quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Opinião do dia - Alberto Goldman.

O perigo, por outro lado, seria a emergência de candidaturas competitivas nos extremos do espectro político, como foi a eleição municipal do Rio Janeiro em 2016, quando Marcelo Freixo (Psol) e Marcelo Crivella (PRB) concentraram o debate e os votos.

O desafio eleitoral imediato é construir uma frente no centro político, fugindo do que se chama de esquerda petista e do que nasce agora como a direita (...) aglutinar esse centro político para enfrentar esses dois lados que estão surgindo",

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Alberto Goldman, ex-deputado federal, ex-ministro, ex-governador de S. Paulo e atual vice-presidente nacional do PSDB, O Estado de S. Paulo,20/10/2017.

A grande transformação |*Alberto Aggio

- O Estado de S.Paulo

O que está em curso afeta por inteiro a humanidade. É um processo imparável

São raros os momentos na História em que as sensações parecem coincidir com a realidade. Talvez estejamos vivenciando precisamente um desses momentos. A sensação de que a realidade é movediça não é autoengano. Além da velocidade, o que nos impacta é a instantaneidade. A impressão é de que vivemos uma sequência de flashes que sintetiza um mundo que muda a cada respiro. A realidade técnica faculta-nos a possibilidade, antes restrita, de capturar e compor, de alguma maneira, o fruir desta “vida instantânea”.

As percepções em flashes não são convidativas a sensações de certeza ou de estabilidade com as quais nos sentimos com algum controle sobre o presente e, por vezes, imaginamos constituírem garantias para nossas esperanças quanto a um futuro benfazejo que seguimos desejando. Racionalmente, não rejeitamos a realidade cambiante e até nos dispomos a aprender a viver nela, mas procuramos precaver-nos dos riscos de alçar voo sem radares precisos de última geração.

Pode-se suspeitar que haja positividade e negatividade na atual vaga de transformações, mas não há quem duvide que a humanidade passa por mudanças profundas no seu modo de vida. O estabelecimento e a afirmação da chamada sociedade digital alteraram a dinâmica do tempo, afetando o mundo da produção, da circulação, da comunicação, enfim, o mundo da vida por inteiro. Não estamos mais no início desse processo: estamos em pleno curso há algum tempo e parece não haver lugar no planeta que não esteja sendo impactado. Assim, nossa realidade hoje é de transformação global e epocal, registrada nos circuitos produtivos mundiais, na comunicação online e no comportamento hodierno das pessoas que circulam pelas cidades com seus smartphones.

Revolução Russa – da esperança à tragédia |*José Antonio Segatto

- O Estado de S. Paulo

O fim trágico do socialismo real acabou por legitimar o capitalismo

Há um século, em outubro de 1917, o processo revolucionário desencadeado na Rússia em fevereiro – com o colapso do império czarista – sofreu drástica inflexão e ganhou um curso imprevisto sob a direção do partido bolchevique.

Ainda no calor da hora, um jovem militante socialista italiano, Antonio Gramsci, escreveu um pequeno e instigante artigo intitulado “A revolução contra O Capital”. Segundo o autor, a conquista do Estado pelos bolcheviques contrariava as diversas tendências do movimento socialista europeu e também russo (mencheviques e socialistas revolucionários). A leitura que faziam do livro de Karl Marx (que, aliás, completava 50 anos da publicação de seu primeiro volume, em 1867) presumia que a revolução democrático-burguesa e o consecutivo desenvolvimento do capitalismo seriam pressuposto básico e necessário para o socialismo – para ele, as agruras da guerra teriam criado condições (vontade coletiva), de maneira célere e inusitada, para a tomada do poder pelos bolcheviques num país atrasado, de capitalismo incipiente, como a Rússia.

Sem dúvida, a guerra potencializou a crise estrutural que já era latente em todo o imenso Império Russo, abarcando inúmeros problemas acumulados secularmente: dominância tirânica da autocracia czarista, subjugação de nacionalidades não russas, brutal opressão do campesinato, bloqueios à organização da sociedade civil, inexistência de direitos mínimos (tanto civis como políticos), etc. Em 1917 a crise irrompe com tal força que desintegra o todo-poderoso império czarista, criando uma situação caótica, que se agrava com a constituição de um governo provisório privado de credibilidade dirigente e impotente para enfrentar as graves circunstâncias. Estavam criadas as condições – vazio de poder, revolta e fúria popular, anomia, desorganização econômica, etc. – para que um pequeno partido de vanguarda, resoluto e com propostas que atendiam aos anseios imediatos das classes subalternas (pão, paz e terra) se apoderasse dos aparatos do Estado, sem resistência, em nome dos sovietes (conselhos).

Uma gestão paradoxal | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A Câmara começa hoje a analisar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Se não houver surpresas, ele se livrará do processo, como já se livrou da primeira investida da Procuradoria-Geral da República e da ação na Justiça Eleitoral que também poderiam tê-lo apeado do cargo.

Há algo de paradoxal aí. Temer, apesar de ser o presidente mais impopular da história do país e estar enroladíssimo em escândalos de corrupção, conseguirá, ao que tudo indica, concluir seu mandato, enquanto Dilma Rousseff, igualmente impopular, mas que ainda conserva uma imagem de honestidade pessoal, perdeu o seu. A elucidação do mistério é simples. Dilma dilacerou a economia do país e ainda por cima se meteu numa crise política que praticamente inviabilizava suas tentativas de consertar as coisas. Nem o PT votava a favor de suas medidas.

Jogando pelo empate | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A oposição reconhece que não chegará nem perto dos 342 votos necessários para afastar Michel Temer. Se a vitória é impossível, a saída será jogar pelo empate. Por isso, a minoria tentará adiar o sepultamento da segunda denúncia contra o presidente.

A sessão está marcada para as 9h desta quarta-feira. No entanto, a votação só será iniciada se 342 deputados marcarem presença. Se este quorum não for alcançado, a decisão ficará para a próxima semana. A oposição aposta nisso para prolongar o desgaste do governo.

"Nossa única chance de manter o Temer nessa hemorragia é não dar presença. Ele pode vender até o Palácio do Planalto, mas não vai conseguir enterrar a denúncia", diz o deputado Sílvio Costa, do Avante.

Síndrome do pato manco | Merval Pereira

- O Globo

O presidente Michel Temer, mesmo que se confirme hoje, como tudo indica, a maioria necessária para superar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele, não escapará de ser um “pato manco” até o fim de seu governo, o que muito o constrange neste momento em que as forças políticas se mobilizam para sua sucessão.

‘‘Pato manco" (lame duck) é uma expressão, usada principalmente na política norte-americana, que define o político que continua no cargo, mas que, por algum motivo, não pode disputar a reeleição e perde a expectativa de poder. A expressão nasceu na Bolsa de Valores de Londres, no século XVIII, em referência a investidor que não pagava suas dívidas e ficava exposto à pressão dos credores. A ave (e o político) com problemas torna-se presa fácil dos predadores.

A expressão surgiu de um velho provébio de caçadores que diz: Never waste powder on a dead duck, isto é, “nunca desperdice pólvora com pato morto”. Temer, a exemplo de Sarney no final de seu governo, não terá mais força política para levar adiante seu projeto econômico, embora vá tentar evitar a síndrome do “pato manco”, justamente para não se tornar um presidente sem influência na sua sucessão.

O governo quer voltar à agenda econômica depois da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara, mas reformas como a da Previdência, que precisam de um quorum mais alto para serem aprovadas, vão ser muito difíceis de passar. Talvez o governo consiga aprovar outras medidas que possam ser feitas por projetos de lei, como controle de gastos.

Parlamentarismo na marra | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

As avaliações quanto ao placar pelo qual a Câmara vai arquivar a segunda denúncia contra Michel Temer oscilam como a cotação da Bolsa, a depender da variação do preço das commodities da vez, a saber, os deputados. O que é constante, no entanto, é que o presidente dependerá sempre e cada vez mais do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para levar a cabo alguma agenda, por mínima que seja, após ser salvo pela segunda vez.

Maia foi habilidoso ao aproveitar o período de negociação da votação para, diferentemente da denúncia anterior, se apresentar como espécie de antípoda de Temer. Toda a indignação com a ofensiva do PMDB sobre deputados almejados pelo DEM era fachada de um propósito maior: sabedor da absoluta falta de popularidade de Temer e da impossibilidade de ele recuperá-la até as eleições, Maia desenhou um arranjo em que quer fazer vigorar um parlamentarismo na marra.

O veto à discussão de novas medidas provisórias e a conversão de MPs importantes – como a da leniência dos bancos e a das medidas que visam a assegurar a meta fiscal – em projetos de lei que são votados em período recorde nada mais são do que formas de o deputado mostrar que pode atuar como primeiro-ministro de um presidente algo decorativo. Ao negociar diretamente com Maia temas como a reforma da Previdência, o próprio ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, parece transferir a ele parte das prerrogativas de seu chefe de ditar qual será a agenda do “day after”.

A ordem entre os ministros é evitar bolas divididas com o comandante da Câmara até se efetivar o esperado sepultamento da denúncia. Depois disso, auxiliares de Temer acham que ele deve fazer valer o peso do presidencialismo para cortar as asas de Maia. O problema é que, ainda que seja de fato grande o poder do Executivo num regime presidencialista, ele é um tanto menor no caso de um presidente que tem menos de um ano de mandato pela frente, foi alvo de duas denúncias, tem menos de 4% de apoio popular e chegou ao cargo após um impeachment que dividiu o País.

Graças a essa hipossuficiência política, dificilmente Temer poderá retaliar os que votarem contra o governo – como tem ameaçado sem assustar ninguém – ou prescindir de um bom relacionamento com Maia para chegar sem mais sobressaltos ao fim de 2018.

Sucessão e continuidade | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Até janeiro de 2019, em encontro com a primeira instância

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) é, por incrível que pareça, a candidatura presidencial mais definida neste momento. Ele está vencendo a pré-disputa com João Dória, participa de reuniões para formação de chapa, campanha e projeto eleitoral, está no centro do tiroteio de um partido conflagrado, onde livres atiradores miram, sem atingir em definitivo, gregos e troianos, ele inclusive.

Mas sobrevive, pois há a realidade de sua personalidade: os que procuram Alckmin para conversar saem com uma impressão unânime: a conversa do governador não tem começo, nem meio, nem fim. Alckmin continua alheio ao mundo da política e não parece um candidato sequer a liderar uma associação.

Mas, inegável, é uma candidatura de resultados, e o último foi extraordinário: a recomposição com o senador e ex-governador José Serra, com quem divide o principado do PSDB em São Paulo.

Outra também bem definida é a candidatura Jair Bolsonaro (ainda vendo que partido vai usar): corre o Brasil, tem um nicho de votação na direita e outro na igreja, e um discurso em cima de eventualidades sobre as quais é perguntado, mas ainda se protege de melhores e maiores definições.

O empresário Luciano Huck parece ser uma criatura vocacionada e uma candidatura de primeiros traços bem delineada, já se lançou em artigo no jornal "Folha de S.Paulo", mas está demorando a se revelar como tal, ou aguarda dias mais claros ou a explicitação do apoio da família.

Ciro Gomes é uma candidatura posta, confirmada e em procedimentos de medição de terreno, mas sofre de um mal terrível nos dias de hoje: a conversa é antiquissima e não se consegue imaginar qual público ainda vai se interessar por seu discurso se não houver um novo approach. Ele já disse que só vai se Lula não for.

Base azeitada | Luiz Carlos Azedo:

– Correio Braziliense

A bandeira do ajuste fiscal acabou de ser enterrada pelo Palácio do Planalto, que somente este mês liberou R$ 687 milhões em emendas individuais para os parlamentares. A farra não foi para cooptar ninguém da oposição: foi para domar a própria base parlamentar. Como o orçamento é impositivo desde 2015, o governo é obrigado a liberar os recursos das emendas, mas decide o fluxo de pagamentos, o que serve para administrar os humores dos parlamentares, premiando aliados e retaliando a oposição. Em razão da votação da denúncia contra o presidente da República, entretanto, para desespero da equipe econômica, a liberação de recursos quase dobrou em relação a setembro (foram R$ 273 milhões) e mais que quadruplicou se compararmos com agosto (R$ 138 milhões).

Para aumentar o rombo nos cofres do governo, Temer acelerou a sanção do Programa de Regularização Tributária, o novo Refis, que será publicado nesta quarta-feira, no Diário Oficial da União, sem vetos, o que contraria o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que havia proposto nove vetos. A rebelião na base, estimulada pelo lobby dos maus pagadores, forçou a decisão. Uma nova medida provisória também deverá prorrogar o prazo de adesão. A Receita deve regulamentar as novas regras até quinta-feira. O prazo de adesão termina em 31 de outubro, mas deve ser prorrogado. Com a medida, haverá perda de receita da ordem de R$ 3 bilhões, de um total previsto de R$ 13 bilhões a serem arrecadados.

Aprendizado para a Lava Jato – Editorial | O Estado de S. Paulo

Ainda que haja muitas diferenças, tanto na legislação como na cultura de cada país, a trajetória da Mani Pulite (Mãos Limpas) – a famosa operação italiana anticorrupção que, de 1992 a 2005, investigou cerca de 4 mil pessoas, com mais de uma centena de parlamentares, ministros, juízes e altos executivos de empresas – tem muito a ensinar para o bom encaminhamento da Lava Jato no Brasil, reconheceram unanimemente os quatro palestrantes do Fórum Mãos Limpas & Lava Jato, promovido ontem pelo Estado em parceria com o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP).

Gherardo Colombo e Piercamillo Davigo, juiz e promotor à época da Operação Mãos Limpas, lembraram que o combate à corrupção vai muito além da questão jurídica, envolvendo a cultura e a educação de um país. Nesse sentido, os dois disseram que é preciso ter cuidado ao avaliar os resultados de uma operação que investiga casos de corrupção. Além de ser irreal a ideia de que a operação acabará com a corrupção, essa expectativa é contraproducente, pois pode levar à postergação de seu término, motivando exageros e causando um perigoso desgaste perante a opinião pública.

Piercamillo Davigo, que atualmente é juiz da Corte Suprema de Cassação, comentou a importância, no caso da Mãos Limpas, da colaboração de muitos investigados, o que proporcionou à Justiça informações muito úteis para a investigação de vários crimes. Ressaltou, no entanto, que algumas pessoas falaram apenas parte do que sabiam, como simples forma de se safarem, e depois tiveram “carreiras políticas espetaculares. Esse é um aviso que faço porque pode ocorrer aqui o mesmo fenômeno”, disse Davigo. Ou seja, não cabem ingenuidades a respeito das delações premiadas.

Infraero simboliza barganhas entre Temer e Câmara – Editorial | O Globo

Para garantir votos do PR, Planalto aceita pressão de ex-deputado e ex-presidiário, e não privatiza Congonhas para aeroporto sustentar a ineficiente Infraero

O já conhecido balcão de barganhas, instalado pelo Planalto antes da votação na Câmara da primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Michel Temer, apresentou grande movimentação também para o governo garantir a rejeição do segundo conjunto de acusações, na sessão plenária marcada para hoje. Desta vez, incluem-se, ao lado do presidente, nas denúncias de formação de organização criminosa e obstrução de Justiça, os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Com a vitória considerada garantida por governistas e cooptados, discutem-se detalhes, como se o apoio a Temer e aos ministros será superior aos 263 votos conseguidos na primeira vez. O parecer favorável ao governo, de autoria do deputado Bonifácio de Andrada (MG), aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, terá de ser rejeitado, em plenário, pela oposição, por no mínimo 342 votos. Muito difícil.

Tem sido um trabalho intenso de compra literal de apoios. Ontem mesmo, entre outras medidas, Temer assinou decreto para atenuar multas por crimes ambientais, promessa feita à bancada ruralista. Houve, ainda, a portaria que relaxava regras de combate ao chamado trabalho escravo, suspensa, de forma liminar, pela ministra Rosa Weber, do Supremo.

Arroubo demagógico – Editorial | Folha de S. Paulo

A tese pueril segundo a qual inexiste deficit na Previdência Social brasileira assume agora ares de investigação parlamentar. Uma CPI sobre o assunto, instalada pelo Senado há seis meses, chegou a tal conclusão —que, não resta dúvida, buscava desde o início.

Recém-concluído, um caudaloso relatório de 252 páginas recicla argumentos esgrimidos ao longo de mais de duas décadas por entidades sindicais e acadêmicos militantes, não por acaso as fontes em que se baseou o "inquérito".

Dadas as alegações frágeis e surradas, tende-se a incluir a iniciativa nos anais do folclore legislativo nacional. Entretanto é inegável que a insistência e a estridência dos adversários da reforma previdenciária têm mostrado eficácia.

Seja pelo declínio do governo Michel Temer (PMDB), seja por alienação e covardia geral das forças políticas, as propostas destinadas a ajustar os regimes de aposentadoria do país ainda enfrentam uma babel de desinformação.

A controvérsia em torno do deficit do sistema, em particular, consome enormes tempo e energia —e deixa de lado o essencial.

Macri consolida apoio político e prossegue com as reformas - Editorial | Valor Econômico

O presidente argentino Mauricio Macri venceu bem as eleições do meio de mandato e tem um futuro promissor para enfrentar novamente as urnas e conseguir se reeleger em 2019. O partido de Macri, Mudemos, cresceu na Câmara e no Senado, mas terá de continuar a explorar as dissidências peronistas para obter maioria aos projetos do governo - uma arte que o presidente vem sabendo exercer desde que assumiu o poder. A principal força de oposição, comandada pela ex-presidente Cristina Kirchner, que conquistou uma vaga no Senado, tem a esperança de reunir de novo o partido em torno de si. O desempenho da economia vai determinar a oscilação do pêndulo político, cujo movimento é agora bem mais favorável a Macri.

A Argentina fez progressos ante a péssima situação econômica legada por mais de uma década dos Kirchner na Casa Rosada. As heranças nefastas não foram vencidas ainda, entretanto. A inflação, que chegou a mais de 40% antes de Macri assumir caiu a quase a metade. A meta de inflação do BC, de 17% este ano, não será cumprida, mas o governo acredita que chegará às próximas eleições com a alta dos preços na casa de um dígito.

A queda dos preços não foi abrupta porque uma das principais medidas de arrumação da política econômica foi a eliminação dos enormes subsídios nos preços públicos, que chegaram a consumir 5% do PIB, com vários tarifaços. A correção dos preços prossegue. Ontem, após a vitória nas urnas, foi anunciada correção de 10% no preço dos combustíveis. Além disso, alimentaram a inflação o grave déficit fiscal e o fim do artificialismo cambial, que resultou em uma maxidesvalorização do peso argentino.

A renúncia do presidente – Editorial | O Globo, 19/5/2017 (a derrota)

Um presidente da República aceita receber a visita de um megaempresário alvo de cinco operações da Polícia Federal que apuram o pagamento de milhões em propinas entregues a autoridades públicas, inclusive a aliados do próprio presidente. O encontro não é às claras, no Palácio do Planalto, com agenda pública. Ele se dá quase às onze horas da noite na residência do presidente, de forma clandestina. Ao sair, o empresário combina novos encontros do tipo, e se vangloria do esquema que deu certo: "Fui chegando, eles abriram. Nem perguntaram o meu nome". A simples decisão de recebê-lo já guardaria boa dose de escândalo. Mas houve mais, muito mais.

Em diálogo que revela intimidade entre os dois, o empresário quer saber como anda a relação do presidente com um ex-deputado, ex-aliado do presidente, preso há meses, acusado de se deixar corromper por milhões. Este ex-deputado, em outro inquérito, é acusado inclusive de receber propina do empresário para facilitar a vida de suas empresas no FI-FGTS da Caixa Econômica Federal. O presidente se mostra amuado, e lembra que o ex-deputado tentou fustigá-lo, ao torná-lo testemunha de defesa com perguntas que o próprio juiz vetou por acreditar que elas tinham por objetivo intimidá-lo.

Ao ouvir esse relato do presidente, o empresário procura tranquilizá-lo mostrando os préstimos que fez. Diz, abertamente, que "zerou" as "pendências" com o ex-deputado, que tinha ido "firme" contra ele na cobrança. E que ao zerar as pendências, tirou-o "da frente". Mais tarde um pouco, em outro trecho, diz que conseguiu "ficar de bem" com ele. Como o presidente reage? Com um incentivo: "Tem que manter isso, viu?"

Lula não muda, mas o Brasil muda, sim! | José Anibal

- Blog do Noblat

Atribui-se ao economista John Maynard Keynes a frase: “Quando os fatos mudam, eu mudo de opinião”. Seria uma resposta a uma provocação de Winston Churchill, tampouco comprovada, na qual se teria duas opiniões diferentes se fossem ouvidos dois economistas, e três se um deles fosse Keynes. Ainda que se trate de mero folclore da vida pública britânica, é possível tirar lições dessa anedota de 80 anos atrás.

Não há demérito algum em se mudar de opinião diante da constatação de uma medida que se revela ineficiente, de um erro de avaliação ou de uma mudança de cenário. Ao contrário, é sinal de maturidade, capacidade e honestidade intelectual. Por que um governo manteria uma política pública cujos resultados não são os esperados? Faz sentido manter normas e leis de décadas atrás que não atendem mais as demandas do mundo contemporâneo?

Por outro lado, intransigência e intolerância são características típicas dos reacionários e obstáculos ao avanço das sociedades. São marcas também dos falsos salvadores da pátria que, por ora, encontram receptividade auferida em pesquisas de opinião, mas que simplesmente não oferecem nada de concreto ou pertinente para os desafios que o Brasil precisa enfrentar.

A falência das nações | Monica De Bolle

- O Estado de S.Paulo

O lastro de qualquer reforma é a credibilidade do governo que a propõe: a da Previdência está aí como exemplo

Por que alguns países são ricos e outros pobres? Por que alguns países são inicialmente mais ricos do que outros, mas, com o passar dos anos, tornam-se mais pobres? O que explica o crescimento econômico sustentável e a melhoria na qualidade de vida das sociedades? Em 2012, os economistas Daron Acemoglu e James Robinson publicaram livro extraordinário intitulado Why Nations Fail: The Origins of Power, Prosperity, and Poverty. Embora o tenha lido quando de seu lançamento, na época não soube apreciar adequadamente a relevância da obra para o Brasil. Ao relê-lo, vi retratadas em suas páginas todas as mazelas que nos afligem – da falência institucional, à crise econômica, às inúmeras dificuldades de fazer reformas sem profunda mudança política.

O livro expõe com clareza – ilustrando em detalhe a experiência de diversos países – que é a natureza das instituições políticas que determina a distribuição de recursos, o crescimento, e o relativo “sucesso” econômico das nações. De forma simplificada, países onde as instituições políticas são moldadas por grupos interessados em extrair recursos do Estado em vez de garantir o bem-estar da sociedade, instalam-se o caos, as crises, a pobreza, a corrupção.

Curiosamente, os autores dedicam parte de um capítulo ao Brasil – não como exemplo de nação “falida”, mas como exemplo de superação: citam a mobilização social e a ascensão do PT ao poder em 2002 como exemplo de reconstrução das instituições brasileiras, tornando-as mais “inclusivas”. Passados os anos do lulopetismo, que jamais teria se consolidado sem a ajuda do que havia de mais status quo na política brasileira, sabemos que não houve revolução alguma. Os que ocuparam – e ainda ocupam – os mais altos escalões do poder, usaram e continuam a usar as instituições em benefício próprio. Sem que haja a desejada transformação política capaz de remodelar as instituições em favor da sociedade, corremos o risco de assistir repetecos infindáveis dessa história.

Luz mais cara para evitar o pior | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

A conta de luz vai subir mais em novembro, como previsto. Se não vier chuva e caso haja bom senso na administração da economia e da eletricidade, essa conta deveria ficar ainda mais cara. Pega mal dizer tal coisa, mas é a solução mais prudente.

Embora seja mero chute falar de racionamento antes de fevereiro, por aí, a situação dos lagos das hidrelétricas é crítica. É preciso poupar energia (e, pois, a água desses reservatórios). Para tanto, temos de usar mais da energia muito mais cara das termelétricas (que são uns geradores monstruosos movidos a óleo, biocombustível, gás ou carvão). Assim, o custo de produzir eletricidade não vai, não deve nem pode cair tão cedo.

Na verdade, a energia já está mais cara, no atacado. O problema é saber quem paga a conta final.

Há uma conversa maluca no governo de dar uma "ajuda" às distribuidoras (as empresas que nos vendem a energia), que dizem estar com as contas cada vez mais no vermelho, pois vendem energia a preço inferior ao que pagam. Se é o caso, como parece ser, passar essa conta para o governo é uma gambiarra velha, ineficiente e injusta.

Transição argentina | Míriam Leitão

- O Globo

A economia da Argentina está em recuperação e pode crescer 3% este ano e 4% no ano que vem. Isso explica em parte a vitória do presidente Mauricio Macri nas eleições do último final de semana. O ajuste promovido pelo governo já traz resultados concretos que começam a ser percebidos pela população. A recuperação do Brasil também tem ajudado, pelas fortes relações comerciais entre os dois países.

Assim como o Brasil, a Argentina vive um período de transição na economia. O governo Kirchner entregou o país com o PIB em queda, inflação alta e represada pela manipulação das tarifas públicas e falsificação dos índices de preços. Com Macri, a conjuntura piorou antes de começar a melhorar. No ano passado, o PIB afundou 2,2% e a inflação chegou a 41%, como resultado do ajuste promovido pelo governo. Este ano a economia voltou a crescer, mas lentamente.

Mesmo assim, há previsões de especialistas e economistas de bancos, como os do BNP Paribas, de um crescimento de 3% do PIB em 2017 e de 4% em 2018. O brasileiro Itaú Unibanco estima que a taxa de inflação poderá recuar para 22% e 16% nesses dois anos. Ainda longe da meta de 5% do governo, para 2019, mas claramente em tendência de queda. Outro ponto positivo de Macri foi ter reformulado o índice de preços, que hoje tem números com credibilidade. O governo kirchnerista fez uma intervenção no Indec e passou a manipular os índices econômicos.

Para Florencia Vazquez, economista do BNP Paribas na Argentina, a melhora dos indicadores já começou a ser percebida no dia a dia dos argentinos, ao contrário do que acontece aqui no Brasil.

Maia prepara agenda para economia após denúncia

Presidente da Câmara analisa projetos para socorrer bancos e mudanças na Previdência

Igor Gadelha Vera Rosa | O Estado de S. Paulo.

/ BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articula uma agenda política e econômica própria. Ele analisa como mudar as regras da Previdência por meio de projetos de lei, que, em tese, exigiriam menos esforço para serem aprovados. Maia também negocia projeto com o Banco Central que permitirá usar dinheiro do Tesouro Nacional no socorro para bancos em dificuldades e deve defender a aprovação da reforma tributária. Além disso, estuda pautas de maior apelo popular, nas áreas de segurança e saúde. A agenda deve ser apresentada no dia seguinte à votação na Casa da segunda denúncia contra Michel Temer, marcada para hoje. Governo e oposição trabalhavam ontem com um cenário de rejeição da denúncia. O custo para barrar as investigações contra o presidente já chega a R$ 32 bilhões, entre concessões e medidas negociadas.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), prepara uma agenda própria da Casa para apresentar no dia seguinte ao da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, marcada para hoje. A pauta deve ter matérias econômicas articuladas pessoalmente por ele e projetos de maior apelo popular, principalmente nas áreas da segurança pública e saúde.

A intenção do parlamentar, segundo aliados, é buscar mais protagonismo no cenário nacional no momento em que Temer sai enfraquecido após gastar seu capital político para barrar as denúncias das quais é alvo.

Ontem, na véspera da votação, Temer recebeu vários deputados para garantir apoio. Um deles foi Maia, de quem quis saber como estava o clima na Câmara. À noite, o presidente foi a jantar no apartamento do vicepresidente da Câmara, Fabio Ramalho (PMDB-MG).

Placar da 2ª denúncia vai medir a força do presidente

Placar sobre denúncia irá dimensionar força de Temer no resto do mandato

Marina Dias, Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na véspera da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, marcada para esta quarta-feira (25) no plenário da Câmara, a base governista travava uma batalha silenciosa.

De um lado, o Planalto afagava interesses de deputados e contava com a repetição ou até a ampliação do placar de 263 votos da primeira denúncia. De outro, um grupo em torno do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fim de ampliar seu poder de barganha, buscava construir uma vitória menos favorável ao presidente.

O tamanho do placar redimensionará a força de Temer nos 14 meses que lhe restarão de mandato e, por isso, o esforço de seus assessores é para que ele mantenha ou até mesmo amplie os votos da sessão de 2 de agosto, que enterrou a acusação por corrupção passiva que tramitava contra ele.

Enquanto líderes governistas negociavam a liberação de cargos e emendas parlamentares, deputados do chamado centrão, grupo de siglas pequenas e médias comandado por PSD, PP, PR, PRB e PTB, e aliados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), diziam que o governo "precisa entender que Temer terá que reorganizar sua base aliada para continuar governando".

Relatório que será votado é uma defesa indistinta da classe política

Eloísa Machado de Almeida | Folha de S. Paulo

Há quase três meses, o plenário da Câmara dos Deputados votava para impedir o andamento da primeira denúncia contra o presidente Michel Temer.

Naquela oportunidade, as acusações envolviam principalmente o crime de corrupção passiva, referente ao episódio da mala de dinheiro de Rocha Loures e os encontros gravados entre Michel Temer e Joesley Batista.

Naquela primeira vez, a CCJ precisou produzir dois relatórios. O primeiro, de Sérgio Zveiter (PMDB), recomendou o prosseguimento da acusação, com ênfase nos aspectos jurídicos necessários de uma denúncia: a existência de indícios de materialidade e autoria dos crimes, mas saiu perdedor.

O segundo, de Paulo Abi-Ackel (PSDB), foi contra a denúncia, mas também pautado em questões jurídicas, como a nulidade de delações. As dúvidas envolvendo a colaboração premiada dos irmãos Batista foram a principal arma da defesa de Temer, que deu bastante ênfase ao fato de o delator estar livre e sem acusações.

Ativismo do Judiciário pode aumentar ceticismo sobre política, indica estudo

Luiza Franco | Folha de S. Paulo

CAXAMBU (MG) - A crescente atuação do Judiciário no combate à corrupção, cujo exemplo mais claro é a Operação Lava Jato, possui o impacto positivo de investigar e punir, mas pode ter o efeito colateral de aumentar o ceticismo da população em relação à política.

É o que indicam os primeiros resultados de uma pesquisa que pretende esclarecer que tipo de eleitorado vai emergir no Brasil como consequência da megaoperação e desse "ativismo judicial" —expressão adotada pelos dois autores do trabalho, Nara Pavão, professora visitante da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), e Ezequiel González Ocantos, da Universidade Oxford (Reino Unido).

A tese de doutorado de Pavão conclui que o processo eleitoral, por si só, não elimina candidatos corruptos da disputa. Na verdade, quanto maior for a percepção de corrupção por parte do eleitorado, mais ele releva esse fator em seu processo de decisão —é um círculo vicioso. Agora, a pesquisadora quer entender o efeito do protagonismo do Judiciário, que goza de credibilidade, na opinião pública.

Pavão apresentou o resultado preliminar do experimento na manhã desta terça-feira (24), em congresso da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), em Caxambu (MG).

Temer e Maia ajustam agenda comum

Por Andrea Jubé e Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reconciliaram-se na véspera da apreciação da segunda denúncia contra o pemedebista oferecida pela Procuradoria Geral da República, depois de um mês de atritos. Na expectativa de nova vitória de Temer no plenário, ambos combinaram uma agenda de votações, que Maia divulgará hoje. Temer fará um pronunciamento após o desfecho da votação anunciando os próximos passos do governo, com prioridade para a reforma da Previdência e as medidas de ajuste fiscal.

O pactuado entre Temer e Maia implica o espaço para o protagonismo de cada Poder, de modo que a Câmara votará a pauta econômica do governo porque é interesse do país, mas o presidente da Casa pautará, de igual forma, projetos do Legislativo. "Haverá convergência em algumas agendas, em outras não", explicou Maia a uma roda de jornalistas. Ele acrescentou que o "Congresso Nacional tem responsabilidade com a sociedade" e que em meio a uma profunda crise econômica "não pode haver embate político".

Depois de sair da reunião com Temer, Maia chegou à Câmara bem-humorado e contando piadas. Mas questionado sobre os embates com o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR) - que filiou ao partido dissidentes do PSB com quem o DEM estava dialogando, - Maia sinalizou que o clima não é de plena reconciliação. A disputa com Jucá, no âmbito partidário, impactou na relação de Maia com o Planalto. "Não há amiguinhos na política", ressaltou o presidente da Câmara.

Fidelidade limitada

Câmara deve livrar Temer da segunda denúncia, mas não assegura aprovação de reformas

Leticia Fernandes, Catarina Alencastro e Cristiane Jungblut | O Globo

-BRASÍLIA- O presidente Michel Temer chega ao embate final no plenário da Câmara hoje com um desafio bem maior do que obter os votos para barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República por obstrução de Justiça e organização criminosa, o que até a oposição admite que acontecerá sem maiores dificuldades. Ele tem como principal desafio dar sentido à segunda metade de seu mandato, que termina em 1° de janeiro de 2019. Hoje, Temer não tem o apoio para aprovar a reforma da Previdência, e seus aliados no Congresso já admitem que o governo vai ter que se contentar com uma pauta microeconômica.

A tropa de choque do governo do peemedebista, que chegou ao Planalto se apresentando como reformista, não vê neste momento possibilidade de se aprovar a reforma da Previdência ou outras matérias que impliquem em mudanças constitucionais, que precisam de 308 dos 513 votos. Em troca, deputados e senadores oferecem apoio a projetos na área de segurança pública, tema capaz de unir governo e oposição. Especialmente num cenário pré-eleitoral.

— Após a denúncia, vamos ter que tocar duas agendas. Uma microeconômica, restrita à simplificação tributária, e outra de segurança pública, que é uma causa em que não há grandes divergências. A segurança pública vai ser o sonrisal para curar a ressaca pós-denúncia — avalia o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB).

O governo acredita que o resultado da votação de hoje deve ser bem próximo com ao registrado no último dia 2 de agosto, quando o plenário da Câmara sepultou por 263 votos a 227 a primeira denúncia contra Temer, que era acusado de ter praticado corrupção passiva. Para tentar conseguir um resultado maior que o de dois meses atrás, o Palácio do Planalto usa as armas que tem em mãos. Ontem, o presidente cedeu à pressão de deputados e sancionou o texto do Refis com quatro vetos, mas manteve condições favoráveis de parcelamento de juros e multas, em desacordo com a recomendação da equipe econômica.

O presidente tinha até o fim do mês para sancionar o Refis. Mas a pressão dos deputados venceu. Os parlamentares pressionaram pela sanção porque temiam que, passada a votação da denúncia, houvesse novos vetos, desfazendo os acordos feitos com base aliada em troca de votos contra a denúncia.

Velho cego, choravas | Pablo Neruda

Velho cego, choravas quando a tua vida
era boa, e tinhas em teus olhos o sol:
mas se tens já o silêncio, o que é que tu esperas,
o que é que esperas, cego, que esperas da dor?

No teu canto pareces um menino que nascera
sem pés para a terra e sem olhos para o mar
como os das bestas que por dentro da noite cega
- sem dia ou crepúsculo - se cansam de esperar.

Porque se conheces o caminho que leva
em dois ou três minutos até à vida nova,
velho cego, que esperas, que podes esperar?

Se pela mais torpe amargura do destino,
animal velho e cego, não sabes o caminho,
eu que tenho dois olhos to posso ensinar.
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Pablo Neruda, in "Crepusculário"

O morro não tem vez - Zimbo Trio e Orquestra de Cordas Arte Viva