Só a irresponsabilidade política impedirá um crescimento econômico próximo de 3% neste ano, a julgar pelos números acumulados até novembro, indicativos de uma firme recuperação. É cedo para dizer como será a campanha eleitoral e como evoluirá o jogo do poder em 2018, mas, por enquanto, os economistas do mercado apostam em negócios mais vigorosos nos próximos meses. Os últimos dados oficiais dão suporte a essa expectativa. Com avanço de 0,49% de outubro para novembro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) atingiu o nível mais alto desde outubro de 2015, na série com ajuste sazonal. Divulgado mensalmente, o IBC-Br é usado como prévia do cálculo oficial do Produto Interno Bruto (PIB), publicado a cada três meses. Os dados do último trimestre de 2017 e o balanço do ano devem sair em 1.º de março.
A nova prévia do PIB foi apresentada ontem pelo BC, dois dias úteis depois do anúncio de mais um rebaixamento da nota de crédito do País pela Standard & Poor’s (S&P). Pouco afetado de imediato pela redução da nota brasileira, o mercado recebeu bem o novo IBC-Br. O indicador foi apontado por analistas como tranquilizante – uma confirmação da tendência de recuperação observada a partir do início do ano.
O impulso de recuperação é mais visível quando os números publicados pelo BC são comparados com os do ano anterior. O índice de novembro é 2,85% superior ao de um ano antes na série com desconto de fatores sazonais. Na série sem ajuste a diferença é pouco menor, 2,82%, mas igualmente significativa. O crescimento acumulado entre janeiro e novembro ficou em 1,06% na primeira série e em 0,97% na outra. Em 12 meses, os valores acumulados ficaram em 0,73%, com ajuste, e em 0,68% na sequência de valores apenas observados.
A consolidação do crescimento é mostrada também quando se consideram os dados trimestrais. O nível médio de atividade no trimestre móvel encerrado em novembro foi 0,59% maior que o dos três meses até agosto. A comparação entre os trimestres de junho a agosto e de abril a junho mostrou avanço de 0,55%.
Esses números fortalecem a estimativa, corrente no mercado no fim do ano, de um crescimento em torno de 1% em 2017. Dados setoriais divulgados nas últimas semanas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) têm permitido compor um quadro geral de recuperação.
Esse conjunto inclui aumento da produção industrial de 0,2% em novembro e de 2,3% no confronto dos números de janeiro a novembro com os de um ano antes. No caso do comércio, a comparação dos números de 11 meses com igual período de 2016 aponta expansão de 1,9% no volume vendido no varejo restrito e de 3,7% no do varejo ampliado (com a inclusão de veículos, suas partes e material de construção).
A redução do desemprego e a inflação baixa têm contribuído para a realimentação do ciclo de reativação. Além disso, várias fontes têm apontado sinais de retomada do investimento produtivo. A demanda de máquinas e equipamentos tem crescido e, a partir de uma base muito baixa, o indicador de formação bruta de capital fixo deve, segundo vários analistas, crescer neste ano.
Indicadores antecedentes – informações usadas para identificação de tendência – mostram a consolidação do crescimento no Brasil, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O crescimento brasileiro está se firmando, de acordo com o relatório, também otimista quanto a tendências das principais economias e blocos de todo o mundo.
No Brasil, a mediana das projeções aponta para este ano expansão de 2,70% do PIB, segundo a pesquisa Focus publicada ontem pelo Banco Central. Para 2019, início do novo governo, a estimativa é pouco maior, 2,80%. São números ainda modestos, diante dos previstos para outros países emergentes, mas, se confirmados, consolidarão a retomada. Mesmo essa evolução, no entanto, dependerá da continuidade da política de ajustes e de reformas e, portanto, de um mínimo de seriedade no jogo político.
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