Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Sem alianças, com poucos recursos e tempo de propaganda em rádio e TV, a ex-senadora Marina Silva (Rede) pode se ver também fragilizada na corrida presidencial pelo discurso ambíguo, mas a tendência é que mantenha o posicionamento sem uma definição clara à esquerda ou à direita. "Não se pode falsificar uma candidatura. Uma candidatura da Marina é assim. Se quiser rotulá-la de direita, você pode. Se quiser vê-la como esquerda, também pode. Não temos essa aflição de nos revelarmos com esses símbolos anacrônicos", afirma Miro Teixeira, decano da Câmara dos Deputados.
No meio do caminho, Marina Silva corre o risco de ser atropelada por Ciro Gomes (PDT), que prepara uma transposição de sua candidatura da esquerda para a direita. A ex-senadora está numericamente à frente do ex-governador do Ceará nas pesquisas eleitorais - o superou em quatro e cinco pontos percentuais nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana. Mas Ciro trabalha fortemente para ganhar musculatura e estrutura de campanha. Articula uma aliança com partidos do Centrão - bloco de legendas de centro-direita - diante da possibilidade do desejado PSB, à esquerda, fechar aliança com o PT. "Isso mostra como está defasada a questão de esquerda e direita", diz Miro Teixeira.
Para o deputado, o mais provável é que o PSB acerte mesmo uma aliança nacional com os petistas. "A situação em Pernambuco tende muito a levar o PSB a fazer uma aliança com o PT. Houve uma deliberação do diretório nacional do PT dizendo que a prioridade é a eleição presidencial, à qual os Estados estão subordinados. Com isso, o PT de Pernambuco apoiará o [governador] Paulo Câmara. Isso sugere que se prepara uma grande aliança nacional entre os dois partidos", diz. O apoio do PT em Pernambuco, com a retirada da pré-candidatura ao governo estadual da vereadora Marília Arraes, é um dos principais pontos para se resolver a aliança nacional.
Miro Teixeira entende que, mesmo sem Lula, que está preso e deve ser barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral por ter tido condenação em órgão colegiado, o PT terá um candidato competitivo. "Lula é relevante. Acho que vai indicar o [ex-prefeito de São Paulo Fernando] Haddad e que ele vai crescer nas pesquisas", afirma.
O crescimento do PT, bem como o de Ciro Gomes, pode dificultar Marina, que não encontra nem busca parceiros para se coligar. As conversas com o PSB cessaram. "Nada me sugere que possa haver aliança", diz. Miro Teixeira afirma que o Rede está "buscando as pessoas", sem veleidade de atrair partidos. "Não estou dizendo que eles não são necessários, é que não os temos", reconhece. O parlamentar, porém, argumenta que ser um partido grande e/ou com chance de ampliar o tempo de TV por meio de alianças não é tudo: "Há partidos que ou não têm candidato ou tem briga interna".
Cita o PSDB, que passa por uma "luta interna", de questionamento do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que registrou 7% no Datafolha, atrás dos 10%-11% de Ciro, dos 14%-15% de Marina e dos 19% do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que lidera sem Lula. Nestes cenários, o maior contingente é dos que se declaram sem candidato, entre 33% e 34%. Por isso, afirma que o mais importante, numa campanha que será curta, é saber "quem avança mais nos indecisos". Discorda das previsões de que haverá, na disputa presidencial, a mesma taxa de abstenções e votos em branco e nulos registradas nas eleições suplementares ocorridas no Amazonas e no Tocantins. "A eleição suplementar é solteira. Não se pode comparar com a geral. A de 1989 também foi solteira, e não serve de parâmetro", diz Miro, pré-candidato ao governo do Rio, embora possa abrir mão, em prol de uma frente de união estadual.
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