quarta-feira, 24 de maio de 2017

Tentativas do acordão da renúncia | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Ninguém relevante no PSDB trabalha com a hipótese de permanência de Michel Temer.

Isso não significa que os tucanos trabalhem para derrubar o presidente, mas a fim de fazer o acordão da renúncia.

Quer dizer que o PSDB se tornou um pivô em torno do qual se articulam negociações com o governo, com outros partidos, com o Judiciário e com donos do dinheiro mais opinionados politicamente.

No conjunto, o plano não parece ser diferente daquele que transparecia na sexta-feira (19). Isto é, tentar arrumar algum salvo-conduto para Temer e ministros à beira da perda de foro privilegiado, tocar o Congresso, as reformas e reduzir danos à economia.

Consideram o caso de Temer difícil não só pelo que se sabe do inquérito detonado por Joesley Batista mas porque dizem ter indícios de que investigações vão atingir mais gente ligada ao presidente, ontem e hoje.

A estratégia cantada pelos tucanos parece tanto óbvia como de sucesso difícil. Como fazer o acordo para eleger o presidente-tampão e, ao mesmo tempo, ter maioria para reformas e dar salvos-condutos aos ameaçados de cadeia?

Cada facção tem seu candidato a presidente indireto, claro, como legiões lançavam seus generais ao posto de imperador em dias de tumulto selvagem no Império Romano.

No Império Banana em que mais e mais nos degradamos, se passa algo assim.

A conversa organizada do acordo ainda é pouca, há muita desconfiança. Lançam-se nomes que jamais foram seriamente cogitados antes como presidenciáveis e que não tenham muita chance em 2018.

O PSDB tenta o senador Tasso Jereissati, nome que agrada aos donos do dinheiro, ainda mais depois do boato de que a "chapa" tucana teria Armínio Fraga no Ministério da Fazenda.

No fim da manhã desta terça-feira (23), tal rumor corria animadamente entre o "PFL", o "Partido da Faria Lima", um apelido sarcástico da finança paulistana, baseado no nome da avenida que é um dos centros financeiros da cidade.

Vários partidos, tucanos inclusive, ainda falam de Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo, ex-ministro de FHC e Lula, ex-deputado.

Há pouca ênfase em FHC, estranho.

Parte do DEM e falanges do baixo clero tentam o nome de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, vetado por muito tucano.

Temer não tem recebido apoio de ninguém no mundo exterior à cripta do Planalto, mas pouca gente na elite se aventura a dá-lo como decapitado ou a pedir o cadafalso.

Associações empresariais que se manifestam em público pedem o óbvio básico: tanto faz o governo, o programa de "reformas" tem de ser mantido. No fundo, porém, continua a revolta quase muda contra a irrupção deste tumulto que vai fazer algum ou muito estrago em uma economia já arruinada.

Há uns tiros nesse concerto, variantes dessa tentativa de acordão político com salvo-conduto para lavados a jato e outros caídos, tal como a pregada por Renan Calheiros, que desde o início do ano fazia campanha contra Temer.

O senador sugere renúncia, indiretas, Constituinte e adiamento de reformas. Calheiros pode ser minoritário, mas não fala sozinho.

Em suma, o PSDB toureia o PMDB e vice-versa. O governismo escandaloso e Maia tentam preservar Temer.

Todos sabem que não podem demorar, sob risco de "a rua" despertar. Mas a coisa está enrolada.

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