segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Resultados municipais tiram força da polarização - César Felício

Valor Econômico

PSD termina o processo como o grande vencedor, com 887 prefeitos eleitos; MDB elegeu 854

O resultado final das eleições municipais deste ano relativiza a polarização nacional entre os campos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Quem ocupou o espaço do centro no segundo turno, na grande maioria das 50 disputas, foi o vencedor. Os candidatos que não conseguiram sair do espectro ideológico de seus partidos, na maior parte dos casos, foram derrotados.

O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab terminou o processo eleitoral com o maior número de municípios (887). Venceu no domingo 9 dos 10 segundos turnos que disputou, inclusive em Belo Horizonte e Curitiba, respectivamente com Fuad Noman e Eduardo Pimentel.

O segundo em número de municípios é o MDB, que reelegeu Ricardo Nunes em São Paulo Sebastião Melo em Porto Alegre e elegeu Igor Normando em Belém. No total a sigla ficou com 854 municípios. Na divisão por eleitorado governado, MDB e PSD praticamente empataram na liderança, o primeiro administrando 27,7 milhões de eleitores e o segundo, 27,6 milhões.

“A eleição mostrou uma direita com cara, uma esquerda com cara e um centro que está ficando com uma cara”, afirmou Kassab, classificando como líder da primeira categoria o ex-presidente Jair Bolsonaro e o da segunda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Kassab coloca ao centro o seu próprio partido, o MDB e o União Brasil e diz que em relação a 2026 está tudo em aberto. “O problema do centro no Brasil é a falta de opções majoritárias”, diz. Segundo o ex-prefeito, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é uma liderança estadual, e não nacional. O presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi, também afirmou ao Valor, na quinta-feira, que “não tem jogo jogado em 2026” e que “está tudo em aberto”.

O PL venceu em apenas 6 das 22 disputas em segundo turno de que participou. Das 9 capitais em que estava no páreo, levou duas: Cuiabá, com Abílio Brunini, e Aracaju, com Emília Corrêa. Mas colheu bons resultados nas cidades de interior de grande porte, sendo sua vitória mais importante em Guarulhos (SP), com Lucas Sanches. Soma 516 municípios que correspondem a 19 milhões de eleitores.

Onde o ex-presidente Jair Bolsonaro entrou diretamente no segundo turno contra governadores, perdeu. Foi o caso de Goiânia, em que esteve no próprio domingo para tentar derrotar o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). O bolsonarista Fred Rodrigues (PL), contudo, tomou uma virada e perdeu para Sandro Mabel (União Brasil).

Bolsonaro também teve insucessos em algumas capitais onde o governador não teve papel relevante no segundo turno. Em Manaus, o presidente e sua família participaram ativamente da campanha do Capitão Alberto Neto (PL). Quem ganhou, contudo, foi o prefeito David Almeida (Avante). Em Belo Horizonte o ex-presidente e seu grupo político entraram de cabeça na candidatura de Bruno Engler, a mais votada no primeiro turno, mas prevaleceu Fuad Noman, depois de uma campanha extremamente agressiva. Neófito em eleições, Noman ganhou o segundo turno com um apoio tardio da esquerda, mas o elemento decisivo para sua vitória foi a imagem de experiência administrativa e maturidade, em contraste com o adversário.

O ex-presidente teve uma participação quase simbólica na eleição de Ricardo Nunes em São Paulo e na de Eduardo Pimentel em Curitiba. Flertou no primeiro turno com Pablo Marçal na eleição paulistana e no segundo turno com a jornalista Cristina Graeml, do PMB, em Curitiba. As vitórias de Nunes e Pimentel são produto direto do esforço dos governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Júnior (PSD-PR).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve participação discreta nas eleições municipais. Na única vitória do PT nas capitais, em Fortaleza com Evandro Leitão, o elemento decisivo foi a capacidade do grupo político liderado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, em cooptar partidos e eleitores de fora da esquerda. Leitão teve o apoio de MDB, PP e PSD e no segundo turno recebeu adesões até do PL do adversário, André Fernandes.

Além de Fortaleza, o PT ganhou também as eleições em Camaçari (BA), Pelotas (RS) e Mauá (SP). Perdeu em 3 capitais e em 6 cidades do interior. Sai melhor do que em 2020, o fundo do poço do partido, mas muito aquém do que já foi durante o primeiro governo de Lula e na administração de Dilma Rousseff. Elegeu 252 prefeitos, somando um eleitorado governado de 7,6 milhões de eleitores, o equivalente a 4,9% do total nacional. Segundo comentou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o PT está pequeno para a base social que sustenta o presidente Lula e mesmo para a bancada parlamentar que ostenta e os governos estaduais que controla.

Fora do PT, o PSB conseguiu se expandir em relação ao resultado de 2020, embora não tenha ganhado as duas disputas de segundo turno de que participou. O Psol termina o processo eleitoral com 17 vereadores a menos do que elegeu há quatro anos e sem nenhum prefeito. A votação de Guilherme Boulos em São Paulo no segundo turno, de 40,65%, foi apenas 0,03 ponto percentual superior à obtida por ele no segundo turno de 2020, contra Bruno Covas (PSDB), o que significa extrema dificuldade de ampliar o eleitorado.

No caso da direita, é possível afirmar que este campo hoje até pode ser liderado pelo ex-presidente Bolsonaro, como disse Kassab, mas não se resume a ele. Ronaldo Caiado sai fortalecido em Goiás, com a vitória não só na capital mas no segundo maior município, Aparecida de Goiânia, e prefeitos ultraconservadores, mas fora do PL, também conseguiram um novo mandato, como o caso de Adriane Lopes, do PP, em Campo Grande.

O governador goiano tenta se viabilizar como presidenciável, e o União Brasil irá governar 584 prefeituras e 16,5 milhões de eleitores. É o terceiro maior partido em número de prefeituras e o quarto maior em eleitorado governado.

Novo conseguiu manter no primeiro turno a Prefeitura de Joinville e no segundo turno ganhou em Taubaté (SP), mas sua única liderança nacional, o governador mineiro Romeu Zema, não se saiu bem na eleição. As vitórias de Fuad Noman em Belo Horizonte e de Elisa Araújo em Uberaba fortalecem o PSD do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se articulam para disputar a eleição estadual em 2026 possivelmente em parceria com o PT, que manteve no primeiro turno as prefeituras de Juiz de Fora e Contagem.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) conseguiu em São Paulo vitórias de seus aliados em 15 das 17 disputas em segundo turno, e seriam 18 caso a eleição de Jundiaí (SP) não terminasse sub judice. Mas é uma base fragmentada em cinco partidos: Republicanos, PL, PP, União Brasil, PSD e MDB. São partidos que devem caminhar com ele em caso de uma reeleição ao governo de São Paulo, mas a união em uma eventual candidatura presidencial em 2026 é duvidosa.

O governador surpreendeu neste domingo ao fazer uma declaração bombástica contra Boulos no momento em que foi votar. Afirmou que havia recebido informação da área de inteligência da Polícia de que integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) teriam feito um “salve” (comunicado) pedindo votos para o candidato esquerdista. Ele não apresentou provas e a Justiça Eleitoral desconhece a acusação.

Tarcísio já é objeto de uma ação de investigação da Justiça Eleitoral (Aije) apresentada pelo Psol, e aliados do governador foram prudentes ao serem instados a comentar o episódio. “Não estive acompanhando de perto, estava concentrado nas eleições do Brasil como um todo”, disse Kassab, que esteve na comemoração da vitória de Nunes domingo à noite, junto com Tarcísio e outras lideranças partidárias.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

MDB sempre leva várias prefeituras,mas a presidência do País...