quarta-feira, 10 de setembro de 2025

De Jair a Tarcísio. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Sete anos e uma intentona depois, governador aposta em fórmula que elegeu o padrinho

Ao votar pela condenação de Jair Bolsonaro, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que o Brasil quase mergulhou numa nova ditadura porque o ex-presidente não soube perder. A frase ajuda a explicar a escalada do golpismo após a derrota do capitão nas urnas. Mas omite o fato de que seu ataque à democracia começou muito antes da tentativa frustrada de reeleição.

Bolsonaro nunca escondeu as intenções autoritárias. Desde a campanha de 2018, deixou claro que buscaria sufocar a oposição, calar a imprensa e emparedar o Judiciário. Seu projeto era desmontar o sistema de freios e contrapesos que protege o país de aspirantes a ditador.

O capitão ainda era candidato quando ameaçou “fuzilar a petralhada” e banir os “marginais vermelhos”. Na mesma época, seu filho Eduardo disse que só precisaria de “um soldado e um cabo” para fechar o Supremo Tribunal Federal.

O então candidato propôs outra ideia para subjugar a Corte: inflar o número de ministros de 11 para 21, o que produziria uma maioria instantânea a seu favor. O truque não seria novo. Já havia sido usado pela ditadura militar em 1965.

Bolsonaro fez carreira como porta-voz da extrema direita. Sempre defendeu a tortura e o extermínio de opositores. Em sete mandatos como deputado, especializou-se em ofender vítimas da repressão, incluindo viúvas e órfãos de desaparecidos. Quando não exaltava o arbítrio, ocupava-se em insultar minorias, condecorar milicianos e glorificar a violência policial.

Essa ficha não impediu que a elite econômica embarcasse em peso na sua candidatura. Valia tudo para promover reformas privatistas e remover a esquerda do poder.

Sete anos e uma intentona depois, outro presidenciável se insinua com discurso radical e apoio entusiasmado dos donos do PIB. Para se firmar como herdeiro do voto bolsonarista, Tarcísio de Freitas ataca as instituições e incita a tropa contra o Supremo. No intervalo de uma semana, o governador de São Paulo disse que não confia na Justiça, chamou o ministro Moraes de tirano e prometeu tirar golpistas da cadeia.

Já vimos esse filme —e a democracia quase morreu no final.

 

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