- O Globo
A candidatura Rodrigo Maia procura deixar o DEM com algum protagonismo no processo. Na hora certa, servirá para negociar a vice (de Alckmin) para o partido
Excitações eleitorais fora de época podem ser comparadas à gravidez psicológica em gatas, que imaginam amamentar bichinhos de pelúcia. A imagem é de conversa com Antônio Carlos Magalhães, que morto está e não pode contestá-la.
O impeachment de uma presidente da República e duas requisições para processar o sucessor, deixando de barato a destituição de um e a prisão de dois ex-presidentes da Câmara dos Deputados, são motes ausentes dos sermões de finórios travestidos de guardiões da moralidade, já que muitos deles, omissos em todas as ocasiões, são da corriola de cúmplices ou laranjas de investigados nos fatos lancetados pela Lava-Jato e outras operações assemelhadas, especialmente as relacionadas à lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.
Os altos e baixos da campanha presidencial americana e o voluntarismo de Trump não parecem interromper por lá o crescimento da economia, assim como aqui o mercado já se descolou, há tempo, das alegorias típicas do recesso parlamentar, nascidas de um sanatório para se confundir com o quadro assim posto pela realidade:
1 — A candidatura Meirelles lembra Tancredo Neves: a política ilude mais do que o amor. Só de corpo presente é levada a sério.
2 — A candidatura Rodrigo Maia procura deixar o DEM com algum protagonismo no processo. Na hora certa, servirá para negociar a vice (de Alckmin) para o partido. Ele mesmo é candidato a deputado e à presidência da Câmara.
3 — Marina, Alckmin e Bolsonaro são candidatos consolidados.
4 — Ciro Gomes: candidato e bom debatedor, faz caça de espera. Instala-se no galho de uma árvore esperando a presa beber água e dá o bote. Pode ser qualquer presa. O problema é que, na falta de alguma, ele ataca a si próprio.
5 — Joaquim Barbosa é uma força à espera de um bom partido. 6 — Enfim, o fator Lula: a) A condenação aos 24 de janeiro será associada ao 24 de agosto do suicídio induzido de Getulio Vargas e servirá para campanhas do PT;
b) Contas de prazos em recursos podem levar, em tese, ao registro da candidatura. Acontece que esse cálculo também é feito no Judiciário, para evitar a enorme crise do trânsito em julgado da condenação ser posterior à eleição de Lula presidente. Não acontecerá.
c) Porém, Lula esticará a corda ao extremo, lançando-se candidato com um vice escolhido para substituí-lo quando chegar a hora da impugnação fatal. Josué Alencar concilia a boa sinalização para as classes produtoras com a atuação política em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. Nome forte, ao lado de Jaques Wagner, duas vezes governador da Bahia, que elegeu o sucessor e está fora do radar da Lava-Jato.
d) Se absolvido, Lula será candidato e estará no segundo turno.
7 — Ultrapassado o julgamento de Lula e analisados os efeitos do resultado, o PPS de Roberto Freire realizará um congresso de aspecto amplo, em março, na tentativa de articular forças do centro democrático, e poderá até tirar da sigla a palavra socialista. Está de olho em atrair Luciano Huck, pouco importando as resistências do próprio. A impressão é que Huck não desidrata Alckmin, mas sim candidaturas populares. Joaquim Barbosa, com outro perfil, também está no cardápio.
Fora daí, é gastar o tempo com as fake news do Trump e daqui, todas candidatas ao museu de grandes novidades do Cazuza.
Na falta de mãe Dinah, que incluiria a candidatura de Sergio Moro, aí está a antecipação do cenário eleitoral. Se assim não for, culparemos as anomalias nos anéis de Saturno.
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Miro Teixeira é deputado federal (Rede-RJ)
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