- O Globo
Rodrigo Maia alerta que o governo ainda não tem votos para a Previdência e diz que quem ganha eleição tem que saber fazer aliados
Em um governo tão cheio de improvisos e erros na relação com o Congresso, o papel do deputado Rodrigo Maia tem crescido. Ele passou a semana dando os conselhos certos na busca da reforma da Previdência. Até os integrantes do executivo acham que Maia pode ser o grande articulador da reforma. “O governo pode encaminhar o que quiser, mas se o presidente da Câmara não quiser não tem pauta.”
Foi o que ele me disse quando, numa entrevista na Globonews, perguntei se não era estranho que ele, presidente de uma das Casas do poder legislativo, seja o grande articulador do projeto do executivo:
— Quando você constrói uma candidatura para a presidência da Câmara, você tem uma agenda. Como o sistema é presidencialista, quem decide o que será colocado na pauta é o presidente da Câmara.
Ele explicou, contudo, que esse poder tem que ser compartilhado com os líderes, e o presidente tem que estar presente sempre na articulação. Disse que exerceu essa liderança no governo Temer, mas “ela estava mais organizada”. Pelas contas dele, hoje não tem mais que 50 votos a favor da reforma:
— A gente precisa, antes de exercer qualquer liderança, tentar organizar junto com os líderes o que vai ser a tal maioria que o governo necessita para aprovar as reformas. O sistema brasileiro é híbrido, é quase semiparlamentarista.
Maia contou que o presidente do parlamento espanhol disse que não entende como se construirá a maioria sem partidos. Ele concorda. Afirmou que é preciso entender o papel dessa “possível aliança” não apenas na aprovação da Previdência, mas no projeto de quatro anos.
Perguntei se o DEM é governo, e ele respondeu de pronto:
— Não. O DEM não é governo.
Isso é a prova da situação criada pelo presidente Bolsonaro. Quando foi pelas bancadas temáticas, ele acabou nomeando políticos, mas os partidos não se sentem dentro do projeto. Há três ministros do DEM no governo. Rodrigo Maia lembra que o ministro Onyx Lorenzoni é da cota pessoal do presidente, mas admite que, se fosse feito de forma diferente, claro que os ministros Henrique Mandetta (Saúde) e Tereza Cristina (Agricultura) poderiam ser resultado de uma articulação do presidente com o Democratas.
Esta semana, o governo começou a conversar com os partidos e dar os primeiros passos na realidade política. É possível formar um coalizão sem os erros do passado.
— Não é nem a velha nem a nova, é a política que vai resolver os problemas do Brasil — diz o presidente da Câmara.
Quando Rodrigo Maia entrou na Câmara, a idade média dos parlamentares era 58 anos, hoje já caiu para pouco mais de 50. E ele, cumprindo o sexto mandato, está ainda abaixo da média, porque tem 48 anos. Mas tem sido muitas vezes a voz mais madura.
Alertou que o governo está perdendo a batalha da comunicação na Previdência e que o projeto entrega argumentos de fácil manipulação para quem não quer mudar o essencial no sistema de pensões e aposentadorias. Alerta que o impacto de mudar o BPC é pequeno, mas o risco é grande. Diz que a elite do funcionalismo quer defender seu direito de se aposentar com R$ 28 mil ou R$ 30 mil, usando os pontos fracos do projeto.
— Quando você usa o velhinho é mais fácil. Eu não gosto de tratar a aposentadoria de funcionário como privilégio, porque ele fez concurso e conquistou assim o seu cargo. Mas a demografia mudou e desorganizou o sistema do ponto de vista atuarial. Não dá para pagar os mesmos valores.
Rodrigo Maia também acha que há dois erros na questão dos militares. Não ter enviado o projeto junto com a PEC e falar em aumentar os soldos junto com a mudança:
— A gente reconhece que R$ 22 mil para um general quatro estrelas é pouco, mas o momento atual não é de falar de nenhum tipo de aumento.
Perguntei se havia ficado sentimento ruim entre ele e o ministro Onyx pela articulação do ministro contra a sua candidatura:
— O presidente escolhe os ministros e eu organizo a pauta. Está tudo bem. Eu ganhei a eleição. Quem ganha a eleição tem que saber construir aliados e não dividir a governabilidade.
O deputado criticou o elogio do presidente Bolsonaro ao ditador Alfredo Stroessner. Disse que Bolsonaro, quando exalta ditaduras, fala para um nicho, mas está formando valores negativos. E lembrou que a maioria nem sabe quem foi Stroessner. Por isso, a frase não traz nenhum benefício ao governo.
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