O Globo
Relação pessoal de Lula com o postulante a
ministro do STF pesa mais que qualquer padrinho político de peso
Em entrevista ao documentário “Visita,
presidente”, da GloboNews, o então advogado Cristiano Zanin contou o que
testemunhou no 7 de abril de 2018, dia em que Lula chegou à Polícia Federal, em
Curitiba, para cumprir 580 dias de prisão:
— Então, o presidente colocou ali a sua mala,
ele havia levado uma mala com algumas roupas. Eu e o Sigmaringa [Seixas,
advogado e amigo de Lula, que morreu em 2018] perguntamos se ele queria ajuda
para fazer a cama. E aí ele disse: “Não precisa. Vou ficar aqui por um tempo,
então vou ter que aprender a desenvolver uma rotina aqui dentro”.
Continuou:
— Ele não quis comer nada. Era um dia muito
triste para todos nós, e sobretudo para ele.
O trecho acima ilustra a razão de Lula, cinco anos depois, ter escolhido Zanin ministro do Supremo. A proximidade e a lealdade foram os atributos fundamentais. Meses depois, numa nova vaga, o mesmo critério. Flávio Dino foi protagonista nas defesas política e jurídica do governo no 8 de Janeiro. Saiu da cabeça de Dino — e do celular dele, literalmente — o decreto de intervenção federal na segurança do Distrito Federal enviado para Lula.
A esta altura do campeonato, está claro que a
relação pessoal de Lula com o postulante a ministro do STF pesa mais que
qualquer padrinho político de peso. Por isso o encontro de Lula anteontem com
quatro ministros do Supremo para tratar da vaga de Luís Roberto Barroso não é
necessariamente uma vitória para o senador Rodrigo Pacheco. Ele tem como
padrinhos não só os mais influentes ministros do STF, como também parte
expressiva do Senado. Mas o ativo de Pacheco pode ser sua fraqueza. Um ministro
que deva a indicação a seus padrinhos pode significar um ministro com menos
compromissos com o próprio Lula.
O presidente vê como erro indicações do
passado que, na avaliação dele, não tiveram coragem de acolher sua defesa
quando a polícia bateu na sua porta. Nesse cenário, o advogado-geral da União,
Jorge Messias, continua como favorito para levar a vaga. Messias não tem o peso
político de Pacheco, nem seus padrinhos, mas se mostrou leal na defesa de
assuntos de interesse de Lula, além de no mais importante: esteve com o PT nos
altos e baixos.
Lula gosta de Pacheco, e ele não está fora do
páreo. É nome forte até para as próximas indicações ao STF, se Lula se
reeleger. Mas, para isso, ele tem um pedágio pela frente: candidatar-se ao
governo de Minas. Um dos maiores desafios eleitorais de Lula é construir
palanque no segundo maior colégio eleitoral do país, que deu a vitória a todos
os presidentes desde a redemocratização. Ocorre que, para Pacheco abraçar a
causa de Lula, precisa de estrutura para disputar, e isso começa com a ida para
um outro partido. Pelo PSD, não consegue concorrer. União, MDB e PSB são opções
difíceis, mas possíveis se Lula entrar em campo.
— Ele topa concorrer, mas precisa de uma
Ferrari, e por enquanto sinalizaram com um Fusca — diz um aliado.
Um ministro palaciano, ciente das
dificuldades colocadas pelo senador, resume o desafio:
— Para além dos padrinhos, Pacheco precisa
cumprir uma missão, se quiser o STF. E ela passa por Minas.
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