O Globo
Ex-presidente criou novos problemas ao repassar R$ 2 milhões a filho investigado nos EUA
Pouco depois de calçar a tornozeleira
eletrônica, Jair Bolsonaro disse estar certo de que será preso. “Estou no
cadafalso. Na hora que o soberano Alexandre de Moraes achar que tem que chutar
o banquinho, ele chuta”, afirmou.
O capitão sabe que está prestes a ser
condenado. Como não consegue rebater as acusações, tenta se vitimizar. Apela ao
discurso da perseguição política e se refere ao ministro do Supremo como seu
algoz.
Bolsonaro já estava encrencado desde
fevereiro, quando a Procuradoria-Geral da República o denunciou por tentativa
de golpe de Estado. Depois disso, criou novos problemas ao despachar o filho
Eduardo para os Estados Unidos.
O Zero Três articulou o ataque de Donald Trump ao Brasil para chantagear o país e tentar livrar o pai da cadeia. Jair pôs as digitais na operação ao admitir que repassou R$ 2 milhões para bancar o herdeiro no exterior.
Para a Procuradoria, o capitão cometeu mais
três crimes nas últimas semanas: coação no curso do processo, obstrução de
Justiça e atentado à soberania. Os investigadores também apontaram “concreta
possibilidade” de fuga.
Nesta sexta, Bolsonaro reforçou a suspeita ao
informar que tinha encontro marcado com “alguns embaixadores”. Ele já havia
passado duas noites escondido na Embaixada da Hungria após ter o passaporte
apreendido por ordem judicial, em fevereiro de 2024.
Ao referendar as medidas impostas por Moraes,
o ministro Flávio Dino comparou a ofensiva americana a um sequestro. Para
libertar a economia brasileira da ameaça do tarifaço, Trump cobra um resgate
inaceitável: a impunidade dos golpistas.
O capitão não erra ao dizer que está no
cadafalso. Mas omite o fato de que foi ele quem subiu no banquinho.
Intolerável quadrúpede
Na decisão em que ordenou novas buscas na
casa de Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes citou Machado de Assis: “A
soberania nacional é a coisa mais bela do mundo, com a condição de ser
soberania e de ser nacional”.
A frase foi pinçada do sétimo número da
revista Illustração Brasileira, de outubro de 1876. Machado publicava crônicas
na seção “História de 15 Dias”, sob o pseudônimo Manassés.
Com a pena da galhofa, escrevia sobre tudo:
do declínio do Império Otomano ao calçamento da Rua das Laranjeiras. Em agosto
de 1876, expôs suas restrições ao cavalo, “o mais intolerável dos quadrúpedes”.
Não confundir com Cavalão, apelido de Jair na caserna.
“É um fátuo, é um pérfido, é um animal
corruto”, anotou o fundador da Academia Brasileira de Letras. “Ele olha para
nós com desprezo, relincha, prega-nos sustos”, prosseguiu.
Em outra crônica, Machado deixou um conselho
que poderia ter servido ao capitão: “Oh! se tu tens algum filho, leitor amigo,
não o faças político”.
In Fux they trust
Ao revogar os vistos dos ministros do
Supremo, o governo Trump abriu três exceções: para Kassio Nunes Marques e André
Mendonça, escolhidos por Bolsonaro, e Luiz Fux, indicado por Dilma Rousseff.
Por amaciar com o capitão, Fux já havia recebido elogios de Michelle Bolsonaro.
Agora ganha o reconhecimento do Departamento de Estado dos EUA.
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