quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Virar a chave é preciso, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Nessa toada de atritos, a eleição de 2026 encontrará o país ainda preso na armadilha do fanatismo

Enquanto se discutem os efeitos da crise com os Estados Unidos e da possível condenação de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal, o país segue a reboque da queda de braço permanente entre os agrupamentos liderados por Luiz Inácio da Silva (PT) e seu antecessor.

A nenhum dos dois interessa a distensão do ambiente radicalizado no qual ambos alimentam suas performances e se mantêm relevantes na cena.

Essa dinâmica é paralisante e ficou ainda mais solidificada agora quando a ofensiva de Donald Trump acrescentou a ela o fator externo, mostrando do que o imperialismo é capaz.

Se faltava alguma coisa para a perpetuação dos ânimos acirrados, já não falta nada. Caímos na armadilha do fanatismo e dela não há saída à vista.

Haveria, se os comandantes do nefasto espetáculo se dispusessem a baixar armas e abrissem passagem para que o espaço fosse ocupado pelo bom senso, a boa e velha moderação embalada no pragmatismo necessário ao atendimento do que realmente importa para a vida dos brasileiros.

Será mesmo do interesse imediato da sociedade o moto perpétuo da luta de classes, a batalha por anistia aos golpistas ou o clamor pelo fim do foro privilegiado para deputados e senadores? Até mesmo a defesa da soberania nacional, uma vez posta como inegociável, deixa de mobilizar emoções para dar lugar a demandas mais objetivas e urgentes.

Na toada em que estamos, sem uma renovação de agenda, chegaremos ao ano eleitoral reféns do mesmo dilema: o embate entre duas forças antagônicas sustentadas por devotos, cujo propósito é a eliminação mútua.

Neste cenário sai derrotada a possibilidade da melhor escolha sob a ótica da boa qualificação. Perdem os que são apenas votantes sem o vezo da militância, relegados ao papel secundário na trajetória de condutores indesejados.

Ou essa chave é virada por impulso da racionalidade ou quem for eleito em 2026 vai se deparar com o mesmo Brasil tumultuado, sem perspectivas e de evolução interditada.

 

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