As pesquisas eleitorais se sucedem - e nada acontece. Os resultados do Datafolha confirmam imprevisibilidade da eleição, com agravantes: o número de pessoas que dizem que votarão em branco, nulo ou ainda não definiram seu voto atinge quase metade dos entrevistados, um ano depois. Na simulação com Lula, o batalhão dos que não têm candidato ocupa o segundo lugar, com 21%, à frente de Bolsonaro, com 17%. Sem Lula, assume a liderança, com 33%. Na pesquisa espontânea, há 48% que não indicaram nenhuma preferência. A pesquisa só confirma que o que é ruim pode, sim, piorar: a popularidade de Temer caiu ainda mais e 82% o consideram um presidente ruim ou péssimo.
A pulverização das candidaturas e a angústia eleitoral criam uma ânsia por definições que as pesquisas não podem dar, até porque a campanha não começou e os eleitores não estão ligados nisso. E quem se interessa parece não estar gostando do que está vendo.
Diante da ausência de fatos marcantes, as constantes provisórias importam. Sem a presença de Lula, Jair Bolsonaro, do PSL, mantém-se estável à frente e Marina Silva, da Rede, está quase em empate técnico com ele e bem adiante se ambos chegarem ao segundo turno - 42% a 32%, segundo o Datafolha. Assim como Marina, Ciro Gomes, do PDT, estabilizou na casa dos 10%, em terceiro lugar, seguido, mais atrás, com 7%, pelo ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin.
Esses candidatos se mantêm há bom tempo como favoritos e devem permanecer assim até agosto, quando começa de fato a campanha pela TV. A incógnita, uma de bom tamanho, é a de quem comporá a chapa do PT e receberá o apoio de Lula. Fernando Haddad, por suas próprias forças, mal se levanta dos 2%. O empenho de Lula e do partido pode levá-lo a dois dígitos e encaminhá-lo ao segundo turno, se permanecer a dispersão dos adversários. A julgar pelas recentes resoluções da Executiva do PT, essa decisão será tomada no último minuto do segundo tempo, perto de expirar o prazo de registro das candidaturas, em 15 de agosto. O alvo principal petista é uma aliança com o PSB - também cobiçado por Ciro Gomes e pelos tucanos - e PC do B.
Outras pesquisas do Datafolha e outros institutos, sobre a percepção do estado da economia e a sensação de bem-estar da população, indicam o que já se intuía. A recuperação malemolente da economia, com o tropeço da greve dos caminhoneiros, tornou os eleitores mais pessimistas sobre o futuro do país e o seu próprio. É uma situação oposta àquela na qual se basearam os cálculos feitos para ancorar uma candidatura competitiva governista, com a qual até mesmo o presidente Temer flertou - os de que uma economia em franca retomada beneficiaria quem defendesse o acerto da política econômica atual.
Há uma angústia pela reversão da diversidade de candidatos, que as pesquisas ao que tudo indica, por si só, não resolverão. É o que motivou, por exemplo, o manifesto por uma candidatura única de centro, que não parece fadada a dar frutos, mas serviu para que Alckmin, contestado em seu partido, cobrisse Marina Silva de elogios. Para o Rede as alianças são mais necessárias - sem elas, desaparecerá no horário eleitoral - e as mais difíceis por envolver sinceramente questões programáticas. Com sua herança de votos e sua posição nas pesquisas, Marina não abrirá mão de encabeçar uma chapa e já queimou algumas pontes com o PSB.
Ciro Gomes, que tem ambição de costurar uma aliança que una o PDT à esquerda e outra, à direita, que amarre PP e DEM, tropeça nas palavras e provocou irritação nas duas legendas, embora remediáveis. Se essa manobra der certo, a candidatura Alckmin estará em apuros. Mas Alckmin deposita esperanças não infundadas em seu velho aliado, o DEM. Parece claro que Rodrigo Maia (DEM-RJ) não será mais candidato e busca antes aglutinar partidos fisiológicos em torno de si para obter vantagens na composição de uma aliança para disputar a Presidência. Maia sinaliza reaproximação.
A estagnação da economia pode despertar os eleitores. Se o grande contingente de indecisos e dos que votam em branco e nulo se mantiver, as chances de uma disputa entre os extremos aumentam. A aversão ao jogo político tal como é hoje pode jogar os eleitores nos braços de candidatos que tentam racionalmente mudá-lo, como Marina, ou nos de quem procura destrui-lo, como Bolsonaro. A indefinição do quadro gera tanto a autofagia, como ocorre entre os tucanos, como um frenesi geral em busca de alianças. As definições ficam para agosto, mês de mau agouro.
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