sábado, 27 de abril de 2024

Orlando Thomé - O que o eleitor quer de um candidato a vereador?

Correio Braziliense

Sobre o sentimento de apoio ou oposição às administrações atuais, os dados indicam que 55% desejam mudança, ao passo que 41% preferem a manutenção. Essa tendência é ainda mais forte nas capitais

O IPEC Inteligência realizou uma pesquisa em março sobre o comportamento do eleitor em relação às eleições de outubro para as prefeituras. Foram 2 mil entrevistas em 130 municípios, abrangendo todas as regiões, e alguns dados chamam muito a atenção. Na primeira parte, as perguntas procuraram mensurar o interesse das pessoas em votar no pleito, e, aí, já temos uma informação relevante: no total, 35% disseram ter "muita vontade", 32% dizendo ter "nenhuma vontade" e 31% disseram ter "pouca vontade".

Na segmentação por gênero, vê-se que o maior percentual entre as mulheres (37%) está no grupo de "nenhuma vontade" e o maior percentual de homens (39%) afirma ter "muita vontade". Já a faixa etária entre 45 e 59 anos apresenta o maior percentual de "muita vontade", com 40%, enquanto que o maior percentual de "nenhuma vontade" é dos que têm entre 25 e 34 anos, com 35%.

Quando se analisa por região, o Nordeste aparece na liderança de quem tem "muita vontade", com 44%, seguida do Sul, com 39%, ficando o Sudeste em último, com 29%. Quanto ao porte do município, o maior percentual está naqueles com até 50 mil habitantes, em que 39% têm "muita vontade", e o menor nos acima de 500 mil habitantes, onde 37% têm "nenhuma vontade". Vale registrar que, nesse último grupo, encontram-se 19 das 26 capitais.

Sobre o sentimento de apoio ou oposição às administrações atuais, os dados indicam que 55% desejam mudança, ao passo que 41% preferem a manutenção. Essa tendência é ainda mais forte nas capitais (61% a 35%, respectivamente), indicando que candidaturas de oposição têm mais chances no pleito.

Em relação aos fatores mais relevantes para decisão do voto, os principais indicados foram: debates entre os candidatos (37%), visita do candidato ao local de moradia (20%), notícias nos jornais, sites e rádios do município (17%), apoio do governador (14%), apoio do prefeito (13%), notícias e postagens em redes sociais (12%), propaganda política (10%) e comícios (10%). Já as duas últimas posições são ocupadas por ser candidato apoiado por Lula (5%) ou Bolsonaro (4%).

Mesmo considerando que esses dados estatísticos referem-se à disputa para os executivos municipais, eles são úteis para ajudar a definir como um pré-candidato ou uma pré-candidata ao Legislativo municipal deve se comportar. Antes de tudo, é preciso entender que, a pouco mais de cinco meses do pleito, apenas analistas e pré-candidatos estão mobilizados pelo tema. O eleitorado em geral só começa a demonstrar algum interesse a partir de 16 de agosto, quando começa oficialmente o período de campanha eleitoral. Porém, nessa fase da chamada pré-campanha, há muito a ser feito e aqui vão algumas observações.

O primeiro passo é trabalhar com a segmentação dos municípios por número de eleitores. Na pesquisa do IPEC aqui citada, verifica-se que a maior motivação em votar está presente nas 4.913 cidades com até 50 mil habitantes, onde quem tem "muita vontade" e quem tem "pouca vontade" somam 71% das respostas. Nessas localidades, a visita do candidato ao local de moradia do eleitor, o famoso "corpo a corpo", é o segundo maior fator de decisão para o voto, com 22% das indicações. Assim, vale mais a pena conversar com o eleitor, em cada bairro, procurando se apresentar como um legítimo representante das demandas objetivas daquele segmento da população.

Já nas 656 cidades com mais de 50 mil habitantes, o critério mais relevante para a escolha do eleitor é o somatório de "notícias nos jornais, sites e rádios do município" com "notícias e postagens em redes sociais", totalizando 31%. Nesses casos, caberá a quem se candidatar fortalecer sua participação nas mídias sociais com publicações que explicitem sua opinião acerca dos fatos abordados no noticiário, deixando clara sua linha de pensamento. Porém, mesmo nesses municípios, a visita do candidato ao local de moradia do eleitor tem peso importante, com 19% de indicações. Ou seja, não dá para apostar apenas na internet.

Por outro lado, nas cidades com mais de 500 mil habitantes, ainda há espaço para candidaturas que expressem ideias gerais, as chamadas candidaturas de opinião, que podem ter transversalidade territorial, apesar do fortalecimento daquelas que se elegem com votação concentrada em áreas específicas, particularmente nas controladas pelo crime. Aqui, a combinação de uso das redes sociais com reuniões domiciliares pode ser o melhor caminho. 

 

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