domingo, 20 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Câmara deve dar prioridade à PEC da Segurança

O Globo

Mesmo com alterações, proposta da CCJ preserva o essencial: integração no combate ao crime organizado

É bom augúrio que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara tenha aprovado, por 43 votos a 23, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública. Embora o relator, deputado Mendonça Filho (União-PE), tenha feito alterações no texto original, em linhas gerais ele preserva a essência do projeto. Elaborada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, a PEC amplia a participação federal no combate às organizações criminosas, tarefa de que o Planalto sempre tentou se esquivar temendo desgaste político.

Um dos trechos alterados atribuía ao governo federal competência “privativa” para legislar sobre normas gerais de segurança pública, defesa social e sistema penitenciário. Segundo Mendonça Filho, a exclusão do trecho, com o objetivo de preservar a autonomia dos estados, não atrapalhará a implantação de um sistema único para registros de identidades, boletins de ocorrência e antecedentes criminais. Outra modificação tem a ver com a competência para investigar crimes. Pelo texto original, apenas a Polícia Federal (PF) e as polícias civis funcionariam como polícia judiciária, atuando na investigação. Foi retirado o termo “exclusivamente”, permitindo que outras corporações, como a Polícia Rodoviária Federal (PRF), também cumpram esse papel.

Entre outras medidas, a PEC amplia o escopo de atuação da PF e da PRF (esta última passa a patrulhar também ferrovias e hidrovias), acelera a implantação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), promove a integração dos bancos de dados das unidades da Federação e permite que o combate à violência seja feito de forma mais integrada e racional.

De início, a PEC foi vista com desconfiança por governadores, especialmente do Sudeste e do Sul, temerosos da ingerência do governo federal. Antes do envio ao Congresso, Lewandowski alterou o texto para deixar claro que a ideia não era tirar autonomia deles. Mas as arestas não foram todas aparadas, mesmo depois da aprovação na CCJ. Deputados da oposição consideram que ainda há concentração de poder em Brasília. Está certo Mendonça Filho ao dizer que ser de oposição não o impede de dialogar com o governo. “A segurança pública afeta o dia a dia da população brasileira. Não seria responsável o Congresso simplesmente abdicar de debater uma PEC enviada pelo Executivo”, disse.

O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou a criação da Comissão Especial que analisará o texto, etapa que antecede a apreciação em plenário. A estimativa é que os trabalhos comecem em agosto. É preciso que os parlamentares tenham senso de urgência. Não dá mais para adiar o combate integrado ao crime organizado. A situação é dramática, e os cidadãos têm plena consciência disso. A violência continua sendo apontada nas pesquisas como principal preocupação dos brasileiros. Divergências entre os entes federativos são naturais, especialmente num tema sensível e complexo como a segurança pública. Mas não devem impedir avanços. É hora de deixar picuinhas de lado. O combate à violência precisa ser feito de forma conjunta pelos estados e pelo governo federal, como já ocorre na saúde e na educação. Ninguém vencerá essa luta lutando sozinho.

Setor público precisa criar barreiras eficazes contra crimes digitais

O Globo

Tem se tornado mais frequente e preocupante a invasão de sistemas do governo, em especial do Judiciário

Os crimes digitais têm proliferado em todas as esferas. O setor público, em particular o Judiciário, se revela especialmente vulnerável. O caso de maior repercussão até agora envolve a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão por ter encomendado a invasão ilegal dos computadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para forjar mandados de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Mas a incapacidade do Estado de deter esse tipo de ameaça tem alcance bem maior.

Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no ano passado constatou a vulnerabilidade preocupante dos órgãos públicos. Das 229 instituições avaliadas, apenas 14 haviam implementado mais de 70% de medidas de segurança recomendadas. O hacker contratado por Zambelli nem precisou de muita sofisticação para invadir o sistema do CNJ. “Ele basicamente explorou um acesso clandestino às credenciais de juízes e conseguiu entrar sem autorização. Se existisse um sistema de gestão, com autenticação multifator, já teria sido mais difícil”, diz Luca Belli, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas.

O caso mais recente, revelado no início de junho, levou a operações policiais em Santa Catarina, Alagoas, São Paulo e Rio Grande do Sul, contra criminosos que haviam furtado a senha de juízes para dar baixa em restrições judiciais a veículos cadastrados no sistema Renajud, criado pelo CNJ para conectar o Judiciário ao Departamento Nacional de Trânsito. Os policiais cumpriram mandados de prisão, busca e apreensão em Balneário Camboriú (Santa Catarina), Marechal Deodoro (Alagoas) e Canoas (Rio Grande do Sul), sinal da dispersão geográfica do crime digital.

No início do ano, a partir de iniciativa do Ministério Público e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, foi deflagrada a Operação Skyfall, contra um suspeito de ter violado 80 senhas para falsificar documentos e adulterar processos no Tribunal de Justiça catarinense. Na adolescência, ele já havia sido investigado por cometer crimes cibernéticos. Depois, já adulto, desenvolveu um programa que acessava de forma automática plataformas privadas e do sistema judiciário.

Com o advento da inteligência artificial, as técnicas de invasão de sistemas digitais têm se tornado mais sofisticadas. Se, no mundo privado, é preciso cercar-se de todo cuidado e atenção para evitar cair em golpes, na esfera pública a preocupação é ainda maior. São necessárias políticas robustas para proteger informações sensíveis e sistemas mais avançados que as ferramentas usadas pelos invasores. É essencial haver segurança nas informações em poder do Estado, em nome tanto da privacidade dos cidadãos quanto do interesse nacional.

Justiça acerta ao enquadrar Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Ex-presidente enviou R$ 2 milhões a Eduardo, que conspira contra o Brasil nos EUA, e se escondeu na embaixada da Hungria em 2024

Personagem principal no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que trata da tentativa de promover um golpe militar no país, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fez por merecer as medidas restritivas a ele impostas na sexta (18), incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de se comunicar com seu filho Eduardo Bolsonaro, que conspira, a partir dos Estados Unidos, contra a soberania do Brasil.

Bolsonaro também está proibido de se manifestar em redes sociais, deve ficar em casa de 19h às 7h e nos fins de semana e não pode se aproximar de embaixadas.

No pedido que embasou a decisão do ministro do Supremo Alexandre de Moraes, a Procuradoria-Geral da República (PGR) citou "indicativos da concreta possibilidade de fuga do réu e a manutenção de ações para obstruir o curso da ação penal".

Na operação de busca e apreensão realizada na casa do ex-presidente foram encontrados US$ 14 mil. Recorde-se, Bolsonaro passou dois dias escondido na embaixada da Hungria logo após ter seu passaporte retido pela Polícia Federal no ano passado.

Desde que o presidente Donald Trump começou a chantagear o Brasil com a ameaça de tarifas de 50%, citando uma "caça às bruxas", Bolsonaro se mostrou cada vez mais à vontade, a ponto de dizer que a represália seria "resultado direto do afastamento do Brasil dos seus compromissos históricos com a liberdade".

No início de junho, o ex-presidente havia confessado ter enviado R$ 2 milhões para manter seu filho Eduardo nos EUA, de onde ele segue atiçando a administração Trump a punir o Brasil para tentar salvar a pele do pai.

Como retaliação às medidas restritivas contra Bolsonaro, o governo dos EUA cancelou de forma arbitrária os vistos de entrada no país de Moraes e de mais sete ministros do STF, em uma demonstração cabal do conluio engendrado por Eduardo e Trump .

Com Bolsonaro agora enquadrado pela Justiça, é preciso também que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se ocupe do principal: buscar a melhor saída negociada para a questão das tarifas. Se forem de fato aplicadas a partir de agosto, têm potencial para impactar talvez de modo severo a economia brasileira.

Após tratar inicialmente com sobriedade a ameaça, Lula descambou para o embate político nos últimos dias, a fim de tentar melhorar sua popularidade.

Chamar adversários de "inimigos da pátria" e acusar Trump de querer ser "imperador do mundo" são falas que não ajudam a resolver o impasse. Tarifas altas também prejudicarão empresas dos EUA, sendo este talvez o melhor argumento para negociação.

Vale o mesmo para Tarcísio de Freitas (Republicanos), em modo de adulação total a Bolsonaro. São Paulo é quem mais tem a perder com as tarifas de Trump.

Possíveis adversários em 2026, Lula e Tarcísio devem deixar a politicagem rasteira de lado para tentar contornar a grave ameaça que paira sobre o país.

O sol e o aquecimento global são para todos

Folha de S. Paulo

Eventos extremos afetam ricos e pobres; adaptação ao fenômeno precisa constar de políticas internas e negociações globais

As classes mais favorecidas de países desenvolvidos recebem neste verão do Norte o sinal que se repetirá até se convencerem de que o aquecimento global está a rugir. A consciência da ameaça pode demorar, ou chegar tarde, mas nem os ricos se encontram a salvo.

O estado petroleiro do Texas, nos Estados Unidos, presencia a tragédia das enchentes de 4 de julho. Uma cabeça d’água no rio Guadalupe varreu um acampamento cristão para meninas e causou a morte de 27 crianças e jovens que dormiam em abrigos construídos numa área de inundação.

Casas levadas na correnteza como se fossem de papel e carros boiando eram mais comuns no Sul do planeta. Áreas tropicais enfrentam chuvas torrenciais e deslizamentos a flagelar populações pobres, com seus casebres frágeis em zonas de risco.

Agora, cenas similares ocorrem amiúde em locais afluentes, e não são só em capitais como Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Na segunda (14), duas pessoas morreram num carro arrastado pela água na cidade americana de Plainfield, Nova Jersey. Emitiram-se alertas no estado de Nova York.

Linhas de metrô foram fechadas por inundação de estações e trilhos. Imagens de plataformas submergidas circularam por redes sociais. Tudo isso com chuvas de 150 a 200 mm em algumas horas, precipitação até então característica de regiões equatoriais.

Eventos extremos assim são o que a climatologia prevê há décadas em consequência da mudança climática. Incremento de energia na atmosfera acarreta mais evaporação e mais ventos, semeando tempestades. Mesmo que a precipitação média não aumente, chuvas pontuais se tornam violentas e destruidoras.

Como tais desastres já estão em curso, impõem-se os temas da adaptação para o fenômeno e da mitigação de seus efeitos às políticas públicas de cada nação e às negociações globais. Nova York e Nova Jersey precisarão reformar a drenagem de túneis, assim como São Paulo constrói piscinões para dar conta dos pés d’água.

Por óbvio, isso onerará a todos, impondo custos aos contribuintes e também multiplicando mortos e desabrigados. Sociedades ricas têm infraestrutura e recursos para se sair melhor, por ora —houve duas vítimas fatais em Nova Jersey e duas centenas no Rio Grande do Sul em 2024.

O peso maior recai sobre países de renda média e baixa. Mas espectros como o do furacão Katrina, em 2005, e o da onda de calor de 2003 na Europa, que ora se reedita, continuarão a rondar ricos e pobres em todo o mundo.

Bagunça ambiental

O Estado de S. Paulo

A necessária dinamização de processos de licenciamento não pode servir de fachada para a aniquilação da proteção ambiental, a que o projeto recém-aprovado pela Câmara infelizmente se presta

Brilha no anedotário político brasileiro a campanha que Lula da Silva, então em seu segundo mandato presidencial, fez contra uma perereca que, segundo ele, estava atravancando uma obra no Rio Grande do Sul. No bestiário lulopetista, a tal perereca se tornou o símbolo do atraso a que as autoridades ambientais submetiam o País no processo de licenciamento de obras – que, para Lula, priorizava a salvação de um batráquio em extinção em detrimento do progresso do País.

Desde a semana passada, contudo, Lula não tem mais com o que se preocupar. Pererecas e outros obstáculos naturais ao progresso serão facilmente removidos a partir da aprovação, pelo Congresso, da nova lei de licenciamento ambiental.

A pretexto de modernizar e agilizar o processo de licenciamento, algo que este jornal defende, os deputados criaram uma aberração legislativa. Um exemplo teratológico é a chamada Licença Ambiental Especial (LAE), por meio da qual se acelera a emissão da licença, sem levar em conta o potencial de risco ao meio ambiente, caso o governo defina que a obra é “estratégica” – um termo vago o suficiente para servir a todo tipo de conveniência.

Ademais, a nova legislação enfraquece a Lei da Mata Atlântica, bioma mais ameaçado do País. A permissão para que áreas primárias e secundárias do bioma sejam suprimidas “abre brechas para que qualquer município, mesmo sem estrutura técnica, Plano Diretor ou Conselho de Meio Ambiente, possa autorizar o desmatamento dessas áreas”, como bem destacou a Fundação SOS Mata Atlântica.

Ao dar mais poder para que Estados e municípios definam critérios de licenciamento, a nova lei também vai na contramão do que deveria promover, pois, ao invés de uniformizar regras, acaba por fragmentá-las.

Por fim, mas não menos importante, amplia-se o uso da Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC) para atividades de baixo ou médio risco, mediante autodeclaração do empreendedor, salvo em situações envolvendo desmatamento ou impacto significativo – medida que tem gerado preocupação sobre fiscalização e riscos ambientais.

O líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias, até afetou indignação e disse que o presidente Lula da Silva com certeza irá vetar esse “PL da devastação”. Mas a verdade é que o governo não se esforçou para barrar o avanço das medidas, mesmo ciente do mal-estar que elas vão gerar na COP-30, que o Brasil sediará em novembro.

O projeto de lei passou com sólido apoio da base aliada – na Câmara, cerca de 60% dos votos favoráveis vieram de partidos com assento na Esplanada dos Ministérios, enquanto no Senado foram 45%. Além disso, vários ministros de Lula declararam publicamente seu aval ao projeto, a começar por Rui Costa, da Casa Civil, Carlos Fávaro, da Agricultura, e Alexandre Silveira, de Minas e Energia.

Assim, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ficou isolada dentro do próprio governo como a única voz a criticar duramente a nova legislação. Não é de hoje que Marina fala sozinha no governo, mas esse caso é particularmente exemplar.

A ministra declarou que o governo buscará alternativas para “reparar” o projeto e que provavelmente o texto deverá gerar judicialização generalizada, como tem sido a regra em casos polêmicos como esse. O fato, contudo, é que o projeto aprovado é praticamente um convite para um interminável terceiro turno judicial, o que deve acrescentar insegurança jurídica e mais atrasos.

Enquanto isso, a oposição já se posiciona para derrubar possíveis vetos de Lula, sobretudo em razão do clima de revanchismo que se instalou no Congresso após o presidente vetar, corretamente, o injustificável aumento do número de deputados de 513 para 531.

Pelo bem do País, o Executivo deve corrigir os excessos do Legislativo no que diz respeito ao afrouxamento das regras ambientais. Do lado do Legislativo, o mínimo que se espera é que não se paute pela vingança. Se estiverem preocupados com o Brasil, o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, governo e oposição não têm outro caminho a não ser o do entendimento.

Lula põe Trump em seu palanque

O Estado de S. Paulo

Ao descobrir os benefícios que as ameaças de Trump trazem à sua popularidade, Lula desandou a atacar o presidente americano, minando o trabalho dos canais diplomáticos

Ao ver os primeiros indícios de que obtém dividendos políticos com as ameaças feitas ao Brasil pelo presidente dos EUA, Donald Trump, o presidente Lula da Silva começou a fazer o que se espera de um populista contumaz como ele. Das primeiras reações, razoavelmente acertadas pela combinação entre firmeza e equilíbrio por parte do governo para responder à ação tresloucada do presidente americano em favor de Jair Bolsonaro, Lula partiu para o tudo ou nada, velho hábito seu, e passou a falar sem parar – invariavelmente devolvendo provocações a Trump, indo além do ponto no uso das palavras adequadas à diplomacia internacional e se dedicando a estragar o trabalho dos canais diplomáticos e comerciais.

Num pronunciamento em cadeia de rádio e TV, com jeito e intenção claramente eleitoreiros, estava ali o Lula de sempre, convertendo em comício antecipado o que poderia ser uma bem-vinda prestação de contas à Nação diante dos delírios trumpistas. É improvável que Trump tenha se abalado a acompanhar o pronunciamento, cujo único propósito era capitalizar eleitoralmente a justa indignação dos brasileiros diante dos ataques de Trump ao País. Nessa toada, Lula classificou Bolsonaro e seus acólitos de “traidores da Pátria”, o que só se justifica num palanque, e não num discurso oficial.

Mas Lula queria se fazer ouvir por Trump e para isso deu uma entrevista à CNN Internacional, na qual declarou que o presidente americano “não foi eleito para ser o imperador do mundo”. A mensagem provocativa chegou à Casa Branca, que reagiu, dizendo que Trump está apenas preocupado com os interesses americanos. Lula deve ter ficado satisfeito por ter incomodado ligeiramente o presidente dos EUA, mas o Brasil certamente não ganhou nada com isso.

O cálculo de Lula, contudo, é imediato: vai jogar todas as fichas no entrevero com Trump para impulsionar sua popularidade. Num palanque em Goiânia, anunciou que o governo vai taxar gigantes de tecnologia – algo que já estava em estudo, mas que adquiriu velocidade para reagir a Trump. Também esbravejou que “não é um gringo que vai dar ordem a este presidente” e, bem ao seu estilo, levou o bate-boca para o terreno pornográfico, ao sintetizar o que, segundo ele, é o espírito da carta de Trump com ameaças ao Brasil: “Ou dá ou desce”.

O bom senso recomenda prudência e serenidade neste momento, mas Lula é Lula. Como raposa política que é, percebeu que a exortação ao nacionalismo e à soberania parece ser mais eficiente do que a reinvenção da luta de classes promovida pelo PT para recuperar a musculatura política perdida de seu presidente-candidato. Há limites, contudo, entre a defesa intransigente das instituições e dos interesses do povo brasileiro e a inclusão de métodos eleitoreiros para não desperdiçar a oportunidade que Trump lhe deu.

É legítimo e necessário reagir ao tarifaço trumpista e também é parte do jogo político deixar clara a responsabilidade de Jair Bolsonaro pela situação preocupante que o País vive, ameaçado de sofrer sanções absurdas por parte dos EUA só porque o presidente americano, incitado pela família Bolsonaro, considera injusto o processo contra o ex-presidente brasileiro por suposta tentativa de golpe.

O que não é aceitável é Lula sabotar, com seus discursos eleitoreiros, os esforços de diplomatas e empresários que tentam negociar com o governo americano. Como de hábito, Lula colocou os seus interesses e os de seu partido antes dos interesses do Brasil, em vez de se comportar como chefe de Estado consciente da limitadíssima capacidade brasileira de fazer frente aos arreganhos de Trump. Lula só pensa em melhorar sua performance nas pesquisas e parece já ter concluído que o governo americano não vai voltar atrás. Pode até ser verdade, mas é dever do presidente tentar, a todo custo, fazer-se ouvir pelos americanos em termos conciliadores, e não atiçar os ânimos para transformar a crise em rasteira oportunidade eleitoral.

Petrobras cada vez mais petista

O Estado de S. Paulo

Plano de voltar à distribuição é amontoado de erros da Petrobras que mira controle de preços

A intenção da Petrobras de voltar à distribuição de combustíveis a partir do zero, investindo na criação de uma nova subsidiária, para fazer os preços dos postos de revenda espelharem com exatidão as oscilações promovidas em suas refinarias, é um aglomerado de erros. Vai contra o conceito de abertura de mercado que norteou a quebra do monopólio do petróleo, em 1997, e contra noções comerciais elementares de investimento e retorno, além de querer transformar a empresa em administradora de preços que desde o início dos anos 2000 deixaram de ser fixados pelo governo.

O retorno da companhia ao segmento de distribuição de gasolina e diesel – do qual se retirou depois da venda da BR Distribuidora, atual Vibra, concluída em 2021 – vem sendo cogitado desde o começo da atual gestão de Lula da Silva, em 2023. De início, a alternativa tida como a mais provável era a de reaver o controle da Vibra, tarefa complicada numa empresa que passou a ter o controle pulverizado, na qual os maiores acionistas não chegam a ter 10% de participação acionária.

O aumento da participação acionária da Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) na Vibra em 2024 alimentou rumores de que seria o fundo de pensão o veículo de pressão do governo para que a Petrobras retomasse as rédeas na distribuidora. A Previ conseguiu o direito de indicar dois conselheiros de administração na empresa, mas passou a ser investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que apura se o investimento contribuiu para o déficit bilionário do ano passado no principal plano de benefícios da entidade.

Lula da Silva nunca escondeu o descontentamento sobre a privatização da BR e o desejo de que a Petrobras retome a distribuidora e as refinarias que vendeu e retorne à petroquímica. Assume um discurso de retrocesso monopolista que, mesmo parecendo inviável, colabora para o aumento da percepção de risco da companhia. Tudo isso é parte do vale-tudo do lulopetismo para reaver a influência estatal em algumas das maiores empresas brasileiras, o que inclui empresas privatizadas, como Eletrobras e Vale.

De acordo com reportagem do Estadão, o Conselho de Administração da Petrobras deve avaliar a inclusão da volta ao setor de distribuição no Plano de Negócios 2026-2030, em elaboração. A ideia – de jerico – é investir num projeto totalmente novo (greenfield), inclusive porque a marca BR Distribuidora permanece arrendada até 2029. Parece uma fórmula que já nasce fadada ao prejuízo e qualquer comparação com o déficit do investimento da Previ pode não ser apenas uma coincidência. Decisões de negócios movidas pela busca de poder político nada têm de estratégicas, ao menos não do ponto de vista comercial.

Lula da Silva, ao lado da presidente da Petrobras, Magda Chambriard, reclamou com veemência por não ter identificado nos postos de combustíveis a redução de 5,6% no preço da gasolina que a companhia promoveu em suas refinarias em junho. A queixa não parece dissociada da medida agora em avaliação e o motivo implícito é o controle de preços. Um desastre.

Educação do Ceará em destaque

O Povo (CE)

Quando o assunto é educação, sabe-se que há desafios a serem solucionados a médio e longo prazo. O Ceará, no entanto, é destaque positivo no tema, e a notícia divulgada acerca da alfabetização dos cearenses é, mais uma vez, motivo de celebração. O Estado superou, de novo, a meta nacional e se manteve como o único estado brasileiro a alcançar 85,3% das crianças da rede pública alfabetizadas na idade certa em 2024, referente ao fim do 2º ano do ensino fundamental. Atingiu, assim, o maior índice do País.

A meta cearense era de 80%. Além disso, o Ceará é o único estado do Brasil que superou a meta nacional de alfabetização na idade certa. Os dados divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) fazem parte do novo Indicador Criança Alfabetizada (ICA). Em todo o Brasil, 59,2% das crianças alcançaram o nível adequado de alfabetização, o que já é considerado um avanço em relação a 2023 (quando o índice atingiu 56%). A meta nacional era de 60% para 2024.

Os números colocam o Ceará na liderança nacional em alfabetização de crianças. Supera em mais de 25 pontos percentuais a média brasileira, que ficou abaixo da meta de 60% estabelecida para 2024. De acordo com a avaliação nacional também, mais da metade dos municípios brasileiros atingiram sua meta individual de alfabetização, e quase 60% melhoraram seus indicadores em relação ao ano anterior.

Em segundo lugar e terceiro lugar estão os estados de Goiás e de Minas Gerais, respectivamente com 72,7% e 72,1%. Onze estados atingiram suas metas regionais. Ademais, outros 18 estados apresentaram avanço nos números, mas seis registraram piora. São eles: Amazonas, Bahia, Paraná, Pará, Rondônia e Rio Grande do Sul.

É interessante lembrar que, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), considera-se alfabetizada a criança que é capaz de ler palavras, frases e textos curtos; localizar informações explícitas em pequenos textos (como bilhetes, crônicas e trechos de contos infantis); e inferir informações em textos com linguagem verbal e não verbal.

O Governo do Ceará atribui esse resultado à colaboração com os municípios por meio do Programa Aprendizagem na Idade Certa. É preciso, por certo, creditar o êxito ao sistema, aos recursos disponibilizados, ao comprometimento dos gestores e, sobretudo, aos docentes que se dedicam para que a etapa de alfabetização, no processo de ensino e aprendizagem, seja bem-sucedida.

Isso deve ser um tema para festejar, mas também um assunto motivador para estimular mais investimentos na educação: na oferta de recursos, no oferecimento de transporte e lanche para os alunos, na valorização dos professores - seja na remuneração justa, seja na capacitação constante. 

 

 

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