Por Carolina Freitas, Hugo Passarelli e André Guilherme Vieira | Valor Econômico
SÃO PAULO - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adotou ontem um discurso de otimismo em relação à aprovação da reforma da Previdência, mas marcou posição política e afirmou que para o DEM fazer oficialmente parte do governo de Jair Bolsonaro o presidente precisa definir uma agenda de políticas públicas para além da pauta econômica.
"Meu partido não está no governo. Para estar, a gente precisa compreender o que o governo pensa em outras políticas públicas, além da economia", afirmou Maia, ao participar de evento promovido pelas revistas "Veja" e "Exame", em São Paulo. "Se for para ter um comprometimento só com agenda econômica, fazemos um acordo de pauta."
Maia tentou contemporizar a polêmica da semana passada, com a sinalização de intervencionismo de Bolsonaro na política de preços da Petrobrás. O parlamentar disse ver 15 de julho como data limite para aprovação da reforma da Previdência na Câmara.
O DEM tem três ministérios: Casa Civil, com Onyx Lorenzoni; Saúde, com Luiz Mandetta; e Agricultura, com Tereza Cristina. Maia disse que Onyx foi uma escolha pessoal de Bolsonaro e que Mandetta e Tereza, "são dois dos melhores quadros de seus setores". "O partido não sentou com o governo para discutir a agenda do governo para que a gente possa ser a favor. A gente não pode ser a favor de dois políticos estarem no governo. Isso não é agenda de acordos entre um partido e o presidente", disse o deputado.
Em uma participação de menos de uma hora no evento, Maia fez cobranças ao governo sobre temas mais amplos por dez vezes. Para o presidente da Câmara, a administração Bolsonaro precisa dizer a que veio na saúde, educação, segurança pública, habitação, saneamento e redução da pobreza. "No sistema presidencialista, o papel do presidente é muito importante na colocação da agenda", afirmou. "Não é porque não temos recursos para saúde, educação, redução da pobreza, que não devemos organizar melhor essas políticas públicas."
Maia fez um paralelo com os governos do PT, que antecederam Bolsonaro. Afirmou que, como oposição, ele e outros partidos de direita criticaram as políticas petistas, com o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, mas que agora não se vislumbram alternativas a programas como esses. "Fomos 13 anos oposição ao PT, mas o PT colocou uma agenda. O que se coloca no lugar disso? É importante fazer esse debate, para não parecer que só os partidos de esquerda têm agenda para cuidar da sociedade", disse o deputado. Ele classificou a si mesmo como um político de "centro-direita" e ao presidente Jair Bolsonaro como alguém "mais de direita".
Em uma fala modulada para o mercado financeiro, Maia classificou a prioridade à reforma da Previdência como o grande acerto de início de governo de Bolsonaro. O presidente da Câmara afirmou que a agenda econômica vai "na linha certa" e que as chances de aprovação da reforma são "grandes". "Sou otimista e tenho certeza de que vamos conseguir aprovar reforma com economia próxima a R$ 1 trilhão."
Mais tarde, em encontro com 200 empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o deputado disse acreditar que Bolsonaro entendeu a importância da reforma, após anos falando e votando contra. "Ele ter aceito apresentar a proposta, e entendendo que ela é importante, já é um primeiro passo", afirmou Maia. Ele afirmou ainda que, antes do recesso, que começa em 15 de julho, a Câmara terá a PEC aprovada.
Maia manifestou apoio ao regime de capitalização proposto pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. "Tem um espaço tranquilo para se aprovar capitalização nos moldes em que Guedes fala." Porém, Maia fez ponderações sobre a implementação do novo regime. "Capitalização híbrida para as rendas mais baixas acho um modelo muito bom. A implementação não pode ter um sacrifício ainda maior da sociedade."
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