Sintomático que militantes das extremas direita e esquerda aproveitem para atuar nas ruas
Terra de revoluções e movimentos de insatisfação que transbordam para as ruas depois de fermentar de forma quase imperceptível no subsolo da sociedade, a França volta a seguir a tradição, agora com a revolta dos “coletes amarelos”.
A ponto de a grande novidade na política francesa dos últimos anos, Emmanuel Macron —eleito presidente numa meteórica campanha com mais de 60% dos votos, tripulando o partido lançado por ele, República em Marcha — parecer velho depois de três semanas de manifestações violentas em Paris e de bloqueios de estradas.
O motivo formal da mobilização é um “imposto verde” criado por Macron sobre o diesel, combustível bastante poluente. Tudo em nome do combate ao aquecimento global. O encarecimento estrangulou o orçamento de moradores de cidades menores do interior e da periferia dos grandes centros, que dependem do transporte individual para sobreviver, como agricultores e pequenos empreendedores em geral.
Segundo o “New York Times” , o início da ebulição se chama Priscillia Ludosky, comerciante de cosméticos pela internet, moradora dos subúrbios de Paris. Em maio, difundiu um texto pelas redes mostrando que mais da metade do preço do combustível se deve a impostos. Semelhante ao Brasil. Com este argumento, Priscillia escreveu uma petição contra o encarecimento do diesel, muito usado também por veículos leves na França.
Depois de lançado em maio, em outubro o caminhoneiro Éric Drouet, da mesma região da pequena empresária, compartilhou a petição na rede com amigos. Priscillia havia conseguido o apoio de 700 pessoas. Com a entrada no circuito do caminhoneiro, a adesão passou para 1,5 milhão, e continua a crescer.
Foi um rastilho em capim seco. Macron terminou surpreendido em Buenos Aires, na reunião do G-20, e a própria estrutura de representação política francesa ficou ao largo. Como em outros movimentos do tipo, é difícil identificar lideranças. Como no Brasil em 2013 e na greve recente de caminhoneiros.
Mais um sinal da crise da democracia representativa, que, com todas as dificuldades, precisa ser defendida, até porque inimigos seus aproveitam estes momentos para atacá-la. Bem como corporações sindicais privilegiadas que têm sido atingidas por reformas corretas de Macron.
Não é surpresa que as extremas direita e esquerda tenham passado a usar coletes amarelos nos quebra-quebras. Mais uma vez a França e Paris em particular sinalizam momentos críticos no mundo.
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