terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Raymundo Costa: Lula e o labirinto de uma candidatura

- Valor Econômico

Vitimização é a única alternativa do ex-presidente

O julgamento em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está marcado para 24 de janeiro, em Porto Alegre, sede do Tribunal Federal de Recursos da 4ª Região. No dia seguinte, a Executiva Nacional do PT reúne-se para reafirmar que não tem Plano B para a Presidência da República, só o Plano A. Lula e o PT, na realidade, não têm mesmo outra alternativa. A estratégia é arrojada, mas não é suicida. Para influir na eleição presidencial, elegendo-se ou elegendo um outro candidato, Lula precisa desempenhar até o fim o papel de vítima de uma perseguição política, policial e da Justiça.

O PT diz que irá até o limite com a candidatura de Lula. Há no partido quem ache que esse limite será dado por Lula. Em algum momento ele diria 'gente, daqui por diante vamos achar uma pessoa". Até porque ninguém no PT tem condições de dizer "Lula, o limite é dia tal". É certo que o próprio Lula analisou ou ainda analisa a possibilidade dele mesmo, chegada determinada hora, dizer "chega". Lula e o PT, no entanto, entraram num labirinto que só tem uma saída - o ex-presidente somente deixará de ser o candidato do partido quando a Justiça mandar.

A estratégia da vitimização se impõe a Lula e ao PT. Tanto um quanto outro foram criminalizados. Há uma grande expectativa no partido sobre o placar do julgamento da apelação da sentença dada pelo juiz Sergio Moro a Lula - 9 anos e seis meses de prisão. Ninguém, dirigente ou militante, acredita na absolvição. A maioria acha que Lula será condenado por 2 votos a 1. Mas há também quem aposte no 3 X 0, a partir da premissa de que a decisão de condenar já está tomada.

O placar pode dar mais ou menos prazo para as medidas de protelação da defesa, Lula pode ficar mais tempo candidato, mas não tem tanta importância na estratégia de vitimização. No caso dos 2 X 1, Lula pode chegar até a disputa do segundo turno da eleição, perder ou ser eleito e assumir sub judice. Diante das incertezas provocadas por esta situação, é possível que o Judiciário se apresse atrás de uma decisão definitiva.

Mesmo neste caso, Lula com certeza chega até a campanha eleitoral, visto que a data final para a requisição de registro da candidatura será 15 de agosto e a campanha começa já no dia seguinte. O horário eleitoral gratuito no rádio e na TV começa no dia 31 de agosto, 16 dias depois. São grandes as chances, portanto, de o ex-presidente emplacar o guia eleitoral na televisão.

A impugnação da candidatura, tanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto no Supremo Tribunal Federal (STF) apenas servirá de combustível a mais para o discurso da vitimização de Lula. Há mais de uma centena de prefeitos eleitos com liminar do TSE, à espera de uma solução definitiva dos tribunais. Enquanto isso, governam.

O mesmo argumento serve para a hipótese de Lula ser preso imediatamente, improvável mas possível enquanto perdurar o entendimento de que basta a condenação em segunda instância para mandar um réu para a cadeia. Neste caso, Lula não só será vítima, pode virar mártir.

A candidatura do ex-presidente não é subestimada no Congresso e no governo, porque Lula pode não ser eleito pela terceira vez, mas já elegeu um poste sem nenhuma experiência política e pode repetir a dose.

Na primeira eleição presidencial após o Estado Novo, Getúlio Vargas, um presidente populista, escreveu uma carta apoiando a candidatura do marechal Eurico Gaspar Dutra dias antes da eleição. Funcionou, mesmo em uma época sem televisão na campanha e muito menos redes sociais. No topo das pesquisas, Lula mostra uma enorme resiliência eleitoral que não deve ser menosprezada. Ele não é bom em suas indicações, como demonstrou com Dilma Rousseff, mas a liderança das pesquisas indica que já foi perdoado ao menos por parte de seu eleitorado.

Enquanto Lula estiver no páreo, o debate sobre nomes está paralisado à esquerda ou mais especificamente no PT. O dia 24 de janeiro é o Dia D para várias pré-candidaturas do centro político para a direita, que ainda não conseguiu se fixar em um nome - Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles, Rodrigo Maia e até o presidente Michel Temer, se vislumbrar a chance de cavalgar algum êxito econômico de seu governo.

Existe no momento um processo de desmonte da política, dos agentes e das instituições políticos. A expressão mais vistosa desse processo chama-se Lula. O ex-presidente não tem mais saída: ou será engolido pelo processo, condenado e até preso, ou consegue sair como vítima, se eleger ou transferir votos para um outro candidato. Se não sair como vítima deste processo, Lula perde a eleição. Com ele mesmo ou um poste.

As novidades de Temer
O artigo que o presidente Michel Temer publicou ontem na revista "Veja" traz duas novidades. A primeira, Temer provocou diretamente a oposição, o que não havia feito desde que tomou posse, ainda na interinidade, em 2016. A segunda é que o presidente parece disposto a pautar a eleição presidencial, se ele mesmo não for o porta-voz do "discurso para um candidato da situação", como qualificou o elenco de realizações de seu governo que descreveu no artigo.

Sucessão paulista
Na sucessão paulista, é possível que o governador Geraldo Alckmin, virtual candidato a presidente do PSDB, saia com dois candidatos: o prefeito João Doria, pelo partido, e o vice-governador Márcio França, para assegurar o apoio e o tempo de televisão do PSB na campanha presidencial. O partido carregaria seu candidato oficial. Alckmin não perdoa o fato de Doria ter em algum momento pensado em ultrapassá-lo na corrida sucessória. O governador ficaria solto para frequentar o palanque do PSB. Alckmin precisa se apressar porque já percebeu uma movimentação político-empresarial para deixar pronto um Plano B para o caso de sua candidatura presidencial não decolar.

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