O Estado de S. Paulo
Mesmo antes dos resultados do segundo turno
das eleições, já se sabe que alguma mudança importante precisa ocorrer na
política econômica.
Ainda que disfarçadas de desenvolvimentistas,
as velhas propostas populistas do governo do PT já não conseguem alavancar
apoio político.
O presidente Lula ainda tenta manter no ar a narrativa de que a perda de apoio político se deve unicamente à comunicação ineficaz por parte de seus ministros e dos políticos petistas e aliados, que não conseguem dar a devida ênfase aos bons resultados da atual política, como o crescimento da atividade econômica e a redução do desemprego.
Mas o problema não é apenas de comunicação,
embora ela também possa contribuir. O estrago político produzido pelo rombo
fiscal, que se traduz em quebra da confiança e em redução do investimento, já é
maior do que o efeito na população produzido pelos pacotes de bondade
distribuídos pelo governo.
Os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e
Simone Tebet, do Planejamento, vêm avisando de que está em elaboração um
conjunto de decisões que, desta vez, não mais tratarão de aumentar a
arrecadação, mas cuidarão de cortes decisivos nas despesas orçamentárias. Falta
saber se terá proporções relevantes de maneira a equilibrar as contas públicas.
Até agora, quaisquer iniciativas nesse sentido foram torpedeadas pelo
presidente Lula. Se essas decisões não vierem, aumentará a erosão da confiança,
a cotação do dólar saltará, a inflação e os juros irão atrás e a turbulência
fará estragos.
A questão de fundo é de mudança de
mentalidade. Não se trata apenas de remover de dentro do governo eventuais
resquícios da desastrada Nova Matriz Econômica, elaborada pelo então ministro
Guido Mantega, e que a presidente Dilma colocou em prática. Há ainda quem
pregue redução dos juros na marra e o despejo de despesas públicas supostamente
destinadas a puxar pelo crescimento econômico e pela criação de empregos.
E também não se trata de impor uma política
temporária de responsabilidade fiscal, como a adotada pelo então ministro
Antonio Palocci nos dois primeiros anos do primeiro mandato do presidente Lula.
Trata-se de tocar a economia baseada no equilíbrio das contas públicas, sem
renúncia a uma sólida política social.
Essa mudança de mentalidade não precisa
acontecer em meio a um vazio programático. O Brasil é um dos poucos países do
mundo com amplas condições de definirem e colocarem em prática uma estratégia
de desenvolvimento baseada na transição energética, que visa à substituição da
energia fóssil por energia limpa, capaz de envolver todas as áreas da economia
e de resgatar a indústria que continua definhando.
Se um recado importante foi dado agora pelas
urnas foi o de que a exploração de antagonismos, do nós contra eles, já não
serve nem para garantir apoio político nem para pavimentar uma boa
administração econômica.
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