Folha de S. Paulo
Presidente depende de conversão de partidos
da base e do centrão para aprovar plataforma de campanha
Dois disparos feitos por Lula nas
últimas semanas ressoaram no Congresso. Primeiro, o presidente chamou
de "bobagem" a autonomia do Banco Central, que recebeu aval dos
parlamentares em 2021. Depois, ele disse que tópicos da privatização da
Eletrobras, aprovada no mesmo ano, eram "quase
uma bandidagem".
O Congresso que Lula terá do outro lado da rua é praticamente o mesmo que deu sinal verde à agenda econômica de Jair Bolsonaro. Ainda que a aliança do PT tenha ganhado cadeiras, partidos perfilados à direita preservaram força na nova legislatura. Os mesmos presidentes da Câmara e do Senado continuam no poder.
Lula tem nas mãos um cardápio extenso de
cargos e verbas para construir uma maioria que atue a seu favor no Congresso,
mas o petista também depende de um realinhamento das bancadas na economia.
Dentro de sua base, parlamentares da União
Brasil, do MDB e do PSD de Rodrigo Pacheco vêm emprestando votos para uma
agenda liberal desde o governo Michel Temer, assim como o Republicanos, o PP de
Arthur Lira e outras legendas do centrão.
Em geral, há duas maneiras de obter uma
conversão ideológica nessa área: pagando o preço cobrado pela adesão ou
aplicando pressão política. Quando Lula diz que obteve nas urnas o "direito
de estabelecer sua política econômica", ele usa a segunda ferramenta
(e seu alvo não é apenas o Banco Central).
O discurso do petista pela redução de
juros, contra privatizações e com destaque para outros itens da agenda
econômica tem o objetivo de provocar ecos também no mundo político. O plano é
incluir ou manter
tópicos de sua plataforma na agenda de eleitores e parlamentares.
O presidente pode não ter dificuldades para
aprovar uma reforma tributária que já foi abraçada pela cúpula do Congresso,
mas precisará de boa vontade em outros pontos da agenda econômica
—principalmente aqueles que representarem uma guinada em relação aos projetos
aprovados nos últimos anos por esses mesmos parlamentares.
Um comentário:
Verdade.
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