Folha de S. Paulo
Renda dos mais pobres cresceu em 2020, mas
levou o tombo mais dramático em 2021
A gente especulava que o fim do auxílio
emergencial de R$ 600 ajudou a derrubar a popularidade de Jair
Bolsonaro. Os números
impressionantes da pesquisa de rendimentos do IBGE, a Pnad Anual, divulgada
na sexta-feira, reforçam a hipótese.
O rendimento dos brasileiros que estão
entre os 40% mais pobres teve um ganho relevante em 2020, primeiro ano da
epidemia. Entre os 10% mais pobres, o aumento médio foi de 15% acima da
inflação, por exemplo, chegando ao maior nível desde 2016. Para o restante do
grupo dos 40% mais pobres o avanço foi menor, mas o rendimento real em 2020
chegou a ser maior do que em 2015.
Para os 60% "mais ricos", o rendimento médio caiu em 2020, embora pesquisas como a Pnad não captem bem certos ganhos das pessoas no topo da pirâmide.
Renda aqui quer dizer "rendimento
domiciliar per capita" (rendimento somado de todas as pessoas que moram
juntas dividido pelo número de moradores da casa). Inclui rendimentos de
trabalho, Previdência, assistência social ou outros quaisquer.
Em 2021, toda as classes de renda perderam
—quanto
mais pobre, maior o tombo. Perdeu-se não apenas o avanço de 2020, mas a
renda baixou ao pior nível da década, o menor desde 2012, pelo menos (é o
último ano para o qual há dados comparáveis).
A assistência diminuiu, assim como seu
efeito sobre pequenos circuitos econômicos locais, talvez no emprego/bico em
periferias e cidades menores. A
inflação fez o resto do estrago. No ano passado, o rendimento dos 5% mais
pobres do Brasil era 48% menor do que em 2012.
Entre agosto e dezembro de 2020, a nota de
Bolsonaro chegaria ao melhor nível, com exceção do primeiro trimestre de 2019,
início do mandato. No segundo semestre de 2020, a avaliação da situação
econômica também melhorava, embora ainda negativa.
Depois do final de 2020, a
avaliação de Bolsonaro jamais sairia do vermelho: o número de pessoas que
lhe dava a nota "ruim/péssimo" sempre foi maior do que o de
"ótimo/bom".
Em 2021, a atividade econômica, o PIB,
cresceu, compensando as perdas de 2020, uma recuperação em "V", como
gosta de dizer Paulo Guedes. Mas o avanço da renda, oh, ficou muito abaixo de
"O", zero.
Pelos dados ora disponíveis no IBGE, não dá
para cravar que o aumento de rendimento dos mais pobres tenha se devido
exatamente ao auxílio emergencial. Mas a variação do rendimento domiciliar per
capita entre 2019 e 2021, da alta à baixa, foi mais expressiva nas casas em que
se recebia assistência.
Não convém dar crédito excessivo a
explicações econômicas —lembre-se de Junho de 2013. E por que as
mulheres votam menos em Bolsonaro? Elas penam mais com a pobreza, mas
seria só isso? Além do mais, o final de 2020 foi de arrefecimento da epidemia;
a primeira metade de 2021 foi
de recrudescimento brutal, os meses de maior morticínio.
As atrocidades de Bolsonaro devem ter
insultado os já feridos: debochava de doentes em asfixia, mandava as pessoas à
morte (que deixassem de ser "maricas") e passeava de jet-ski enquanto
dezenas de milhares agonizavam ou enterravam seus mortos sem dizer adeus. Não
tinha palavra sobre a fome crescente.
A impopularidade de Bolsonaro cresceria até
setembro de 2021, ficando mais ou menos nesse patamar recorde até fevereiro
deste 2022. Então o número de pessoas com algum trabalho começaria a crescer de
modo expressivo, embora o valor do salário médio também ainda seja o pior da
década.
Por último, mas não menos importante: a
distância entre os salários
médios de brancos e pretos aumentou na recessão de 2016. Em 2021,
pessoas brancas ganhavam em média 77,6% mais do que as pretas.
Um comentário:
É claro que não é só o fator econômico que pesa na avaliação negativa ao desgoverno Bolsonaro,é tudo e mais um pouco.
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