Folha de S. Paulo
Existem interesses de longo prazo na
aproximação entre países que levou a encontro de Trump com Lula
Rubio diz que EUA querem ser parceiros
preferenciais em detrimento da China, mas missão não será fácil
O Brasil é um país grande e importante. Essa
foi a resposta de Marco Rubio, secretário de Estado dos Estados
Unidos, ao ser questionado sobre o objetivo do
encontro entre Donald Trump e Lula em
Kuala Lampur, na Malásia.
Ainda que as tarifas impostas por Trump tenham prejudicado a economia norte-americana, existem interesses de longo prazo em jogo na aproximação entre os dois países. Rubio afirma que os Estados Unidos querem se tornar os parceiros comerciais preferenciais do Brasil em detrimento da China. A missão não será fácil.
Após o tarifaço americano, o Brasil registrou
em agosto um incremento de 30% nas exportações para a China e um recuo de 18%
nas vendas para os EUA. Além disso, Lula já afirmou que "o mundo de hoje
não aceita mais uma nova Guerra Fria" e que o Brasil quer estar "do
lado de todos os países do mundo que queiram fazer negócio conosco". Mas
não qualquer negócio.
Dias antes de seguir para a Malásia, Lula
declarou em Jacarta, na Indonésia, que o Brasil "não quer reproduzir a
condição de meros exportadores de commodities". Citou como inspiração a
própria Indonésia, que incentiva o processamento de minério bruto em seu
próprio território.
O modo como o Brasil irá lidar com os
chamados minerais críticos é de extrema importância em meio à rápida transição
para um novo sistema energético. Não à toa, tais minerais estão no topo das
parcerias estratégicas que o governo brasileiro deve propor ao governo
norte-americano.
Na Indonésia, Lula destacou a criação do
Conselho Nacional de Política Mineral como um passo fundamental para garantir a
soberania do Brasil no setor. Porém, para que o país possa, de fato, aproveitar
todo o seu potencial, há muito mais a ser feito.
De acordo com economistas do Net Zero Industry Policy Lab, abrigado na Johns
Hopkins University, o Brasil, com seu tamanho e riqueza de recursos, pode se
tornar uma potência de primeira linha na ordem geopolítica emergente, ao lado
da China, dos Estados Unidos e da Rússia
O país pode liderar setores críticos para a
economia verde global de 2050, como metais de transição, biocombustíveis, aço
de baixo carbono, fabricação de turbinas eólicas e fabricação de aeronaves. O
Brasil possui tudo o que é necessário para se tornar um grande produtor e
exportador de energia, materiais e tecnologia: reservas significativas de
petróleo e gás e expertise, além de minerais essenciais, recursos renováveis,
biocapacidade e base industrial.
Porém, para aproveitar todo esse potencial, é
preciso fazer a lição de casa. Isso inclui: concentrar a política industrial em
subsetores ou áreas tecnológicas específicas; evitar a dispersão dos 60 bilhões
de dólares alocados para a Nova Indústria Brasil (NIB); se firmar em setores
altamente competitivos; ter um plano claro de colaboração entre governo,
empresas, sindicatos, sociedade civil e especialistas independentes; e investir
em sinergias entre educação, inovação e indústrias estratégicas, seguindo os
modelos da Embraer, da Embrapa e da Petrobras.
Mas a principal lição é, segundo a
especialista Carlota Perez, evitar a (re)primarização e a dependência de
commodities. Ao que tudo indica, ao menos no discurso, começamos bem.

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