segunda-feira, 20 de maio de 2024

Diogo Schelp - Não foi por falta de aviso

O Estado de S. Paulo

Não há contradição em defender Estado enxuto e pedir auxílio na calamidade

Na onda dos que se gabam, com indisfarçável satisfação, de que “não foi por falta de aviso” que a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul aconteceu, surgiram também os arautos do Estado mastodôntico para expor os pedidos de ajuda do governo gaúcho a Brasília como um troféu contra o liberalismo econômico. Argumentam que quem vive dizendo que o Estado precisa gastar pouco e interferir menos na economia acaba caindo do cavalo quando exige socorro desse mesmo Estado em meio à calamidade.

Um deputada do PSOL, por exemplo, classificou como incoerência alardear o Estado mínimo e, na hora do aperto, solicitar que o governo federal distribua auxílio emergencial e vouchers à população. E houve quem visse na dificuldade de bombeiros, policiais e militares de dar conta de socorrer toda a população e de impor ordem em meio ao caos uma prova de que a ideia de reduzir o Estado é um delírio.

As mesmas premissas deveriam levar à conclusão oposta. É justamente a exceção, a situação emergencial, que demonstra o quanto é essencial que o Estado gaste pouco em épocas de normalidade, concentrando sua energia e seus recursos nas áreas em que é indispensável, como na segurança pública e na prevenção de catástrofes. O bom gestor obedece à sabedoria popular de que é preciso poupar nos tempos de fartura para enfrentar crises futuras.

Durante a pandemia de covid-19, muitos economistas liberais defenderam os programas de auxílio aos cidadãos e a empresas para garantir sua sobrevivência e estimular o consumo. Alguns explicavam essa política recorrendo a uma metáfora criada pelo economista Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel e um dos expoentes da Escola de Chicago, de “jogar dinheiro pela janela do helicóptero” em tempos de crise.

O desafio no Rio Grande do Sul obviamente não é o mesmo que se enfrentou durante a pandemia ou em situações de recessão econômica. Além da necessidade de garantir sustento a quem perdeu tudo ou quase tudo para as violentas águas de maio, será preciso reconstruir a infraestrutura do Estado. Não há qualquer contradição entre defender um Estado enxuto e eficiente e esperar que ele venha em socorro de cidadãos e empresas em circunstâncias excepcionais. O problema é que o Estado brasileiro, sob o governo Lula, já estava gastando mais do que podia. E agora, vai tirar de onde o dinheiro para ajudar os gaúchos e reerguer o Rio Grande do Sul?

 

Um comentário:

laurindo junqueira disse...

Quem avisa, amigo é ... Depois das enchentes virão as epidemias, especialmente a de Leptospirose, transmitida pela urina dos ratos acumulada nos lixos a céu aberto. E tem gente q ainda defende um estado mínimo!