O Estado de S. Paulo
Não há contradição em defender Estado enxuto e pedir auxílio na calamidade
Na onda dos que se gabam, com indisfarçável satisfação, de que “não foi por falta de aviso” que a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul aconteceu, surgiram também os arautos do Estado mastodôntico para expor os pedidos de ajuda do governo gaúcho a Brasília como um troféu contra o liberalismo econômico. Argumentam que quem vive dizendo que o Estado precisa gastar pouco e interferir menos na economia acaba caindo do cavalo quando exige socorro desse mesmo Estado em meio à calamidade.
Um deputada do PSOL, por exemplo, classificou
como incoerência alardear o Estado mínimo e, na hora do aperto, solicitar que o
governo federal distribua auxílio emergencial e vouchers à população. E houve
quem visse na dificuldade de bombeiros, policiais e militares de dar conta de
socorrer toda a população e de impor ordem em meio ao caos uma prova de que a
ideia de reduzir o Estado é um delírio.
As mesmas premissas deveriam levar à
conclusão oposta. É justamente a exceção, a situação emergencial, que demonstra
o quanto é essencial que o Estado gaste pouco em épocas de normalidade,
concentrando sua energia e seus recursos nas áreas em que é indispensável, como
na segurança pública e na prevenção de catástrofes. O bom gestor obedece à
sabedoria popular de que é preciso poupar nos tempos de fartura para enfrentar
crises futuras.
Durante a pandemia de covid-19, muitos
economistas liberais defenderam os programas de auxílio aos cidadãos e a
empresas para garantir sua sobrevivência e estimular o consumo. Alguns
explicavam essa política recorrendo a uma metáfora criada pelo economista
Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel e um dos expoentes da Escola de
Chicago, de “jogar dinheiro pela janela do helicóptero” em tempos de crise.
O desafio no Rio Grande do Sul obviamente não
é o mesmo que se enfrentou durante a pandemia ou em situações de recessão
econômica. Além da necessidade de garantir sustento a quem perdeu tudo ou quase
tudo para as violentas águas de maio, será preciso reconstruir a infraestrutura
do Estado. Não há qualquer contradição entre defender um Estado enxuto e
eficiente e esperar que ele venha em socorro de cidadãos e empresas em
circunstâncias excepcionais. O problema é que o Estado brasileiro, sob o
governo Lula, já estava gastando mais do que podia. E agora, vai tirar de onde
o dinheiro para ajudar os gaúchos e reerguer o Rio Grande do Sul?
Um comentário:
Quem avisa, amigo é ... Depois das enchentes virão as epidemias, especialmente a de Leptospirose, transmitida pela urina dos ratos acumulada nos lixos a céu aberto. E tem gente q ainda defende um estado mínimo!
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