quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Bernardo Mello Franco: A nova Esplanada e as raposas no galinheiro

- O Globo

A redução do número de ministérios é mais marketing do que economia. Num governo com muitos novatos, pode abrir caminho para um apagão gerencial

Na campanha, Jair Bolsonaro prometeu governar com “no máximo 15 ministérios”. Na transição, elevou a conta para 22. O presidente eleito muda tanto de ideia que o número ainda pode aumentar ou diminuir até janeiro. A questão é saber se o novo desenho da Esplanada vai funcionar.

A redução de pastas tem mais a ver com marketing do que com economia. Especialistas em contas públicas dizem que o efeito da medida é apenas simbólico. Serve para vender uma imagem de austeridade, não para enxugar despesas.

O governo Dilma Rousseff chegou a ter 39 ministros. Era um claro exagero para barganhar votos no Congresso. O senador Garibaldi Alves Filho passou quatro anos à frente da Previdência. Ao deixar o cargo, contou que nunca foi recebido pela presidente.

O governo Bolsonaro corre o risco de errar ao contrário. O capitão misturou jacaré e cobra d’água ao fundir as pastas da Cultura, do Esporte e do Desenvolvimento Social. Um só ministro, o deputado Osmar Terra, cuidará da distribuição do Bolsa Família, da construção de quadras de tênis e do financiamento de orquestras. Ele já admitiu que não domina as atribuições do MinC. “Só toco berimbau”, gracejou.

A ameaça de um apagão gerencial é maior porque 80% dos indicados até aqui não têm nenhuma experiência no Executivo. O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, chocou senadores ao dizer que só pensaria no Orçamento em 2019. Não sabia que as receitas e despesas do governo são definidas no ano anterior.

A afobação para mudar tudo também pode causar estragos no segundo escalão. A equipe de Bolsonaro estuda fundir o Ibama e o ICMBio, o que preocupa ambientalistas. O capitão já deixou claro que a ideia não é reforçar a fiscalização. No sábado, chamou os dois órgãos de “xiitas” e reclamou de uma suposta “festa” de multas.

O presidente eleito também pretende transferir a Funai do Ministério da Justiça para o da Agricultura. Se o plano sair do papel, a tarefa de proteger os índios será entregue à bancada ruralista. É o mesmo que nomear raposas para administrar um galinheiro.

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