Ex-procurador-geral foi ouvido por agentes na condição de testemunha
Vinicius Sassine, Bela Megale / O Globo
-BRASÍLIA- O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot prestou depoimento à Polícia Federal (PF) ontem em inquérito que investiga supostas irregularidades nas delações premiadas de executivos da JBS. Janot foi ouvido em seu gabinete na Procuradoria-Geral da República (PGR), segundo fontes ouvidas pela reportagem. Ele confirmou ao GLOBO que falou na condição de testemunha, mas não informou detalhes sobre o conteúdo do seu depoimento.
— O inquérito não investiga ninguém com prerrogativa de foro, corre na PRDF (Procuradoria da República no Distrito Federal) e eu fui ouvido na condição de testemunha — afirmou Rodrigo Janot.
O inquérito da PF investiga a participação do ex-procurador da República Marcello Miller na colaboração premiada dos executivos da JBS. Miller atuou no grupo de trabalho da LavaJato montado na gestão de Janot. Quando já tinha deixado o grupo e ainda na condição formal de procurador, Miller prestou serviços aos candidatos a delatores.
A participação Marcello Miller e omissões nas delações dos executivos levaram o então procurador-geral da República a pedir a rescisão da colaboração homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pouco antes de deixar o cargo. O pedido de Janot já foi corroborado pela procuradora-geral, Raquel Dodge, para quem a palavra final, agora, é do próprio Supremo.
Janot decidiu anular os benefícios concedidos ao empresário Joesley Batista e ao executivo Ricardo Saud e pediu a prisão deles em setembro. O ministro do STF Edson Fachin, relator do caso, acatou a solicitação e e determinou a prisão de ambos, mas negou o pedido de detenção para Marcello Miller.
As prisões foram autorizadas em função das suspeitas de que os executivos, beneficiados pela delação premiada, teriam manipulado informações compartilhadas com os investigadores, o que contraria uma das cláusulas do acordo.
DEPOIMENTO FOI ADIADO
Segundo o pedido inicial da PF, o depoimento de Rodrigo Janot deveria ocorrer no último dia 12, às 15h, na sede da Polícia Federal em Brasília. O ex-procurador-geral informou que não poderia comparecer na data solicitada pelo órgão de investigação.
Ele alegou que integrantes do Ministério Público Federal (MPF) têm o direito de indicar data, hora e local em que podem participar de um depoimento e explicou que tem uma viagem agendada para a Colômbia, entre os dias 17 de janeiro e 8 de fevereiro.
Janot concordou, então, em prestar o depoimento em seu gabinete, conforme fontes ouvidas pela reportagem.
Um pedido de abertura do inquérito foi feito em setembro do ano passado pela presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, após o então procurador-geral citar a existência de gravação com conteúdo “gravíssimo” que poderiam revelar, inclusive, o envolvimento de integrantes do STF.
O delegado responsável pelo caso elaborou relatório parcial afirmando que não foram encontrados indícios que mostrem o envolvimento de ministros do Supremo em irregularidades praticadas durante a negociação da colaboração dos integrantes do grupo J&F. Também apontou que não cabe à Polícia Federal investigar membros da Corte nessa ação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário