Folha de S. Paulo
Onde tem uma barata, tem mais, diz presidente
do JPMorgan sobre quebra de duas empresas
China peita os EUA, Trump ameaça Venezuela,
mundo rico tem dívida ruim, riscos se espalham
Há uma bolha de inteligência
artificial? De crédito ruim? Zumbis existem? O maior banqueiro dos Estados
Unidos acredita em baratas. Quando se vê uma barata, tem mais por aí,
diz. Se empresas financiadas por "bancos paralelos" ("shadow
banks") quebram de modo estrambótico, em cantos menos visíveis pode haver
mais financiamento irresponsável, à beira de estourar e, quem sabe, de afetar o
sistema financeiro.
"Fico de antena ligada quando coisas assim acontecem. Provavelmente não deveria dizer isso, mas, quando você vê uma barata, provavelmente há outras. Então, a esta altura todo mundo deveria estar avisado", disse Jamie Dimon, presidente do JPMorgan, na terça, em conversa com analistas que acompanham os negócios do banco.
Não se referia a bolha de IA. Uma financeira
de carros e
uma fabricante de autopeças quebraram por rolos diversos de crédito. Há mais
excesso ou financiamento podre escondido? Há mais falências por vir, agora que
a economia americana
desaquece, afora a IA? Dimon acha que tem mais barata por aí. Talvez tenha sido
apenas um aviso a seus subordinados, para que não comam mosca e procurem mais
insetos nos registros do banco.
Neste momento, há também gente fazendo
"hedge" de reputação, digamos, limpeza prévia de barra. Isto é, dando
alertas genéricos de bolha. No pior dos casos, poderiam vir a dizer, "eu
avisei". Quando em 2006 surgiram argumentos substantivos de que a crise
financeira estava para estourar, o establishment mundial não ligou ou fingiu
que não viu. Deu em 2008, desastre econômico e, depois, político com
consequências que se desenrolam até hoje, 2025.
O que falta nos alertas de bolha de agora são
descrições mais fundamentadas de excessos no crédito (em volume, qualidade) ou
financiamento incompatível com a perspectiva dos negócios (do retorno esperado,
do desempenho em ambiente de crescimento menor). No caso de IA, muito depende
de retornos das empresas envolvidas, de adoção da tecnologia,
do resultado que podem dar para empresas clientes, de recursos que as clientes
terão para adquirir a tecnologia, do futuro incógnito do PIB dos EUA no curto
prazo etc. Quem sabe?
A presidente do Citigroup, Jane Fraser, acha
que a economia tem resistido aos choques, mais do que se imaginava, como disse
o FMI e
tanta gente mais. "Isto posto, há bolsões de espuma de preços no
mercado", observou.
No entanto, a própria valorização do complexo
de empresas de IA pode estar animando a valorização excessiva de companhias que
nada têm nada a ver com o peixe ou com o mar das "big techs". Sobem
com a maré. Uma queda mais abrupta do consumo nos EUA ou bomba maior na
economia ou na política do mundo podem derrubar as ações dessas empresas e quem
as comprou (dois terços das famílias americanas têm investimento direto ou
indireto em ações).
Há risco de choques por aí, cada vez mais.
A China peita
os EUA. Donald
Trump vai deixar barato ou vai amarelar, com medo de colapso de preço
de ações? Trump
agora ameaça levar guerra à Venezuela —como o Brasil negociaria com os
americanos enquanto eles estivessem bombardeando Nicolás Maduro? Vai ocorrer
acidente por causa das contas públicas de França, Japão ou Reino Unido?
Um sucesso dos ataques de Trump ao Fed, ao BC dos EUA,
pode causar fuga do dólar mais
relevante no curto prazo?
Muita vez, onde há uma barata ou muitas há
sujeira. O mundo está cheio de lixo para recolher.
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