Por Andrea Jubé, Marcelo Ribeiro e Bruno Peres | Valor Econômico
BRASÍLIA - A dois dias da votação da segunda denúncia proposta pela Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer reuniu os líderes governistas na Câmara em um jantar no Palácio da Alvorada e hoje fará um périplo noturno para reforçar a articulação contra a ação penal.
Na reta final das negociações, a contabilidade do Planalto tem expectativa de ampliar a margem de votos em relação à primeira denúncia em pelo menos 20 adesões. Contudo, um auxiliar presidencial reconhece a possibilidade de que esse número seja reduzido. Na análise da primeira acusação, foram 263 votos contra o processo.
Em meio à polêmica sobre a portaria do trabalho escravo, ele também fez gestos à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao entregar-lhe a comenda da Ordem do Mérito Aeronáutico em solenidade pelo Dia do Aviador na Base Aérea.
Embora a denúncia seja assinada pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot, Dodge representa a instituição responsável pela acusação. As relações entre Temer e Dodge ficaram estremecidas nos últimos dias após a publicação da portaria do Ministério do Trabalho que limita o conceito de trabalho escravo à restrição da liberdade do empregado.
Raquel Dodge reivindicou a revogação da norma, o que o governo negou. Mas no último sábado, em Miranda (MS), Temer declarou ao Valor que a portaria deve ser alterada quanto à conceituação do trabalho escravo e deve ser criada uma delegacia especializada.
Temer definiu que, após essa votação, o governo será intolerante com traições. Na vez anterior, houve gestões para reaproximar deputados que votaram contra Temer do Planalto, mas auxiliares do presidente alertam que esses movimentos não se repetirão desta vez.
Ao Valor, um auxiliar de Temer afirmou que a palavra de ordem é passar a tratar como oposição aqueles que não votarem com o governo nesta quarta-feira. A maior preocupação com perda de apoio mira as bancadas do PSDB, PSD e PRB.
Ontem, Temer foi o anfitrião de um jantar oferecido no Palácio da Alvorada aos líderes das bancadas que dão sustentação ao governo. Hoje, Temer deve comparecer a outro evento gastronômico, agora na casa do vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), tradicional ponto de encontro de parlamentares de vários partidos.
No Alvorada, ao lado dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Moreira Franco (Secretaria Geral da Presidência) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Temer contabilizou votos com os líderes e reiterou o apelo para que angariem o maior número de apoios junto aos seus liderados. Além de Temer, são réus na acusação os ministros Padilha e Moreira Franco.
Opositor declarado do governo, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), disse que não foi convidado para o evento no Alvorada. "Normal que não me convidem, já que sabem da minha posição contrária ao governo", avaliou. "Vão fazer contabilidade porque estão preocupados com o placar. É um preço caro para o parlamentar votar com o governo em um ano pré-eleitoral", concluiu.
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