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E o jornalismo também
Nada mais fácil do que detectar erros quando se olha a História pelo retrovisor. Tanto mais se o que está em exame é algo perecível como o jornalismo produzido enquanto os fatos se sucedem.
Não reconhecer os erros, porém, e não cavoucar para saber por que aconteceram é a forma mais segura de repeti-los no futuro – do mesmo modo ou de modo pior ainda.
A história da Operação Lava Jato começou em 17 de março de 2014. Investigava-se então uma rede de postos de gasolina em Brasília usada para lavar dinheiro de origem ilícita.
Menos de dois anos depois, investigava-se o maior escândalo de corrupção da história do país que derrubaria um governo e mandaria para a cadeia agentes públicos, empresários e políticos.
A face oculta da operação só começou a se tornar conhecida de junho para cá com a revelação de conversas hackeadas de procuradores que envolveram até o ex-juiz Sérgio Moro.
O acervo de conversas está longe de se esgotar. Mas o que já foi mostrado põe em dúvida algumas verdades que antes pareceram irrefutáveis ou que foram aceitas como tais.
Não é cedo para que se pergunte: se tivéssemos, nós jornalistas, de contarmos outra vez a história da Lava Jato nos valeríamos dos mesmos métodos e escreveríamos o que já publicamos?
Diga-se a favor de Moro e dos procuradores da Lava Jato que eles nunca esconderam que precisavam do apoio da imprensa para convencer a opinião pública do acerto de suas ações.
Diga-se também, e nesse caso a favor da verdade pura e simples, que cumprimos esse papel sem maiores questionamentos. Ouvir o outro lado não significa abrir espaço para o benefício da dúvida.
Comportamo-nos na maioria das vezes como meros repetidores da voz que vinha do alto, e receptadores dos vazamentos administrados para que se construísse a narrativa desejada.
Se não procedemos assim por desonestidade, foi por pressa e incúria. Comodismo e preguiça. Desejo de acreditar na versão atraente que nos caía no colo e aumentaria nossa audiência.
Entre as muitas frases célebres e duras sobre o exercício do jornalismo está uma que cito de memória: “O jornalismo serve para separar o joio do trigo e publicar o joio.” Não creio nisso.
Prefiro acreditar em duas outras:
“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. (George Orwell)
“O jornalismo é antes de tudo e, sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. (Cláudio Abramo)
Revisitar pelo menos parte da história da Lava Jato seria a melhor maneira de nos reconciliarmos com o que sempre nos propusemos a fazer: buscar a verdade, por mais que ela pareça inalcançável.
No meio do caminho, a Constituição
Garimpo em áreas indígenas
A decisão anunciada pelo governo de liberar a mineração em áreas indígenas pode esbarrar na Constituição. O rascunho do projeto em elaboração no Palácio do Planalto prevê a formação de cooperativas indígenas para a exploração mineral.
No seu artigo 174, a Constituição diz que o “Estado favorecerá a organização de atividades garimpeiras em cooperativas, levando em conta a proteção do meio ambiente e a promoção econômico-social dos garimpeiros”. Até aqui, tudo bem.
Ocorre que o artigo 231, que trata dos direitos dos índios e de suas terras, proíbe no parágrafo sétimo a formação de cooperativas para explorar terras indígenas. Aí dá ruim, como observa o TAG Report da jornalistas Helena Chagas e Lydia Medeiros.
Ou seja: o que pretende o governo não pode ser feito nem por projeto de lei nem por Medida Provisória. Dependeria da aprovação de uma emenda constitucional, com exigência de três quintos dos votos, e com dois turnos de votação na Câmara e no Senado.
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