O Estado de S. Paulo
Confiante numa vitória em 2026, Lula está prejudicando a própria governabilidade
Lula parece ter afastado de si qualquer
preocupação sobre como vai governar, se ganhar a próxima eleição. Que ele acha
que já levou. A soberba é um pecado grave também na política, mas esse problema
é só dele.
O problema para o resto do País é avaliar em
que medida as táticas político-eleitorais para permanecer no poder, ganhando a
eleição, ofendem um princípio milenar da estratégia. Princípio que consiste em
não destruir aquilo que se quer conquistar e manter.
Lula tem atuado contra a sua própria governabilidade em duas direções, cujos sinais de convergência são gritantes hoje mesmo. O primeiro é a armadilha fiscal pela qual garante que gastos vão subir sempre mais que as receitas.
Sim, é sempre possível fazer depois das
eleições o que se garantia antes que jamais seria feito. Dilma provocou uma
formidável recessão por executar o ideário lulopetista, e achou que um “cavalo
de pau” após a vitória em 2014 passaria em branco. Foi um dos fatores que lhe
custaram a cabeça dois anos depois.
A segunda direção na qual Lula atua para complicar a própria vida é declarar como “inimigo do povo” o Congresso do qual dependerá para fazer qualquer coisa. Se no dia de hoje os especialistas em pesquisas de opinião e as agências de risco atestam uma forte competitividade de Lula frente a possíveis adversários, por outro lado ninguém assume um Congresso mais, digamos, “benigno” ao presidente após 2026. Ao contrário.
Lula tem subestimado o grau de resistência
social a ele e ao PT, um tipo de fenômeno de grande abrangência que o apelo das
tradicionais políticas assistencialistas e de bondades por parte do governo não
tem sido capaz de superar. Essa resistência está associada a fatores
estruturais de longo prazo – o que explica o motivo de Lula ser visto por uma
maioria do público como alguém com prazo de validade esgotado.
Os fatores geopolíticos notoriamente fogem ao
controle de Lula, mas ele não enxergou ou falhou num ponto crucial para o País:
evitar que fosse feita por nós uma escolha de Sofia. E ela está sendo feita, em
favor da China, no confronto gigantesco com os Estados Unidos. A turbulência
nesse sentido será para lá de severa para qualquer governo brasileiro,
especialmente um eventual quarto governo Lula.
Uma parte relevante do que se poderia chamar
de “elite” em vários segmentos da economia brasileira está acabrunhada diante
de três cenários hostis imediatos: o da geopolítica, o das contas públicas e o
do desequilíbrio institucional, que Lula pensa poder controlar via aliança com
o STF. A sensação é a de capitães à deriva, ouvindo o mar batendo nas pedras.
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