informações e provas. Ele conseguiria aquelas gravações, provas, com outras pessoas? Alguma outra pessoa em potencial negociação de colaboração poderia fazer isso? Não que eu saiba”, declarou.
Deltan Dallagnol afirmou que a delação da JBS mostra que há “evidências” de que o presidente Michel Temer (PMDB) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) praticaram crimes, “em menor ou maior grau”. Ele afirmou ainda que os fatos narrados pelos empresários da JBS surpreenderam a força-tarefa da Lava Jato por mostrarem que crimes continuaram a ser praticados mesmo depois de três anos do início das investigações. “Todo mundo sabe que tem delator. Os caras continuaram praticando crimes escudados pela imunidade da alta posição política que têm e escudados no foro privilegiado”, disse.
Sem citar Aécio Neves, o procurador disse que os áudios revelados pela delação dos Batista mostrou que políticos estavam usando coisas boas, como as 10 medidas contra a corrupção, para aprovar a anistia ao caixa 2 e a lei do abuso de autoridade. Nos áudios, Aécio declara que estava articulando para aprovar as propostas e que isso poderia ser feito através do projeto das 10 medidas, proposto pelo MPF no Congresso Nacional.
Maluf e Lula. O procurador comentou em tom de brincadeira a decisão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) pela condenação do deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) a sete anos e nove meses de prisão. Reforçando que Maluf ainda tem instrumentos para recorrer da decisão, Dallagnol sinalizou que espera efetivamente a prisão do político. “Vou ter que pagar algumas apostas. Sempre apostei que ele jamais seria preso no Brasil”, declarou.
Ao ser perguntado sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), réu em processos da Lava Jato, o procurador evitou opinar sobre uma eventual condenação ou prisão, mas disse que, assim como todo mundo, espera que todos os corruptos estejam na cadeia.
O procurador lembrou que Lula ficaria impedido de competir nas próximas eleições presidenciais se fosse condenado em segunda instância, conforme a Lei da Ficha Limpa. Dallagnol disse que, pelo acompanhamento que faz dos processos no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, a segunda instância que pode revisar uma decisão do juiz Sérgio Moro sobre Lula, as apelações levam cerca de 6 meses para serem julgadas e entre “um ano e um ano e pouco” para terem o trâmite encerrado após os recursos no próprio Tribunal. “É o tribunal mais rápido que eu conheço”, disse.
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