O Globo
A depender de quem vencer, Trump ou Kamala, a
vida das mulheres nos EUA será profundamente diferente, o que coloca em xeque o
pilar democrático da igualdade
Um dos muitos aspectos perturbadores da
distópica eleição presidencial americana que se encerrou nesta terça-feira de
forma absolutamente imprevisível foi que o abismo entre gêneros esboçado nos
últimos pleitos virou plataforma escancarada. A depender de quem vencer, Donald
Trump ou Kamala Harris, a vida das mulheres nos Estados Unidos será
profundamente diferente, e isso é, por si só, um golpe de morte na ideia de
democracia, que tem a igualdade de direitos como um de seus princípios
basilares.
A maneira como, a despeito dos protestos veementes que eclodiram em todo o país depois que a Suprema Corte revogou a jurisprudência firmada desde o caso Roe vs. Wade, nos anos 1970, a chapa Trump-Vance não esconde a intenção de cercear ainda mais os direitos reprodutivos é um sinal claro de que os republicanos abriram mão de falar com o conjunto do eleitorado, e nem chegam a ver essa estratégia como risco eleitoral.
Caso vençam sem esconder que avançarão rápida
e deliberadamente sobre direitos das mulheres, conquistas feministas das
últimas décadas em todos os outros campos, para além da discussão sobre aborto,
estarão em xeque.
O recurso orgulhoso a símbolos fálicos, os
discursos indisfarçavelmente misóginos, pregando submissão e inferioridade das
mulheres, diminuindo a capacidade da adversária de Trump e chegando a pôr em
dúvida até sua origem étnica, tudo isso compõe um enredo que não deixa nada a
dever a obras que sempre foram catalogadas como ficção, caso de “O conto da
aia”, de Margaret Atwood.
Como todo o arsenal da extrema direita
trumpista vem inspirando sua congênere brasileira pelo menos desde a vitória em
2016, o espalhamento dessa pregação de supressão de direitos das mulheres tem
tudo para aumentar o teor já alarmante de discurso misógino nas próximas
campanhas por aqui também. Só nos pleitos municipais já se teve um vislumbre da
falta de decoro de candidatos extremistas em investir contra as mulheres em
suas falas e em suas propostas.
Pablo Marçal levou para a campanha paulistana
o menosprezo à capacidade feminina que já apregoava em seus vídeos como coach
cibernético. O alvo preferencial dos ataques foi Tabata Amaral, a quem o
ex-candidato do PRTB não hesitou sequer em tentar imputar culpa pelo suicídio
do próprio pai. O resultado de investida tão torpe foi a explosão de sua
rejeição no eleitorado feminino, que ele tentou reverter com acenos tão fake
quanto o gesso que ostentou no braço por tempo demais na campanha.
O risco que esses políticos imbuídos da
intenção de subjugar as mulheres correm é este: com as eleições transformadas
numa versão tosca de guerra dos sexos, as mulheres podem exercer seu poder de
decidir as disputas. Foram elas que chutaram Marçal do segundo turno. Foi assim
também com Lula contra Bolsonaro em 2022 e na vitória de Joe Biden sobre Trump
dois anos antes. O resultado do atual pleito nos Estados Unidos é uma espécie
de batalha final dessa disputa.
Aos políticos e governantes que enfrentam
oponentes da extrema direita que fazem campanhas antimulheres, deveria ser
ainda mais valioso fidelizar esse eleitorado. No Brasil, trata-se da maioria,
ainda silenciosa diante dessa bizarra moda de defender em palanque a dominação
masculina como se vivêssemos em Gilead, como fez o bolsonarista André Fernandes
em Fortaleza ao escancarar que não estava nem aí para o aumento dos
feminicídios.
Eleito graças às mulheres, Lula relativizou a
promessa de equidade de gênero ao demitir ministras para alocar manos do
Centrão e ao reduzir o já mínimo espaço feminino no Supremo Tribunal Federal,
para ficar em dois aspectos marcantes de seus dois primeiros anos de governo.
Diante da evidência de que o pós-bolsonarismo escancarará as bandeiras
antifeministas, deveria ser prioridade do presidente, que ensaia uma reforma
ministerial e uma “virada” para a reta final do mandato, implementar políticas
concretas voltadas às mulheres.
4 comentários:
Atualizando a jornalista o Trump ganhou de lavada Além da presidência o partido republicano ganhou maioria no Senado na Câmara de Deputados isso sem dizer que botou 5 milhões de votos na frente da candidata democrata Harris no voto geral
Barba cabelo e bigode
Vai começar a choradeira da imprensa Financiada pelo governo
Tem início a temporada de Chororo,
Maldição ao Trump a turma não desiste nunca
Perdeu mané, não amola......
Quando Deus Livrou o Trump daquela bala certeira em sua cabeça , no atentado na Pensilvânia , ali eu vi que ele iria ganhar a eleição Deus tinha uma missão pra ele
Postar um comentário