- O Globo
Quando, em novembro do ano passado, anunciou que embarcaria no governo Bolsonaro, o então juiz Sergio Moro prometeu que não mancharia sua biografia. Na época, tinha recebido do então futuro presidente da República carta branca para combater o crime organizado e a corrupção. No último dia do segundo mês da gestão, Bolsonaro revogou a promessa. Tirou do ministro a autonomia prometida.
Moro foi submetido ao constrangimento público de ter que revogar a nomeação da cientista política Ilona Szabó, indicada por ele para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, um posto apenas de caráter consultivo. A “desnomeação” ocorreu 24 horas após a escolha de Moro. Bolsonaro, num telefonema, desfez o ato do ministro. Bem diferente do Bolsonaro que, no dia 1º de novembro do ano passado declarou:
—Ele queria liberdade total para combater a corrupção e o crime organizado e um ministério com poderes para tal... Bem como nomeações. Ele tem ampla liberdade realmente para exercer o trabalho lá. Da minha parte, sempre fui favorável a isso. Dei sinal verde —disse Bolsonaro.
Pelo jeito, o sinal fechou. Ilona foi desconvidada por conta da reação de apoiadores de Bolsonaro. Ela defende políticas públicas na área de segurança que não se afinam com os ímpetos do governo de dar arma para quem se sente inseguro. A saída da cientista politica e de outro especialista contrário a mudanças no Estatuto do Desarmamento foi celebrada por seguidores do presidente nas redes sociais, incluindo o filho dele, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O episódio levanta a dúvida se a tal carta branca dada pelo presidente foi apenas parcialmente rasgada. Além de dar liberdade ao ministro para propor ações contra o crime organizado, Bolsonaro tinha jurado que seu governo não iria proteger ninguém. Ou seja, não iria impor ao ministro, que comanda a Polícia Federal, nenhum pedido extemporâneo. Sob a mira da PF estão investigações sobre laranjas no PSL e outras poderão vir. O telefone de Moro vai voltar a tocar?
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