O Globo
Sete anos e uma intentona depois, governador
aposta em fórmula que elegeu o padrinho
Ao votar pela condenação de Jair Bolsonaro, o
ministro Alexandre de Moraes afirmou que o Brasil quase mergulhou numa nova
ditadura porque o ex-presidente não soube perder. A frase ajuda a explicar a
escalada do golpismo após a derrota do capitão nas urnas. Mas omite o fato de
que seu ataque à democracia começou muito antes da tentativa frustrada de
reeleição.
Bolsonaro nunca escondeu as intenções autoritárias. Desde a campanha de 2018, deixou claro que buscaria sufocar a oposição, calar a imprensa e emparedar o Judiciário. Seu projeto era desmontar o sistema de freios e contrapesos que protege o país de aspirantes a ditador.
O capitão ainda era candidato quando ameaçou
“fuzilar a petralhada” e banir os “marginais vermelhos”. Na mesma época, seu
filho Eduardo disse que só precisaria de “um soldado e um cabo” para fechar o
Supremo Tribunal Federal.
O então candidato propôs outra ideia para
subjugar a Corte: inflar o número de ministros de 11 para 21, o que produziria
uma maioria instantânea a seu favor. O truque não seria novo. Já havia sido
usado pela ditadura militar em 1965.
Bolsonaro fez carreira como porta-voz da
extrema direita. Sempre defendeu a tortura e o extermínio de opositores. Em
sete mandatos como deputado, especializou-se em ofender vítimas da repressão,
incluindo viúvas e órfãos de desaparecidos. Quando não exaltava o arbítrio,
ocupava-se em insultar minorias, condecorar milicianos e glorificar a violência
policial.
Essa ficha não impediu que a elite econômica
embarcasse em peso na sua candidatura. Valia tudo para promover reformas
privatistas e remover a esquerda do poder.
Sete anos e uma intentona depois, outro
presidenciável se insinua com discurso radical e apoio entusiasmado dos donos
do PIB. Para se firmar como herdeiro do voto bolsonarista, Tarcísio de Freitas
ataca as instituições e incita a tropa contra o Supremo. No intervalo de uma
semana, o governador de São Paulo disse que não confia na Justiça, chamou o
ministro Moraes de tirano e prometeu tirar golpistas da cadeia.
Já vimos esse filme —e a democracia quase
morreu no final.
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