quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Maior banqueiro dos Estados Unidos lança teoria da barata para falar de perigo de bolha, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Onde tem uma barata, tem mais, diz presidente do JPMorgan sobre quebra de duas empresas

China peita os EUA, Trump ameaça Venezuela, mundo rico tem dívida ruim, riscos se espalham

Há uma bolha de inteligência artificial? De crédito ruim? Zumbis existem? O maior banqueiro dos Estados Unidos acredita em baratas. Quando se vê uma barata, tem mais por aí, diz. Se empresas financiadas por "bancos paralelos" ("shadow banks") quebram de modo estrambótico, em cantos menos visíveis pode haver mais financiamento irresponsável, à beira de estourar e, quem sabe, de afetar o sistema financeiro.

"Fico de antena ligada quando coisas assim acontecem. Provavelmente não deveria dizer isso, mas, quando você vê uma barata, provavelmente há outras. Então, a esta altura todo mundo deveria estar avisado", disse Jamie Dimon, presidente do JPMorgan, na terça, em conversa com analistas que acompanham os negócios do banco.

Não se referia a bolha de IA. Uma financeira de carros e uma fabricante de autopeças quebraram por rolos diversos de crédito. Há mais excesso ou financiamento podre escondido? Há mais falências por vir, agora que a economia americana desaquece, afora a IA? Dimon acha que tem mais barata por aí. Talvez tenha sido apenas um aviso a seus subordinados, para que não comam mosca e procurem mais insetos nos registros do banco.

Neste momento, há também gente fazendo "hedge" de reputação, digamos, limpeza prévia de barra. Isto é, dando alertas genéricos de bolha. No pior dos casos, poderiam vir a dizer, "eu avisei". Quando em 2006 surgiram argumentos substantivos de que a crise financeira estava para estourar, o establishment mundial não ligou ou fingiu que não viu. Deu em 2008, desastre econômico e, depois, político com consequências que se desenrolam até hoje, 2025.

O que falta nos alertas de bolha de agora são descrições mais fundamentadas de excessos no crédito (em volume, qualidade) ou financiamento incompatível com a perspectiva dos negócios (do retorno esperado, do desempenho em ambiente de crescimento menor). No caso de IA, muito depende de retornos das empresas envolvidas, de adoção da tecnologia, do resultado que podem dar para empresas clientes, de recursos que as clientes terão para adquirir a tecnologia, do futuro incógnito do PIB dos EUA no curto prazo etc. Quem sabe?

A presidente do Citigroup, Jane Fraser, acha que a economia tem resistido aos choques, mais do que se imaginava, como disse o FMI e tanta gente mais. "Isto posto, há bolsões de espuma de preços no mercado", observou.

No entanto, a própria valorização do complexo de empresas de IA pode estar animando a valorização excessiva de companhias que nada têm nada a ver com o peixe ou com o mar das "big techs". Sobem com a maré. Uma queda mais abrupta do consumo nos EUA ou bomba maior na economia ou na política do mundo podem derrubar as ações dessas empresas e quem as comprou (dois terços das famílias americanas têm investimento direto ou indireto em ações).

Há risco de choques por aí, cada vez mais. A China peita os EUA. Donald Trump vai deixar barato ou vai amarelar, com medo de colapso de preço de ações? Trump agora ameaça levar guerra à Venezuela —como o Brasil negociaria com os americanos enquanto eles estivessem bombardeando Nicolás Maduro? Vai ocorrer acidente por causa das contas públicas de FrançaJapão ou Reino Unido? Um sucesso dos ataques de Trump ao Fed, ao BC dos EUA, pode causar fuga do dólar mais relevante no curto prazo?

Muita vez, onde há uma barata ou muitas há sujeira. O mundo está cheio de lixo para recolher.

 

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