Folha de S. Paulo
Mudanças na demografia explicam crescimento
do conservadorismo no país
Unanimidade política é algo que jamais
existiu em Israel,
mas o país surgiu em 1948 como um Estado que tendia mais à esquerda do que à
direita. Seu primeiro líder, David Ben
Gurion, era socialista, categorização que, com alguma flexibilidade,
também se aplica a outros "pais fundadores", como Golda Meir,
Moshe Dayan e Yitzhak Rabin.
Também se dizia que Israel era o único lugar do mundo onde o socialismo, na
figura dos kibutzim,
tinha dado certo.
É claro que também houve, desde os primórdios, políticos mais à direita, como Menachem Begin e Yitzhak Shamir, mas havia o entendimento de que o Estado deveria ser secular. Religiosos até poderiam ganhar alguns privilégios, como subsídios e isenção do serviço militar, pois era consenso que estavam fadados a ser para sempre uma minoria não muito importante.
A demografia, porém, está mudando a
correlação de forças e ameaça o
contrato social original do Estado judeu. Embora Israel tenha uma
taxa de fecundidade alta, especialmente para um país rico, a dos religiosos é
muito maior do que a dos seculares. As famílias israelenses têm em média três
filhos. Entre os seculares, são só dois, e chegam a sete entre os
ultraortodoxos, os haredim.
Até há pouco, os haredim rejeitavam a política. Achavam que era pecado criar um
Estado judeu antes da vinda do messias, mas mais recentemente passaram a votar
e operar nas mesmas linhas dos religiosos nacionalistas, num movimento que
fortalece a direita. Os três ministros mais prolíficos do atual governo, todos
religiosos, têm, na soma, 33 filhos.
A população secular ou levemente religiosa
ainda é majoritária em Israel, mas as mudanças estão em curso. O país é
provavelmente o único lugar do mundo onde os mais jovens apresentam uma
tendência de voto mais conservadora do que a dos mais idosos.
Como a divisão tem base na demografia e não
apenas no Zeitgeist, os enfrentamentos estão só começando.
Um comentário:
Valeu!
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