sábado, 25 de outubro de 2014

Opinião do dia – Roberto Freire

O Brasil corre o risco de reeleger uma presidente que talvez começará o mandato com uma suspeita de envolvimento no escândalo da Petrobras

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS

Doleiro acusa Lula e Dilma; PT fala em terrorismo, e Aécio, em caixa dois

• Alberto Youssef diz em depoimento que ex-presidente e sua sucessora tinham conhecimento dos desvios na Petrobras

• Candidata usou último dia de horário eleitoral para rebater acusações; tema também pautou debate da Globo à noite

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O doleiro Alberto Youssef disse em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, no seu processo de delação premiada, que a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento do esquema de desvio de dinheiro envolvendo contratos na Petrobras.

A informação foi divulgada pela revista "Veja", que antecipou sua circulação para esta sexta-feira (24), e foi confirmada pela Folha.

Youssef é um dos principais réus da Operação Lava Jato, que investiga suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção na empresa estatal.

A campanha petista usou o último dia do horário eleitoral gratuito na TV para responder à revista "Veja".

Dilma classificou de "terrorismo eleitoral" a decisão da revista de publicar a reportagem faltando dois dias para o segundo turno eleitoral.

Eurípedes Alcântara, diretor da revista, disse que Dilma "centrou suas críticas no mensageiro, quando, na verdade, o cerne do problema foi produzido pelos fatos degradantes ocorridos na Petrobras".

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, classificou os relatos de acusações "extremamente graves". Segundo o tucano, elas sugerem que houve uso de caixa dois na campanha petista.

Os escândalos de corrupção na Petrobras também pautaram o último debate antes da eleição presidencial de domingo, na Globo, à noite.

Doleiro diz que Lula ordenou pagamento a agência suspeita

• Sem dar detalhe ou apresentar prova, Youssef cita telefonema de 2010 do então presidente da República ao então presidente da Petrobrás

Ricardo Brandt e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O doleiro Alberto Youssef afirmou nos termos de sua delação premiada que o então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva teria dado uma ordem em 2010 ao então presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, para que ele resolvesse uma pendência com uma agência de publicidade suspeita de integrar o esquema de corrupção na Petrobrás.

“O Lula ligou para o Gabrielli e falou que tinha que resolver essa merda”, revelou o doleiro em um dos seus vários depoimentos que vem prestando à Justiça a fim de tentar reduzir sua pena ao colaborar com as investigações da Operação Lava Jato.

Youssef, que está preso sob acusação de integrar um megaesquema de lavagem de dinheiro que envolvia contratos milionários da Petrobrás, não deu detalhes sobre como ficou sabendo desse suposto telefonema.

No depoimento, Youssef afirmou que, depois da suposta ordem, Gabrielli teria acionado o então diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, outro personagem central do caso, e pedido para que ele usasse “o dinheiro das empreiteiras e passasse para a agência”.

Empreiteiras são suspeitas de pagar pedágio ao esquema com o objetivo de obter contratos da Petrobrás. Esse pedágio seria usado para abastecer partidos da base do governo Lula e do governo da presidente Dilma Rousseff, segundo disseram o doleiro e o ex-diretor da Petrobrás em suas delações premiadas. A dupla implicou o PT, o PMDB e o PP. Costa ainda afirmou que o PSDB, da oposição, recebeu dinheiro para ajudar abafar uma CPI sobre a Petrobrás em 2009.

Repasses. A agência de publicidade que teria recebido o repasse de empreiteiras, ainda segundo disse Youssef, é a Muranno Marketing/Brasil. Trata-se de uma empresa suspeita de integrar o esquema de propinas.

Segundo o doleiro, a agência tinha valores a receber e, em razão disso, ameaçava tornar pública a corrupção na Petrobrás.

Youssef não cita datas nem como foi feito o pagamento à agência. A Polícia Federal, porém, identificou dois repasses, num total de R$ 1,7 milhão, à agência via MO Consultoria, empresa do doleiro. O repasse é datado de 22 de dezembro de 2010. Houve ainda outros três depósitos à agência, num total de R$ 509 mil, nos dias 12 e 13 de janeiro de 2011, feitos pela empresa Sanko Sider, também investigada pela Lava Jato.

Ouviu dizer. Além do suposto telefonema entre Lula e Gabrielli, o doleiro fez outras referências a Lula e à suposta ciência do Palácio do Planalto em relação ao esquema: “Todas as pessoas com quem eu trabalhava diziam o seguinte: ‘todo mundo sabia lá em cima, que tinha aval para operar. Não tinha como operar um tamanho esquema desse se não houvesse o aval do Executivo. Não era possível que funcionasse se alguém de cima não soubesse, as peças não se moviam”.

O doleiro também disse no depoimento da delação: “Era impossível o Lula governar se não tivesse esse esquema. O Lula era refém desse esquema”, afirmou. Como exemplo, citou o episódio da disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados em 2005. Na ocasião o PT queria no cargo o então deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), mas teve que se curvar à exigência de José Janene (PP-PR), que morreu em 2010 e é apontado como a ponte entre o esquema e o Congresso. Na época, Janene teria imposto o nome de Severino Cavalcanti (PP-PE) para o comando da Câmara. Cavalcanti acabou eleito.

Youssef é apontado como sócio de Janene e suposto criador do esquema de propina na Petrobrás comandado pelo PP. O doleiro, que ainda não teve a delação homologada pela Justiça, diz que ainda apresentará provas sobre suas declarações. O esquema teria atuado entre 2004 e 2012, período em que Costa esteve na diretoria de Abastecimento da Petrobrás.

Com a palavra, a defesa:
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “não comenta vazamentos parciais de delação premiada, nem depoimentos aos quais sequer teve acesso”.

O ex-presidente da Petrobrás (2005-2012), hoje secretário de Estado de Planejamento da Bahia, José Sergio Gabrielli, rechaçou com veemência as informações do doleiro Alberto Youssef em sua delação.

Por meio de sua assessoria, Gabrielli assegura que jamais tratou de eventuais problemas de pagamentos a agências de publicidade com o doleiro, alvo da Operação Lava Jato, “ou com qualquer outra pessoa”.

Gabrielli esclareceu, ainda, taxativamente, que “não conhece o senhor Alberto Youssef e nunca teve qualquer tipo de contato presencial ou telefônico com ele ou com pessoas ligadas às suas empresas”. Para o ex-presidente da Petrobrás, “as falsas informações atribuídas à delação premiada do doleiro são uma tentativa desesperada de interferir no 2.º turno das eleições”.
“Os advogados do ex-presidente já analisam medidas judiciais cabíveis para reparar as acusações infundadas divulgadas”, destacou a assessoria.

A Muranno Marketing foi procurada nos contatos disponíveis e ninguém foi localizado.

O criminalista Antonio Figueiredo Basto, que comanda o núcleo de defesa de Youssef, argumentou que não pode comentar o depoimento de seu cliente no âmbito da delação premiada porque ela é protegida pelo sigilo. Ele afirmou que Youssef nunca citou a ele os nomes da presidente Dilma e do ex-presidente Lula. “O Beto (Youssef) me disse apenas que tudo ‘vinha lá de cima’, Lamento que esse clima de eleição está gerando loucura no Brasil, muita especulação.”

Basto diz suspeitar que o vazamento da delação “é obra de algum grupo econômico que quer ‘melar’ a delação”. “Eu não posso desmentir nem confirmar (os dados da delação) porque a defesa não ficou de posse dos depoimentos.”

Ligada à corrupção na Petrobrás, Dilma acusa revista de ‘terrorismo eleitoral’

• Presidente usa horário de TV para rebater reportagem de ‘Veja’ segundo a qual ela e Lula sabiam de esquema de desvios na estatal e diz que o bjetivo é ‘reverter a decisão popular’; revista sustenta que apuração teve a ‘clareza necessária para publicação

Lilian Venturini - O Estado de S. Paulo
A presidente Dilma Rousseff (PT) acusou a revista Veja de promover um “ato de terrorismo eleitoral” ao publicar reportagem segundo a qual ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento de um esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás. A campanha petista dedicou quase 6 dos 10 minutos do horário eleitoral da TV na tarde de sexta-feira, 24, para responder à publicação que, segundo a presidente, trouxe “falsas denúncias” com a intenção de “interferir” no resultado das eleições.

A revista, que adiantou para sexta a circulação de sua edição do fim de semana, publicou trechos de um depoimento atribuído ao doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, segundo o qual ele teria dito à Justiça Federal que Lula e Dilma sabiam do esquema na estatal. O depoimento, segundo a Veja, foi prestado na terça-feira, na sede da Polícia Federal em Curitiba, como parte do acordo de delação premiada feito entre Youssef e a Justiça. Conforme a reportagem, ele não apresentou provas durante o depoimento.

No penúltimo programa eleitoral da TV, veiculado no início da tarde, Dilma reagiu à publicação com um discurso inflamado. A petista falou por 3min37s. “Eu gostaria de encerrar minha campanha na TV de outra forma, mas não posso me calar frente a este ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja e seus cúmplices ocultos”, afirmou.

No horário eleitoral, a campanha petista atribuiu à reportagem tentativa de “reverter a decisão popular” e destacou o fato de a publicação ocorrer às vésperas da eleição e após a divulgação de pesquisas de intenção de voto apontarem vantagem de Dilma sobre o candidato Aécio Neves (PSDB). “A revista excedeu todos os limites da decência e da falta de ética. (...) A revista comete esta barbaridade, esta infâmia contra mim e Lula, sem apresentar a mínima prova. Isso é um absurdo, isso é um crime. É mais do que clara a intenção malévola daVeja de interferir de forma desonesta e desleal no resultado das eleições”, afirmou a presidente.

Ao encerrar sua fala, a petista prometeu processar a revista. “Darei a minha resposta a eles na Justiça”, afirmou. No programa exibido à noite, o último antes da votação, Dilma não tratou do assunto – que foi abordado apenas por atores que apresentaram o programa. A reportagem foi exibida pela propaganda de Aécio.

Durante uma caminhada em apoio à campanha de Dilma no centro de São Paulo, o ex-presidente Lula evitou comentários. “O problema da Veja, fala a Veja. Eu não acho nada”, disse.

‘Grau de informação’. Na introdução da matéria, um texto afirma que a revista “não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato”, mas “fatos com o objetivo de aumentar o grau de informação de seus leitores”.

Em nota divulgada no fim da tarde, a revista ressaltou que os fatos descritos na reportagem ocorreram na terça-feira e a apuração atingiu a “clareza necessária para publicação”. “Parece evidente que o corolário de ver nos fatos narrados porVeja um efeito eleitoral por terem vindo a público antes das eleições é reconhecer que temeridade mesmo seria tê-los escondido até o fechamento das urnas.”

Um grupo com cerca de 20 pessoas realizou na noite de sexta um protesto em frente ao prédio da Editora Abril – que edita a Veja –, na zona oeste de São Paulo. Os manifestantes jogaram papel na entrada do prédio, picharam um dos muros e atiraram pedras. A polícia dispersou o ato pouco depois. Até a conclusão desta edição não havia informações sobre detidos. A Abril informou por meio de sua assessoria que não iria comentar. / Colaboraram Mateus Coutinho, Ricardo Chapola e Carla Araújo

TSE nega pedido de Dilma para retirar do Facebook de 'Veja' chamada para denúncia

• Campanha alegou que revista antecipou de forma extraordinária a edição para 'tentar afetar a lisura do pleito eleitoral'; para tribunal, disposição apontado pela coligação não tem efeito nestas eleições

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral, negou nesta sexta-feira, 24, liminar da coligação da candidata Dilma Rousseff (PT) que pedia a retirada de uma postagem no Facebook da revista Veja que chamava para a reportagem que liga a petista a escândalos da Petrobrás.

A mensagem postada na rede social menciona a reportagem segundo a qual o doleiro Alberto Youssef teria revelado à Justiça que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento de práticas de corrupção na Petrobrás. "Tudo que você queria saber sobre o escândalo da Petrobrás: Dilma e Lula sabiam. Amanhã nas bancas, no tablet e no Iphone!", diz a mensagem publicada na internet.

A Coligação com a Força do Povo, da presidente e candidata à reeleição, alegou ao TSE que a revista antecipou de forma extraordinária a edição para "tentar afetar a lisura do pleito eleitoral". Os advogados da campanha classificam a reportagem como "matéria absurda de capa" que "imputa crime de responsabilidade à candidata".

O ministro do TSE entendeu que o dispositivo da legislação apontado pela coligação da petista para pedir a retirada da mensagem da internet não tem eficácia nas eleições de 2014. O dispositivo da Lei das Eleições que prevê que a Justiça Eleitoral determine a retirada de publicações de contenham ataques a candidatos nas redes sociais foi incluído pela minirreforma eleitoral, de dezembro, que não se aplica às eleições deste ano.

O pedido liminar para retirada imediata da mensagem da internet foi negado e proibição de postagens com conteúdo semelhante foi negado e a representação, extinta.

TSE proíbe 'Veja' de fazer propaganda de capa com Dilma e Lula

• Decisão atende a pedido da campanha petista, que vê benefício eleitoral a Aécio Neves com publicidade de reportagem

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu liminar na noite desta sexta-feira, 24, que proíbe a editora Abril, responsável por publicar a revista Veja, de fazer propaganda em qualquer meio de comunicação da reportagem de capa segundo a qual a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam conhecimento do esquema de corrupção da Petrobrás. A reportagem diz se basear em depoimento prestado na última terça-feira, 21, pelo doleiro Alberto Youssef no processo de delação premiada a que ele se submete para ter direito à redução de pena.

O pedido para impedir a publicidade da matéria foi apresentado pela campanha de Dilma na tarde desta sexta-feira. A defesa da petista requereu ao tribunal que a revista se abstivesse fazer propaganda de sua capa, que tem, na opinião dos advogados de Dilma, conteúdo ofensivo à candidata à reeleição. Para a campanha petista, uma eventual publicidade do caso tem por objetivo único beneficiar a candidatura do tucano Aécio Neves.

A ação da defesa de Dilma se ampara no artigo da Lei das Eleições que prevê que a propaganda eleitoral no rádio e na televisão restringe-se ao horário gratuito, sendo proibida a veiculação de propaganda paga. Essa mesma vedação, segundo campanha da petista, é estendida à divulgação de propaganda na internet e por meio de outdoors. Em caso de descumprimento da liminar, os advogados de Dilma cobram a aplicação de multa de R$ 1 milhão por veiculação proibida.

A campanha da presidente argumentou ainda que a revista Veja antecipou sua edição em dois dias com a “nítida intenção de tumultuar a lisura do pleito eleitoral do próximo domingo (26)”.

Citam ainda que a revista teria postado no Facebook dela, com 5,4 milhões de seguidores, notícia com o título “Tudo o que você queria saber sobre o escândalo da Petrobrás: Dilma e Lula sabiam”. Essa propaganda teria sido reproduzida na página oficial do PSDB, partido do adversário na disputa ao Palácio do Planalto, também na mesma rede social.

Em sua defesa, a Editora Abril sustentou que as liberdades de comunicação e de atividade econômica são direitos previstos na Constituição. Esses direitos, disse a editora, "não podem ser sufocados por medidas de cunho censor sob a alegação de imaginária propaganda eleitoral”.

Para Abril, o que se pretende é “impedir a imprensa de divulgar assunto que a sociedade tem o direito de tomar conhecimento”. “Não houve ilícito algum na matéria publicada na edição e tampouco nas propagandas de divulgação da revista, de modo que a representada (Editora Abril) agiu no seu estrito direito constitucional”, afirmou.

Em parecer, o procurador-geral Eleitoral, Rodrigo Janot, manifestou-se a favor da campanha da Dilma. Para Janot, diante da iminência da realização de uma propaganda eleitoral irregular, é necessário proibir a divulgação das publicidades sob pena de acarretar “prejuízo irreparável ao equilíbrio e (à) lisura do pleito”.

Em sua decisão, o ministro Admar Gonzaga, relator do processo, afirmou que há elementos para acatar o pedido liminar, suspendendo, até o julgamento do mérito, qualquer publicidade da editora sobre o assunto. Segundo ele, cabe ao TSE “velar pela preservação da isonomia entre os candidatos que disputam o pleito”. “Desse modo, ainda que a divulgação da revista Veja apresente nítidos propósitos comerciais, os contornos de propaganda eleitoral, a meu ver, atraem a incidência da legislação eleitoral, por consubstanciar interferência indevida e grave em detrimento de uma das candidaturas”, afirmou o ministro.

Admar Gonzaga - um dos advogados da campanha de Dilma em 2010 - disse ainda que a antecipação em dois dias da divulgação da revista “poderá transformar a veiculação em verdadeiro panfletário de campanha, o que, a toda evidência, desborda do direito/dever de informação e da liberdade de expressão”.

“No caso, muito embora o periódico possa cuidar - em suas páginas - desse tema sensível, confirmando sua linha editorial de maior simpatia a uma das candidaturas postas, entendo que a transmissão dessa publicidade por meio de rádio, ou seja, de um serviço que é objeto de concessão pelo Poder Público e de grande penetração, desborda do seu elevado mister de informar, com liberdade, para convolar-se em publicidade eleitoral em favor de uma candidatura em detrimento de outra”, afirmou o ministro, em decisão divulgada às 23h36 desta sexta-feira, 24.

Corrupção domina o último debate entre Dilma e Aécio

• Eleitores indecisos fizeram perguntas aos candidatos no último embate do 2º turno

• Embora menos agressivos, Dilma e Aécio recorrem a temas como corrupção e gestão para tentar convencer indecisos

Ana Fernandes, Daniel Galvão, Vera Rosa, Luciana Nunes Leal e Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

No último debate antes da votação em 2.º turno, realizado na noite de sexta-feira pela TV Globo, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) adotaram um comportamento mais polido, mas sem deixar de insistir nas táticas de desconstrução que marcaram toda a campanha presidencial. O tucano reforçou a estratégia de ligar a candidata do PT a casos de corrupção e questionar a situação econômica do País, enquanto Dilma levou para a discussão a crise hídrica do governo do PSDB em São Paulo e questionou a gestão de Aécio em Minas.

O debate ocorreu um dia depois de as pesquisas Ibope e Datafolha mostrarem que na reta final da campanha Dilma tem, respectivamente, oito e seis pontos porcentuais de vantagem sobre o candidato do PSDB.

Após a rejeição demonstrada ao clima beligerante de encontros anteriores, os candidatos demonstravam a nítida preocupação de não parecerem agressivos nas perguntas e respostas. Eles entraram lado a lado no estúdio da emissora, no Rio de Janeiro, e se cumprimentaram antes do início do debate.

O clima cordial parou por aí. Para garantir a audiência inicial do debate, Aécio abordou a reportagem da Veja logo na primeira pergunta. Segundo a revista, que adiantou para sexta-feira a circulação de sua edição do fim de semana, em depoimento na Justiça Federal como parte do acordo delação premiada, o doleiro Alberto Youssef – preso na Operação Lava Jato – disse que Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam do esquema de corrupção na Petrobrás.

O tucano questionou se a presidente tinha conhecimento das irregularidades. Ao introduzir a pergunta, voltou afirmar que ele, Marina Silva (PSB) e Eduardo Campos (PSB) – que morreu em um acidente aéreo – enfrentaram uma “campanha sórdida” e foram vítimas de calúnias e difamação promovidas pela campanha petista. Dilma respondeu em linha semelhante ao que havia feito ao longo do dia, no programa eleitoral e nas redes sociais.

“Essa revista tenta dar golpe eleitoral e não é a primeira vez. O povo não é bobo, candidato. O povo sabe que está sendo manipulada a informação porque não há nenhuma prova”, afirmou Dilma, que acusou Aécio de “endossar” a publicação. A presidente repetiu ainda que irá à Justiça para se defender.

Aécio, por sua vez, respondeu embasando a denúncia da reportagem, argumentando que a delação premiada, por meio da qual surgiu a informação questionada por Dilma, só traz benefício ao delator se forem apresentadas provas. Conforme a reportagem, Youssef não apresentou provas durante o depoimento.

O tema corrupção voltou a ser abordado no terceiro bloco, novamente pelo tucano. Aécio questionou a adversária sobre sua avaliação em relação às condenações no julgamento do mensalão, no qual ex-dirigentes petistas foram sentenciados a penas de prisão. Dilma rebateu questionando por que denunciados no chamado mensalão mineiro – esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha à reeleição do então governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), em 1998 – ainda não foram julgados. Aécio, então, disse na tréplica que o principal acusado do mensalão mineiro, o ex-ministro Walfrido Mares Guia, é coordenador da campanha petista em Minas. Walfrido se livrou do processo em janeiro deste ano, quando a Justiça declarou prescrito os crimes de peculato e lavagem de dinheiro.

Água. Depois de explorar o assunto com mais ênfase no 2.º turno da campanha presidencial, Dilma aproveitou o agravamento do desabastecimento de água no Estado de São Paulo para questionar o adversário se não faltou planejamento à gestão do tucano Geraldo Alckmin. Aécio repetiu declarações anteriores e disse que a crise é culpa da falta de planejamento e de parceria do governo federal e apontou aparelhamento da Agência Nacional de Águas.

Dilma reagiu afirmando que “não planejar os investimentos para evitar a crise hídrica no Estado mais rico do País é uma vergonha”. “O senhor vai me desculpar, mas eu vou concordar com o humorista José Simão (colunista do jornal Folha de S.Paulo), vocês estão levando o Estado para ter um programa 'Meu Banho Minha Vida'. É isso que vocês conseguiram.”

Subsídios. Antes, ainda no primeiro bloco, depois de ser questionado por Dilma sobre o Minha Casa, Minha Vida, Aécio repetiu que a campanha da presidente faz “terrorismo eleitoral” ao afirmar que eventual governo seu acabaria com programas sociais. “Pessoas na lista do cadastro (do programa) estão recebendo mensagem dizendo que, se votarem em mim, sairão do cadastro”, reclamou. O tucano reforçou que pretende manter o programa e ampliá-lo para a faixa de até três salários mínimos. “Ninguém pode querer se apropriar de programas como se fossem seus. Vamos subsidiar, sim, programas sociais como este. O que não vamos fazer no nosso governo é o ‘bolsa empresário’ que ajuda um grupo muito restrito de brasileiros em detrimento da maioria.” Aécio acusou o governo também de não entregar os 3,5 milhões de habitações prometidas, mas apenas metade disso.

Dilma rebateu que Aécio precisa entender melhor as regras do programa, explicando que ele não passa por órgãos políticos, evitando privilégios a empresas nas construções. Ela disse não acreditar na proposta do adversário, acusando o PSDB de ter enfraquecido os bancos públicos e tê-los deixado endividados – a Caixa Econômica Federal é a instituição usada no financiamento do programa habitacional. “Agora vocês vêm com essa conversa que vão fazer política social. A prática fala muito mais que palavras vazias”, afirmou a presidente.

A petista voltou a questionar o fato de o governo mineiro não informar os valores de publicidade oficial destinada às três rádios e um jornal semanal da família de Aécio no Estado. Ela também procurou comparar a criação de empregos no seu governo e no governo Lula em relação à gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, citando também a valorização do salário mínimo e questionando se Arminio Fraga – ex-presidente do Banco Central e já anunciado por Aécio como seu ministro da Fazenda caso seja eleito – não poderia comprometer a política de aumento real dos salários. Aécio respondeu dizendo ter orgulho da indicação de Arminio, diferentemente de Dilma que “demitiu” seu ministro Guido Mantega.

Indecisos. O debate da Globo teve como diferencial uma arena de 80 eleitores indecisos, selecionados pelo Ibope. Em dois dos quatro blocos, a plateia fez perguntas aos candidatos, que caminhavam livremente pelo estúdio. Dilma, ainda um pouco rouca, chegou a chamar um dos eleitores de candidato.

Adriana dos Santos, de 40 anos, assistente de compras, ao questionar Dilma, reclamou que as penas para os corruptos são brandas e perguntou qual eram as propostas dela para combater o desvio do dinheiro público. "Você tem toda razão, a lei é branda. Por isso que eu propus cinco grandes medidas de combate a impunidade", disse a petista citando a proposta de transformar em crime eleitoral o caixa 2 e reiterando o argumento de que foram os governos do PT que deram autonomia à Polícia Federal.

"Eu vou dizer olhando nos seus olhos. Existe uma medida que está acima de todas as outras para acabarmos com a corrupção no Brasil, vamos tirar o PT do governo", disse Aécio, na tréplica.

Sem ofensas, Dilma e Aécio duelam sobre corrupção

• Corrupção e economia voltam a ser temas centrais em debate na TV

• Indecisos levam candidatos a expor propostas no último encontro antes do segundo turno

- O Globo

RIO - No último debate da campanha presidencial, nesta sexta-feira à noite, na TV Globo, a troca de acusações que marcou a campanha veio logo no início do embate entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves(PSDB). O tucano, em sua primeira intervenção, disse que era alvo de boatos, como o de que tiraria do cadastro beneficiados pelo Bolsa Família, e lembrou o escândalo da Petrobras, com as denúncias veiculadas esta semana pela revista “Veja”, segundo as quais o doleiro Alberto Youssef acusou Dilma e e o ex-presidente Lula de saberem dos desvios na estatal.

— Essa campanha vai passar para a História como a mais sórdida. A calúnia e a infâmia foram feitas não só em relação a mim, em relação a Eduardo Campos, a Marina. Isso é um péssimo exemplo. A revista publica que um dos delatores disse que a senhora e Lula tinha conhecimento da corrupção na Petrobras. A senhora sabia da corrupção na Petrobras?

Em resposta, Dilma acusou o tucano de fazer uma campanha “extremamente agressiva” contra ela e negou as denúncias. Afirmou que a revista faz “oposição sistemática” aos governos petistas e promove um “golpe eleitoral”.

— A “Revista Veja” não apresenta nenhuma prova do que faz. Manifesto a minha inteira indignação porque a revista tem hábito de, na reta final das campanhas, tentar dar um golpe eleitoral e isso não é a primeira vez. Fez em 2002, em 2006, em 2010 e agora faz em 2014. O povo não é bobo e sabe que está sendo manipulada essa informação porque não foi apresentada nenhuma prova. Irei à Justiça para me defender.

Comparações entre governos
Aécio manteve a ofensiva e, ao abordar os problemas de infraestrutura do país, criticou o governo federal por ter investido R$ 2 bilhões na construção do Porto Muriel, em Cuba, quando, disse, o país carece de investimentos em ferrovias e portos. Na resposta, Dilma usou a estratégia, repetida ao longo do debate, de comparar os governos petistas com os de Fernando Henrique Cardoso. Disse que a iniciativa será benéfica para empresas brasileiras e afirmou que o ex-presidente também financiou empresas para “colocar produtos em Cuba e Venezuela”.

Nas seguidas comparações que fez com governos tucanos, Dilma acusou o PSDB de ter deixado o Banco do Brasil com uma “grave dívida” e de ter quebrado a Caixa Econômica Federal e o BNDES.

— Vocês reduziram (os bancos) ao tamanho que achavam que devia ter — disse Dilma.

A presidente ouviu então de Aécio a acusação de que o PT aparelha a máquina pública.

— O Banco do Brasil tem 37 diretorias, um terço delas ocupadas por filiados do PT.

No debate econômico, Dilma disse que não era verdade que ela é a primeira presidente a a entregar um governo com a inflação maior do que recebeu:

— No últimos dez anos tivemos dentro dos limites da meta. Quem não mantinha (a meta) era o governo Fernando Henrique.

— Quer dizer que foi o PT que controlou a inflação e não nós? Tenho orgulho de ter um aliado como o Fernando Henrique, a quem a senhora teceu elogios.

Participação de indecisos
No segundo bloco, em que, pela primeira vez, eleitores indecisos fizeram perguntas diretamente aos candidatos, a discussão se voltou para a vida real, tornando o debate menos agressivo e mais propositivo. Logo na primeira pergunta, sobre os altos aluguéis, Dilma e Aécio foram obrigados a discutir a inflação, sem acusações mútuas.

Dilma aproveitou a pergunta para falar de um de seus principais programas, o Minha Casa Minha Vida, destacando que ele contempla quem ganha até R$ 5 mil, com faixas de subsídio. A candidata disse que seu compromisso é fazer mais três milhões de casas, ampliando as faixas de renda.

— Tenho certeza de que você poderá ser contemplado caso seja uma das pessoas sorteadas — disse Dilma, dirigindo-se ao eleitor.

Aécio procurou desconstruir os números oficiais. Disse que foi entregue apenas metade das três milhões de casas anunciadas. O tucano prometeu ampliar os programas de habitação no país.

A pergunta sobre educação proporcionou um confronto de realizações entre Dilma, no governo federal, e Aécio, no governo de Minas Gerais. No entanto, os candidatos convergiram sobre a necessidade de mais creches, melhora no ensino médio e na valorização dos professores.

Sobre o tema da corrupção, levantado por uma eleitora de Minas, Dilma concordou que a lei é branda para punir corruptos e corruptores e enumerou propostas que fez para endurecer a lei. Aécio disse que a eleitora expressava o sentimento de indignação de milhões de brasileiros com a corrupção e afirmou que algumas propostas listadas por Dilma tramitaram no Congresso, mas sem empenho do governo em aprová-las.

— Existe uma medida acima de todas as outras para combater a corrupção, tirar o PT do governo — afirmou o tucano.

‘Meu banho minha vida’
No terceiro bloco, em que os candidatos voltaram a fazer perguntas entre si, Dilma alfinetou os tucanos ao falar sobre a importância do planejamento e em seguida lembrou a falta de água em São Paulo, governada pelo PSDB. Aécio disse que faltou planejamento, mas do governo federal, que, segundo ele, não teria colaborado com o governo paulista. Citou o Tribunal de Contas da União (TCU), que teria acionado o governo federal por isso. Dilma procurou ser irônica e, após, dizer que água é responsabilidade dos governos estaduais, citou o humorista José Simão:

— Vocês estão levando o estado para ter o programa “meu banho minha vida”.

Aécio, que já havia citado o “Petrolão”, referência ao escândalo da Petrobras, lembrou o julgamento do mensalão e voltou a criticar o PT por tratar os petistas condenados como “heróis nacionais”. E perguntou a Dilma o que achava da condenação do ex-ministro José Dirceu. Sem responder diretamente ao tucano, a presidente lembrou o mensalão mineiro, no governo do tucano Eduardo Azeredo (a quem chamou de Renato Azeredo):

— O mensalão do meu partido teve condenados. No mensalão do seu partido, não teve condenados nem punidos — disse Dilma, lembrando outros escândalos envolvendo tucanos que, segundo ela, não tiveram punição, como Sivam e pasta rosa.

Aécio contra-atacou e disse que um dos principais envolvidos no mensalão mineiro é ligado ao PT:

— Walfrido Mares Guias foi coodenador de sua campanha em Minas — afirmou Aécio.

Sede da Editora Abril em SP é pichada

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em protesto contra reportagem da revista "Veja", cerca de 50 pessoas picharam a sede da editora Abril em São Paulo e espalharam edições picadas da "Veja" diante do prédio nesta sexta-feira (24). Na calçada e nas paredes da Abril foram escritas as frases "Veja mente" e "Fora Veja"

Revista nega ter aberto exceção para adiantar data de circulação
Após a presidente Dilma Rousseff utilizar o horário eleitoral para criticar a reportagem publicada pela "Veja", a revista divulgou nota em que negou ter aberto exceção ao antecipar sua distribuição para a antevéspera das eleições presidenciais deste ano.

"Em quatro das últimas cinco eleições presidenciais, VEJA circulou antecipadamente, no primeiro turno ou no segundo", diz o texto distribuído pela revista.

Segundo a nota, os fatos narrados na reportagem ocorreram na terça-feira (21), a apuração sobre eles começou no mesmo dia, mas a revista "só atingiu o grau de certeza e clareza necessária para publicação" na tarde de quinta.

A "Veja" também diz que Dilma, ao atacar a revista, criticou o "mensageiro", mas que o "cerne do problema" foi produzido pelos fatos "degradantes" na Petrobras.

A revista termina dizendo que reconhece em Dilma uma defensora da liberdade de imprensa e que espera que essa qualidade não se abale quando são revelados fatos que lhe "possam ser pessoal ou eleitoralmente prejudiciais".

Na seção "Carta ao Leitor" de sua edição desta sexta, a "Veja" disse que "não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato", mas sim para "aumentar o grau de informação de seus leitores sobre eventos relevantes".

'Jornal Nacional' não menciona reportagem
O "Jornal Nacional", da TV Globo, não fez nenhuma menção à reportagem da revista "Veja" em sua edição desta sexta (24), embora esse tema tenha sido tratado pelos dois candidatos a presidente no horário de propaganda eleitoral.

O assunto foi destacado, ao longo do dia, tanto pela campanha de Aécio Neves (PSDB) como pela de Dilma Rousseff (PT) --que se defendeu das acusações nos programas eleitorais diurno e noturno na TV.

A coligação de Dilma Rousseff (PT) pediu ao Tribunal Superior Eleitoral que fossem retirados do Facebook links e menções à reportagem da revista.

Sem entrar no mérito do conteúdo, o ministro Admar Gonzaga negou. Para ele, o pedido não cabe, já que se baseou num dispositivo da minirreforma eleitoral aprovada a menos de um ano do pleito de 2014 e que só valerá no próximo.

O presidente do PT, Rui Falcão, anunciou medidas judiciais contra a revista, incluindo pedidos para proibir a publicidade dela.

Aliados de Aécio Neves reforçam campanha em Pernambuco

• Hoje o governador eleito Paulo Câmara estará em Boa Viagem pedindo votos para o tucano

Jornal do Commercio (PE)

Na reta final da campanha, aliados do presidenciável Aécio Neves (PSDB) em Pernambuco reforçam os atos de rua em prol do tucano. O dia de ontem foi dedicado a mobilizações na Região Metropolitana do Recife. Com a proibição de comícios, os defensores de Aécio realizaram adesivaços e e carreatas para fortalecer a candidatura de Aécio. Hoje o governador eleito Paulo Câmara e membros do PSB também farão as últimas atividades para a campanha do senador mineiro.

O governador eleito e lideranças do PSB estarão a partir das 10h na praia de Boa Viagem, onde será feito um ato com juventude que defende a candidatura de Aécio. Paulo vai aproveitar a boa votação que teve na eleição estadual para tentar conseguir votos para o tucano.

Em seguida, o socialista terá atividades na Praça de Casa Forte. A ala feminina do PSDB, liderada pela deputada Terezinha Nunes, também pretende fazer um ato de adesivaço na Tamarineira.

Atividades foram feitas durante todo o dia de ontem. Durante a tarde, representantes do PSDB, PSB, DEM, PPS, PV, PR estiveram na Avenida Agamenon Magalhães entregando materias de campanha para a população. Pela manhã, bonecos gigantes de Marina Silva e Aécio Neves também circularam pelo local com o intuito de chamar a atenção da população de transita pela via. Uma carreata foi realizada no Cabo de Santo Agostinho.

Festa
Do PSDB, a deputada Terezinha Nunes disse que em caso de vitória, os apoiadores do candidato Aécio Neves planejam uma festa no Marco Zero, tradicional reduto das comemorações petistas. No primeiro turno, Paulo Câmara e o senador eleito Fernando Bezerra Coelho também comemoraram a vitória no local.

Aécio vai a São Paulo e São João del-Rei em dia de mobilização tucana

• Outros atos serão realizados em BH e outras capitais

Juliana Cipriani e Paulo de Tarso Lyra – Estado de Minas

O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República, vai encerrar sua campanha ao Palácio do Planalto hoje com grandes atos de mobilização em todos os estados brasileiros, incluindo o seu, Minas Gerais. Aliados da classe política, artistas e populares estão sendo chamados para sair às ruas vestindo as cores da bandeira brasileira e usando adesivos e bandeiras com o número do candidato (45). Em Belo Horizonte, o encontro será na Região Centro-Sul, em atos nas praças da Liberdade e da Savassi. Aécio fará campanha em São Paulo e em São João del-Rei, terra natal de seu avô Tancredo Neves.

Um dos coordenadores da campanha tucana, o senador José Agripino Maia (PSDB/RN) garante que serão feitos eventos em todos os estados. Ontem, ele participou de um em Sergipe e hoje estará em uma carreata em Natal (RN). “Todos os estados estão mobilizados para fazer ‘adesivaço’, passeatas e carreatas. Não tem nenhum em que isso não esteja ocorrendo”, afirmou.

Segundo Agripino, a campanha segue até a última hora. “Estamos convencidos de que vamos ganhar pelas manifestações que viemos recebendo. Não digo que será uma vitória apertada ou folgada, pois é uma disputa inédita entre uma candidata à reeleição usando de todas as armas lícitas e ilícitas e um candidato que significa a mudança”, disse.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA), disse esperar um aumento no número de votos no candidato tucano à Presidência em função das novas denúncias envolvendo o doleiro Alberto Youssef, publicadas pela revista Veja, com informações de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam dos desvios na Petrobras. “Acredito que isso vai repercutir fortemente graças à rapidez da comunicação de hoje, por meio da internet. Nós fizemos o que podíamos fazer: uma notícia crime à Procuradoria Geral da República (PGR)”.

Aécio começa a campanha pela manhã na Estação Patriarca, em São Paulo, de onde sairá em caminhada com aliados. O governador Geraldo Alckmin usou sua página no Twitter para chamar apoiadores a participar do ato. São Paulo foi o principal estado responsável por levar Aécio ao segundo turno do pleito. Lá, ele conseguiu mais de 10 milhões de votos no dia 5, abocanhando 44,22% do total, enquanto Dilma teve 5,9 milhões, correspondentes a 25,89% da votação.

No fim da manhã, Aécio seguirá para São João del-Rei, onde terá uma agenda mais “familiar”, como definiu um dos seus apoiadores. Repetindo gesto que tem feito em outras participações em disputas eleitorais, ele visitará o túmulo de Tancredo Neves, como último ato de campanha. Em seguida, concederá entrevista à imprensa na cidade do Campo das Vertentes. No primeiro turno, o tucano terminou a campanha em carreatas em Betim, Contagem e Santa Luzia, na Grande BH.

Travessia da liberdade
Em Minas Gerais, o grupo político de Aécio Neves está mobilizando atos de apoio em todas as regiões. O maior deles, que está sendo convocado pela internet e WhatsApp e chamado de Travessia da Liberdade, será em Belo Horizonte. O ex-governador e senador eleito Antonio Anastasia (PSDB) representará o candidato. A partir das 10h, apoiadores se concentram na Praça da Liberdade, onde a equipe do tucano se dispõe a pintar os rostos e distribuir material de campanha de Aécio. Em seguida, eles pretendem fazer uma oração pelo senador e uma queima de fogos com a música tema da vitória de Ayrton Senna.

Ao meio-dia, o grupo seguirá pela Avenida Cristóvão Colombo até a Praça da Savassi, onde pretende ocupar as ruas fechadas, fazendo um abraço simbólico. Na convocação virtual, eles são convidados a cantar “músicas envolventes” durante todo o percurso, encerrando com o hino nacional. Mesmo depois de terminado o ato, os apoiadores serão convidados a permanecer nas redondezas e aproveitar o almoço em restaurantes da região para fazer um último corpo a corpo. “Esperamos milhares de pessoas na Savassi”, afirmou o deputado federal Alexandre Silveira (PSD).

Motos
Da Praça do Papa sairá uma “motoata”, com um grupo de 200 motoqueiros apoiadores de Aécio. Já da Avenida Raja Gabáglia está prevista uma carreata de jipeiros que fazem trilhas nas montanhas de Minas. Segundo Silveira, Aécio não voltará para BH, pois já fez o grande ato final de campanha na Praça da Estação, em comício na quarta-feira.


“Todos os nossos companheiros estão mobilizados no interior. O sentimento é de euforia e de onda nas ruas, os mineiros se unem em certeza de um projeto que conduzirá um mineiro ao Palácio do Planalto”, afirmou o parlamentar. Alexandre Silveira participa de três carreatas no Vale do Aço, em Ipatinga, Teófilo Otoni e Coronel Fabriciano. Colaborador da campanha de Aécio, o deputado prevê uma vitória com diferença substancial.

Manifestantes a favor da candidatura de Aécio lotam a Praça da Liberdade

• Bandeiraço, buzinaço, discursos e palavras de ordem tomaram conta da Praça da Liberdade na manhã deste sábado

 - Estado de Minas

É grande a movimentação na manhã deste sábado, na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, de militantes do PSDB e apoiadores da candidatura de Aécio Neves à Presidência da República. Pela terceira vez nesta eleição, eles tomaram conta do local para manifestarem apoio à candidatura do tucano. De acordo com estimativa da Guarda Municipal, são em torno de três mil pessoas vestidas de verde, amarelo e azul.

A mobilização na Praça da Liberdade será seguida de uma caminhada, às 12 horas, até a Praça da Savassi. Manifestantes cantam em coro músicas e palavras de ordem em apoio a Aécio. No local, o vice-prefeito de Belo Horizonte, Délio Malheiros (PSB), fez um discurso inflamado contra os petistas. “O PT que saquear e aprelhar bancos e órgão públicos”, afirmou. Segundo Malheiros, os petistas querem “que tudo seja deles”. Ele citou como exemplo as estatais Petrobras, Banco do Brasil e Caixa.

Regina Lacerda endossou o discurso de Malheiros. A mulher do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda, disse ainda que “ O Brasil tem a chance de recuperar o que se perdeu, a dignidade e a decência”. O microfone do palanque eleitoral foi franqueado para os manifestantes, que se revezaram em discursos exaltando as qualidades de Aécio para governar o Brasil.

Serra e Alckmin elogiam desempenho de Aécio em debate

• Tucano foi mais claro e objetivo nas críticas e nas propostas, disse senador eleito; para governador, candidato foi mais didático

Gabriela Vieira - O Estado de S. Paulo

O senador eleito por São Paulo, José Serra, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, elogiaram o desempenho do candidato do partido Aécio Neves no último debate entre os presidenciáveis, promovido pela TV Globo na noite de ontem. No twitter, os tucanos consideraram que Aécio foi mais claro do que a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT).

"Minha avaliação: o Aécio foi mais claro e objetivo, tanto nas críticas quanto nas propostas", escreveu Serra, que ainda considerou que o candidato do PSDB foi mais seguro em duas declarações.

Alckmin, por sua vez, disse que Aécio "respondeu sempre com tranquilidade, inclusive sobre a questão da seca no Sudeste e os esforços da população de SP para enfrentá-la". Ainda no twitter, o governador reeleito de São Paulo, considerou que o tucano foi mais claro e didático durante todo o debate.

Roberto Freire diz que Dilma não pode desqualificar denúncias de doleiro

Presidente do PPS afirma que Brasil corre o risco de reeleger uma presidente que começaria o segundo mandato envolvida diretamente em suspeitas de corrupção

- Fábio Matos/Assessoria do Parlamentar

O deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, afirmou nesta sexta-feira (24) que Dilma Rousseff (PT) não pode desqualificar as denúncias feitas pelo doleiro Alberto Yousseff em depoimento à Polícia Federal e ao Ministério Público, dando conta de que a petista e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinham conhecimento das irregularidades na Petrobras.

Segundo reportagem publicada na edição desta semana da revista Veja, Yousseff, preso pela Operação Lava Jato, teria afirmado que “o Planalto sabia de tudo”. A publicação diz ainda que o delegado que ouviu o doleiro, então, perguntou: “Mas quem no Planalto?”. E a resposta teria sido categórica: “Lula e Dilma”.

“Neste momento, Dilma não pode desqualificar os delatores do esquema. Quando foi conveniente para ela, durante o debate no SBT, utilizou [os depoimentos] para atacar o falecido ex-presidente do PSDB”, afirmou Freire.

O parlamentar se referiu à acusação feita por Leonardo Meirelles, suposto laranja de Yousseff, de que o doleiro teria trabalhado para o ex-dirigente do PSDB. No debate com o senador Aécio Neves (PSDB) exibido pelo SBT, Dilma atacou o adversário citando as denúncias. Dias depois, o advogado do doleiro, Antonio Figueiredo Basto, negou que seu cliente tenha tido qualquer relação com os tucanos e exigiu uma acareação entre Yousseff e Meirelles.

Em relação à reportagem de Veja, que liga Dilma e Lula ao escândalo na Petrobras, o presidente do PPS também afirmou que “qualquer pessoa com um mínimo de bom senso sabia que os dois tinham conhecimento”. “Até porque eram responsáveis pela Petrobras e nomearam esses diretores”, disse Freire.

Segundo o parlamentar, a sociedade brasileira tem uma decisão importante a tomar neste domingo (26) ao escolher o próximo presidente da República e deve levar em consideração as recentes denúncias de corrupção contra o governo do PT.

“O Brasil corre o risco de reeleger uma presidente que talvez começará o mandato com uma suspeita de envolvimento no escândalo da Petrobras”, afirmou Freire. “Isso era inimaginável, mas nos tempos de Lula pode acontecer.”

O deputado citou o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, decano da Corte, ao falar sobre a sequência de escândalos que marcam os 12 anos de governos de Lula e Dilma. “Os petistas não querem admitir que tinha razão o ex-ministro do STF, que afirmou que uma quadrilha havia assaltado o Estado brasileiro.”

Apagão de informações e uso da máquina pública – O Globo / Editorial

• Apuradas as urnas, é possível que se constate que nestas eleições houve a mais escandalosa manipulação de recursos públicos a favor da candidatura oficial

- O Globo

Transcorria o governo Itamar Franco, o Plano Real havia começado a ser implementado, quando o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, ao se preparar para conceder uma entrevista à Globo, não percebeu que os microfones estavam abertos e verbalizou o enunciado dos governos: "O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde."

Era setembro de 94, FH estava em campanha para ganhar sua primeira eleição presidencial. Ricupero entregou o cargo a Itamar, mas suas palavras nunca deixaram de, volta e meia, ser confirmadas.

É o que acontece, duas décadas depois, nesta campanha das eleições de 2014, em que o governo do PT evita divulgar pesquisas, informações em geral de interesse da população, para proteger a presidente Dilma na campanha de reeleição.

Em mais uma prova de que todo o governo subiu ao palanque da presidente, o Ministério da Educação adiou a liberação da listagem do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) referente ao rendimento em Português e Matemática, em 2013. Em setembro, foram divulgados os índices para as redes pública e particular. O resultado nos anos finais do ensino fundamental e em todo o ciclo médio não foi bom, tendo ficado abaixo das metas. Deduz-se que as informações agora sonegadas confirmem este cenário pouco animador. Para não dar munição ao candidato da oposição, Aécio Neves, segurou-se o dado, como estabelece o enunciado de Ricupero.

Também foi postergado o relatório de setembro sobre a arrecadação tributária, campo em que o governo também não se sai bem, devido aos efeitos da atividade lenta na economia. A coleta fraca de impostos projeta ainda mais preocupações sobre as contas públicas, equilibradas apenas devido à aplicação de técnicas de "contabilidade criativa". Pura fantasia.

O apagão eleitoreiro de informações também atinge o desmatamento da Amazônia. A ONG Imazon indica haver crescimento da destruição da floresta. Mas apenas em novembro o governo liberará o que aconteceu na Amazônia em agosto e setembro.

O flanco social da pobreza e miséria, muito explorado por Dilma e adversários, também tem sido bem protegido: a direção do Instituto de Pesquisa Ecônomica Aplicada (Ipea), subordinada à Secretaria de Assuntos Estratégicos, vetou a divulgação de análise de estatísticas sobre a miséria, feita com base na última Pnad. Por isso, um diretor, Herton Ellery Araújo, entregou o cargo, assim como o pesquisador Marcelo Medeiros. Nem na ditadura militar houve esse tipo de ingerência no instituto.

Apuradas as urnas amanhã, é possível que se constate que nestas eleições houve talvez o mais escandaloso uso da máquina e de recursos públicos a favor da candidatura oficial, pelos menos desde a redemocratização.

Marco Aurélio Nogueira - Amanhã há de ser outro dia

- O Estado de S. Paulo

Termina amanhã, domingo, aquela que muitos consideram a mais virulenta e imprevisível eleição presidencial da História brasileira. O que deveria ter sido uma festa da democracia se arrastou como um drama alimentado por perfídias, acusações sórdidas e tramoias de destruição pessoal, banhado por uma taxa de intolerância e sectarismo difícil de ser esquecida. A gangorra das pesquisas mostrou um eleitorado dividido e inseguro, o bate-boca nas redes sociais revelou uma cidadania sem educação política.

Não foi a primeira eleição a se valer de ofensas e jogo sujo no Brasil recente. Em 2014, porém, a campanha negativa chamou a atenção, sobretudo, pela intensidade e pela reverberação imediata, movida a internet. Plantados de forma cirúrgica, boatos e difamações cruzaram a arena da disputa, repercutiram com rapidez e dificultaram que o debate eleitoral ganhasse dignidade política.

A campanha negativa também se destacou por ter sido largamente empregada por um partido, o PT, que sempre se apresentou como alvo preferencial de ataques preconceituosos feitos pela mídia e pelas elites. Por ser governo e possuir muitos recursos políticos, o PT deu o tom, determinando o ritmo e o estilo da corrida eleitoral. Escolheu as armas do combate, pagando um preço por isso. Deu corda a um "antipetismo" que não lhe é favorável, sofreu derrotas em Estados importantes e viu sua bancada no Congresso Nacional sofrer séria redução. Mostrou-se aquém de uma esquerda democrática moderna, capaz de decifrar o capitalismo contemporâneo e a sociedade tecnológica que desponta. Terá dias ruins pela frente.

Mas não foi somente o PT a errar e a perder. Perderam e erraram todos, sem exceção, a provar que o sistema político ruiu e novos arranjos partidários se tornaram urgentes. Sem eles e sem uma boa reforma a política continuará colonizada pelo econômico e ainda mais exposta a escândalos, os governos permanecerão medíocres e as oposições democráticas, impotentes.

Por que chegamos a este ponto? Algo aconteceu para que uma importante, mas rotineira competição eleitoral, na qual está dada a possibilidade de alternância no poder, se convertesse numa batalha campal sem parâmetros éticos e incapaz de cumprir o que se espera de um debate presidencial: apresentar ideias e propostas para o futuro.

Ficaremos um bom tempo a nos perguntar como permitimos que isso acontecesse.

Águas que corriam juntas, ou paralelas, se turvaram e se separaram; amigos viraram inimigos; pais e filhos deixaram de discutir política em casa; confrontos físicos substituíram o debate de ideias, líderes políticos nacionais transformaram-se em caixeiros viajantes da infâmia, o engajamento ideológico converteu-se em alavanca de estigmatização.

Foi um período assustador, vivido sob o signo do "confronto político" e da morte aos inimigos, numa temperatura elevada ao extremo sem que houvesse, a rigor, nada que a justificasse, a não ser uma cobiça desmesurada pelo poder, o despreparo para processar divergências, alguns fantasmas ingênuos e certas crenças toscas. Apoiadores convertidos em justiceiros, teleguiados por centrais de desinformação, fanatizados por suas convicções, sem tolerância, sem critério, numa flagrante demonstração de rusticidade política e de ausência de perspectiva cívica. Juntos, abraçados e misturados, ajudaram a promover uma inédita guinada da sociedade para a direita mais bestial, a cavalo de uma leitura falsa da realidade brasileira, qual seja, a de que o País estaria prestes a ser "bolivarianizado" ou às portas de uma contrarrevolução que roubaria a comida dos mais pobres.

Se esse padrão prevalecer, o que esperar do próximo ciclo governamental? Haverá nele disposição, serenidade e força persuasiva para trazer os brasileiros para a política democrática e o debate de ideias? Quem quer que vença amanhã terá equilíbrio e generosidade para trocar o toque marcial pela pomba da paz, chamando a sociedade para um convívio mais fraterno?

Vença quem vencer, a vida continuará, mais forte do que a indigência dos políticos, a frouxidão dos partidos, a vacuidade dos discursos, a caça às bruxas. Seguirá mostrando que a política precisa mudar. Com reformas institucionais, renovação cultural e refundação partidária, mas também com um gigantesco esforço de educação política, que dê aos jovens sobretudo, mas não somente a eles, uma chance de entrar com o pé direito no fascinante e perigoso universo do poder e do Estado.

Os políticos foram patéticos nos debates, vulgares nas maneiras e nos discursos, fraquíssimos em proposição, cínicos demais na capacidade de mentir, tergiversar, iludir e sofismar. Convidaram a sociedade ao rebaixamento cultural. Em algum ponto da estrada serão castigados. O vencedor do segundo turno herdará um reino estagnado, manchado pela corrupção,

tensionado pela mentira e cujos habitantes acordarão segunda-feira indiferentes à alegria sem graça dos vencedores e à tristeza calculada dos perdedores, pouco ligando para os excessos e a bizarrice daqueles que se apresentaram como salvadores da Pátria. Amanhã será outro dia, impulsionado pela esperança e pela vontade de mudar.

O próximo ocupante do Planalto governará um País fendido e repleto de desafios. A governabilidade tenderá a ser mais difícil. Precisaremos de muita política com P grande, para que se possa tornar viável a pacificação dos espíritos e a ampliação das possibilidades de governança democrática. A ninguém deve interessar a generalização da "guerra civil" que hoje já existe de modo focalizado. Todos, políticos e cidadãos, vencedores e perdedores, terão de manifestar maior desejo de fiscalização dos governantes e de recomposição social. Será preciso alcançar um novo pacto de convivência.

Da combinação de discernimento político e disposição participativa dependerá bastante o futuro do Brasil que sairá das urnas de amanhã.

Professor titular de Teoria política e diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP

Martin Cezar Feijó - Dez razões para eu votar no Aécio

1. Porque julgo ter encerrado um ciclo, o da reeleição, no qual os mais importantes líderes, dos partidos mais consistentes após a redemocratização, cumpriram 8 anos. Dilma mais 4. Aécio agora encerra o ciclo.

2. Porque apoio a alternância de poder como condição para a democracia.

3. Porque Marina apóia Aécio Neves, depois que ele aceitou suas condições razoáveis: educação, sustentabilidade e fim da reeleição.

4. Porque é uma chance do PSDB se reinventar como um verdadeiro partido social-democrata comprometido com uma democracia como valor universal.

5. Porque é uma chance do PT se reinventar como um partido de centro-esquerda comprometido com uma democracia como valor universal.

6. Porque eleição é uma aposta numa mudança para melhor, respeitando conquistas sociais importantes.

7. Por disciplina partidária, na expectativa de uma fusão PPS-PSB se transformando em uma alternativa de esquerda democrática, ao lado do PV, consistente.

8. Porque Aécio garante que vai dar prioridade à educação, principal condição para o desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país.

9. Porque Armínio Fraga vai ser ministro da Fazenda.

10. Porque quero. E tenho o direito em votar em quem eu acredito ser melhor para o momento histórico que vivemos.

Meu voto não é veto. Não é negativo. Não é anti-PT, pois já dei meu voto a ele. Meu voto é voto. E voto é a favor. A favor da mudança. E a razão principal é política, não é moral, nem emocional. E sim racional.

Agora é Aécio Neves!

Professor de Comunicação Comparada na Faculdade de Comunicação e Marketing (FACOM-FAAP) e de Cursos de Pós-graduação em Jornalismo Cultural, Gestão de Televisão, Moda, História Cultural e Cultura do Luxo. Também é autor de mais de uma dezena de livros, entre ensaios e ficção, em que se destaca Astrojildo Pereira, o Revolucionário Cordial.

Eduardo Graeff - Pensem no eleitor

- Folha de S. Paulo

Nos termos e condições em que se propõe, o fim da reeleição para cargos executivos responde mais a uma preocupação de políticos do que a um anseio dos cidadãos.

Para quem espera a próxima oportunidade de se candidatar, oito anos parece uma eternidade. Reduzir esse prazo para quatro ou cinco anos diminuiria a ansiedade e favoreceria a conciliação de potenciais candidatos. Facilitaria a vida dos políticos, talvez. Mas melhoraria a dos cidadãos comuns?

O argumento básico contra a reeleição é o de que ela distrai o governante de suas obrigações para com os governados. Digamos que sim: um presidente, governador ou prefeito pode deixar de fazer o que deve ou fazer o que não deve para tentar se reeleger. Mas assim também ocorre com quem tenta eleger seu sucessor.

E quem diz que só os detentores de mandatos executivos estão sujeitos à tentação? Seria o caso de proibir a reeleição para todos os cargos, inclusive no Legislativo. O México experimentou isso sob a égide do Partido Revolucionário Institucional, que ficou no poder 71 anos consecutivos. Não parece um bom exemplo para o aperfeiçoamento da nossa democracia.

A regra geral das democracias é que cabe ao cidadão decidir se seus mandatários devem ou não continuar. Os sistemas parlamentaristas não impõem limite à reeleição do primeiro-ministro. O limite à reeleição do presidente se justifica pelo risco do cesarismo que rondaria os sistemas presidencialistas.

Mas a vacina contra a hipertrofia da autoridade presidencial não é um artigo da Constituição, e sim o funcionamento efetivo dos freios e contrapesos democráticos: Legislativo e Judiciário independentes, oposição vigilante, sociedade organizada, imprensa livre, opinião pública exigente.

Quando isso falha, nada impede os aspirantes a ditador de violar a Constituição, abusando do poder para continuar no poder, tanto faz se pessoalmente ou por um sucessor escolhido a dedo. Basta ver alguns vizinhos nossos.

O que mantém a democracia em boa forma é seu exercício contínuo; o exercício do voto educa os cidadãos para votar melhor. Desse ponto de vista, a proposta de fim da reeleição vem com um aditivo tóxico.

Como quatro anos é pouco tempo para se fazer um bom governo, propõe-se a extensão dos mandatos executivos para cinco anos. Para que isso não cause um descasamento complicado entre mandatos no Executivo e no Legislativo, incluem no pacote a extensão dos mandatos legislativos e coincidência geral das eleições municipais, estaduais e nacionais.

Quem defende isso já parou para pensar o que implicaria do ponto de vista do eleitor? Em vez de ser chamado às urnas a cada dois anos, o eleitor seria só uma vez a cada cinco anos. Nesse intervalo, os políticos profissionais e minorias organizadas dominariam absolutos a cena política.

E então, depois de cinco anos afastado, o eleitor sairia de casa para escolher no mesmo dia, todos juntos e misturados, um presidente, um governador, um prefeito, um ou dois senadores (para mandatos de dez anos?!), um deputado federal, um deputado estadual e um vereador.

Tendo alguns dias para checar a ficha de centenas ou milhares de candidatos e avaliar suas propostas sobre temas do Executivo e Legislativo em cada nível de governo. Fácil, não?

Deve haver outras fórmulas para alargar o fosso já existente entre políticos e cidadãos comuns. Mas eu, francamente, não consigo imaginar uma pior.

Eduardo Graeff, 64, é cientista político. Foi secretário-geral da Presidência da República (governo FHC)

Merval Pereira - Confronto inédito

- O Globo

Mesmo que não se confirmem os boatos de que pesquisas não divulgadas mostram resultados muito mais próximos de um empate técnico do que uma vitória folgada da presidente Dilma - hoje saem as últimas pesquisas do Ibope e do Datafolha -, nunca uma eleição brasileira nos últimos tempos teve tanta disputa quanto esta, que entra no fim de semana decisivo sem um vencedor claramente identificado.

Na melhor das hipóteses para o PT, a presidente Dilma será reeleita com uma votação menor do que a que o partido vinha tendo até 2010. E Aécio Neves, mesmo que não vença, deve ter a melhor performance de um candidato tucano nos últimos tempos, o que o credenciará como um líder incontestável de uma oposição que será muito mais aguerrida, pelas próprias circunstâncias da campanha atual.

O clima de agressividade que marcou a disputa, plantado no 1º e elevado ao extremismo neste 2º turno, dificultará a conciliação nacional, e certamente precisaremos de um governo com legitimidade para levar o país adiante em meio a previsíveis crises institucionais, mais graves ainda, pois turbinadas por problemas econômicos que só os que acreditam no mundo cor-de-rosa do marqueteiro João Santana desconhecem.

E o país que sairá das urnas estará irremediavelmente dividido. A legitimidade de um eleito não se deve apenas ao número de votos que teve nas urnas, mas à maneira com que os conquistou. Esta sem dúvida será a mais rasteira das campanhas eleitorais dos últimos anos, só comparável com a que elegeu Collor em 1989. Não à toa ele teve o fim que se sabe, pois alcançou a vitória usando manobras baixas, e não conseguiu nunca mais se aprumar como um presidente respeitável.

A começar pelo estelionato eleitoral caracterizado pelo confisco da poupança dos brasileiros, que ele acusava Lula de premeditar. Na eleição de 2002, o candidato derrotado do PSDB José Serra fez um discurso de despedida onde marcou com a expressão "estelionato eleitoral" o primeiro governo Lula, vencedor naquela eleição depois de ter perdido quatro eleições seguidas para Collor e Fernando Henrique.

Os eleitores petistas naquele ano, que acreditavam em grandes mudanças na economia, foram realmente enganados, pois Lula adotou práticas ortodoxas na economia e seguiu à risca o receituário do governo tucano, até nomeando para o Banco Central Henrique Meirelles, banqueiro internacional eleito deputado federal pelo PSDB.

Mas aquele parecia ter sido um estelionato "do bem", pois o PT abriu mão de teses radicais como o calote da dívida externa para colocar o país no rumo do crescimento. No segundo governo, quando a hoje presidente Dilma assumiu o Gabinete Civil em lugar de José Dirceu, em meio ao escândalo do mensalão, o PT retomou aos poucos suas teses econômicas, aprofundadas pela troca do ministro Antonio Palocci por Guido Mantega.

Um novo estelionato eleitoral está sendo montado agora caso a presidente Dilma se reeleja amanhã. Sua campanha esconde o fato de que a crise econômica está se agravando e que terá que adotar medidas amargas para que o país não perca seus fundamentos e não se veja novamente às voltas com uma inflação sem controle e uma economia estagnada.

Mesmo os programas sociais que são o sustentáculo de sua votação correrão perigo com a economia sem produzir riqueza para ser distribuída. O aumento real do salário mínimo, por exemplo, depende por lei do crescimento econômico dos últimos anos, e por isso não acontecerá em 2015.

A queda da desigualdade foi interrompida no último ano exatamente devido à falta de crescimento econômico, mas os números não foram divulgados para não manchar a campanha eleitoral, que mostra um país pujante que só existe na propaganda do PT.

Os últimos dias de campanha estão marcados por denúncias de práticas ilegais e imorais da militância petista, e acusações de tentativa de golpe por parte dos petistas, que atribuem intenções eleitoreiras à reportagem da revista "Veja" revelando que o doleiro Alberto Yousseff afirmou em sua delação premiada que Dilma e o ex-presidente Lula sabiam da corrupção na Petrobras e se beneficiaram dela em campanhas eleitorais. Caberá ao eleitor avaliar as informações ao seu dispor e decidir em quem votar. Só não é possível exigir que casos polêmicos não sejam julgados ou reportagens não sejam publicadas quando há eleição por perto.

Cláudio Couto - Efeito catraca

- O Estado de S. Paulo

Um tema central do embate eleitoral foi a possível reversão dos ganhos sociais auferidos pelos mais pobres durante os anos de governo petista, caso um novo presidente fosse eleito pela oposição. Tal reversão foi apontada pela campanha do PT como principal razão para reeleger Dilma Rousseff, resguardando as melhoras sociais.

No primeiro turno, o risco da reversão foi associado pela campanha situacionista à proposta de Marina Silva de conceder autonomia ao Banco Central. Num famigerado comercial, o BC capturado por banqueiros passaria a gerir os juros, salários, preços e o emprego, de modo a - alegoricamente - retirar a comida do prato do trabalhador.

A seu favor, os governos petistas reivindicam substanciais ganhos do salário mínimo, significativa redução da pobreza e da desigualdade, assim como a elevação de um amplo contingente da população à classe C - a qual, não obstante, acredita ter ascendido muito mais por seus próprios méritos do que por causa das políticas governamentais, como demonstrou recente pesquisa do Instituto Data Popular.

Os receios de reversão atingiram políticas específicas, como o Bolsa Família, sobretudo no caso da vitória do candidato tucano, Aécio Neves. Compreensível, já que muitos simpatizantes da candidatura peessedebista vociferam contra tal política, desancada como "Bolsa Esmola", "Bolsa Vagabundo" e assemelhados. O PSDB paga junto pelo conservadorismo de alguns de seus eleitores, pertencentes sobretudo às classes médias e altas.

Porém, mesmo próceres tucanos desqualificaram a política de assistência aos miseráveis. Circulou pela internet o trecho de uma entrevista de 2011 do então líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias, ao Roda Viva da TV Cultura. O senador dizia, sem peias: "O Bolsa Família não tira ninguém da miséria; mantém na miséria, porque estimula a preguiça, inclusive. Há gente que não quer trabalhar porque não quer ter carteira de trabalho para não perder o Bolsa Família".

Diante de tamanho estrago, Aécio Neves precisou explicar-se ao eleitorado mais pobre e aos demais simpatizantes da política de transferência de renda. Além de reivindicar a paternidade biológica do Bolsa Família, afirmou que não só o manteria, como o tornaria "política de Estado" - independente do partido no governo. Para o dissabor de seus correligionários mais conservadores, propôs até mesmo um projeto de lei, avançando rumo ao eleitor mediano.

O PT sofreu problema similar em 2002, quando Lula foi eleito. Tinham como ônus os anos de discurso petista opondo-se ao que quer que fosse, em particular às políticas econômicas dos mais variados governos. Foi muito tempo vituperando contra o pagamento da dívida externa, os gastos com os títulos públicos, a austeridade fiscal, as privatizações, as políticas salariais etc.. O mercado "precificou" a vitória de Lula, jogando para a estratosfera o risco país e o dólar (que atingiu R$ 4,00), elevando a inflação anual para 12%.

Lula precisou escrever a "Carta ao Povo Brasileiro" - na realidade, uma missiva ao mercado - tranquilizando investidores e garantindo-lhes respeito a contratos e à institucionalidade democrática (com decisões negociadas), equilíbrio fiscal e preservação do superávit primário.

De fato, os anos de Lula mostraram que certas políticas econômicas haviam vindo para ficar. Mesmo a condução macroeconômica displicente do governo Dilma está muito distante tanto do discurso petista do passado como das heterodoxias anteriores ao Plano Real.

Há um "efeito catraca" de certas políticas públicas: uma vez implantadas, não têm como serem revertidas totalmente, pois "travas" institucionais o impedem. O custo proibitivo - eleitoral, social ou econômico - da dissolução dessas políticas faz com que governos que não as teriam implementado sejam, porém, obrigados a mantê-las. Assim, diferentes partidos, alternando-se no governo, implantam agendas que se complementam ao longo do tempo.

Fernando Rodrigues - Uma eleição de recordes

- Folha de S. Paulo

Como a democracia brasileira é jovem, a cada eleição registram-se alguns ineditismos. Será assim amanhã, com a escolha do próximo presidente da República.

Se Dilma Rousseff (PT) ganhar mais quatro anos no Planalto, ela será a primeira mulher a conseguir tal feito. Estará também consignada uma outra lógica: presidentes que disputam a reeleição têm sucesso nas urnas. Foi assim com Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e com Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.

Em caso de vitória, Dilma governará até 2018, quando o PT completará 16 anos no poder. Nunca na história verdadeiramente democrática do Brasil um único partido comandou o país por tanto tempo.

Na hipótese de Aécio Neves (PSDB) ganhar, sua vitória significará a chegada ao poder do primeiro político que fez carreira majoritariamente no Brasil pós-ditadura. Seria uma troca geracional relevante num país que muitas vezes vive mais do passado do que do presente ou do futuro.

Mas o maior recorde talvez seja a realização das eleições em si. Apesar do clima beligerante entre os candidatos a presidente, não há dúvidas na sociedade a respeito da lisura da disputa --o nível de fraudes ou urnas com defeito fica sempre perto de 0,5% do total.

Tampouco se coloca em dúvida a solidez das instituições: ganhe quem for, tomará posse no dia 1º de janeiro de 2015. Nessa data, escrevo isso sempre e acho importante repetir, o país terá realizado sete eleições presidenciais diretas consecutivas com a posse do eleito. O fato é único na história brasileira.

O aspecto negativo da atual corrida presidencial fica para o quadro político fracionado que vai emergir na segunda-feira. O próximo presidente terá enormes dificuldades na construção de algum consenso. É um desafio que nenhum dos anteriores enfrentou e será mais um teste sobre o grau de maturidade da democracia local.