- O Estado de S.Paulo
Percebendo a manobra, comandantes militares invocaram os ditames constitucionais
Na carta de despedida de sua breve passagem pelo Ministério da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) disse ter conhecimento de que o presidente Michel Temer sofreu pressão de “trôpegos estrategistas” para que fosse substituído pelo jurista e ex-ministro do TSE Torquato Jardim.
Logo, logo, o mundo político começou a especular quem seriam os tais “trôpegos estrategistas”. A expressão aqui foi usada por Serraglio para se referir a trapalhões, oportunistas, puxa-sacos, e não na definição do dicionário Houaiss, aqueles que andam com dificuldade, que mal conseguem mover os membros ou locomover-se.
Quais seriam então os trôpegos estrategistas de Temer apontados por Serraglio?
Levando-se em conta as inúmeras iniciativas tomadas pela equipe de Temer para buscar uma saída para a crise que se abateu sobre o governo, fica até difícil pinçar um ou dois deles entre tantos que poderiam vestir a carapuça.
Mais fácil é verificar o resultado das iniciativas e contabilizá-las na conta dos “trôpegos estrategistas”. A campeã de todas foi a que quis atribuir aos comandantes militares uma reunião na qual eles teriam feito até um documento de apoio à permanência de Michel Temer na cadeira de presidente. Nada disso ocorreu. Percebendo a manobra, os comandantes emitiram notas de esclarecimento segundo as quais, na reunião com Temer, tratou-se da atual conjuntura, quando eles destacaram “a estrita observância das Forças Armadas aos ditames constitucionais”.
A vice-campeã das ideias atrapalhadas talvez seja a que levou Temer a conceder uma entrevista à Folha de S.Paulo, no domingo, dia 21 de maio, sem que tal iniciativa tivesse passado pelo setor de comunicação do governo. Sem media training, sem assessoria, sem nada, mas levando-se em conta apenas que a publicação é de São Paulo e não estaria interessada na derrubada do presidente, o resultado de tal entrevista foi um desastre absoluto, com respostas contraditórias, principalmente em relação ao encontro com o empresário Joesley Batista. No dia seguinte, no Congresso, líderes de partidos aliados de Temer diziam que se tais declarações prosseguissem eles não teriam como controlar os liderados.
Destaque-se que os “trôpegos estrategistas” existem em todos os governos e não só no de Michel Temer. Ainda no governo de Dilma Rousseff, e com a Operação Lava Jato nos calcanhares do ex-presidente Lula, o senador Jorge Viana (PT-AC) procurou a defesa do petista para fazer uma sugestão que, na visão dele, poderia mudar as coisas e, quem sabe, a História.
Ao advogado Roberto Teixeira, compadre e advogado de Lula, Viana sugeriu que o ex-presidente convocasse os meios de comunicação e, na coletiva, desse um jeito de desacatar o juiz Sérgio Moro e os procuradores da força-tarefa da Lava Jato. Tal ação, justificou o senador, levaria Moro a prender Lula por crime de desacato a autoridade, o que poderia provocar uma comoção nacional e uma mobilização em favor do ex-presidente. “O presidente Lula precisa transformar esse confronto numa ação política”, disse Viana, segundo conversas gravadas pela Lava Jato. Roberto Teixeira não acatou a ideia.
O PSDB também teve seu “trôpego estrategista”. De acordo com uma das conversas entre o senador suspenso Aécio Neves e o empresário Joesley Batista, a ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer foi feita só para “encher o saco” dos vencedores da eleição presidencial de 2014. “Lembra depois da eleição? Os filhas da p... sacanearam tanto a gente, vamos entrar com um negócio aí para encher o saco deles também”, contou Aécio. Para piorar, Aécio revelou a Joesley que Temer pediu ao PSDB que recuasse e retirasse a denúncia depois do impeachment.
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