sexta-feira, 4 de junho de 2010

Os limites do crescimento:: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quarta-feira foi uma dessas raras vezes em que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que o Brasil não pode crescer mais de 6% ao ano sem produzir distorções, especialmente inflação.

Fica assim admitido o conceito do crescimento potencial da atividade produtiva, quase sempre refugado pelos economistas chamados desenvolvimentistas, para os quais o mais importante é garantir a forte expansão do setor produtivo, que multiplique renda e emprego, e não o funcionamento harmônico, equilibrado e sustentável da economia.

Para esses economistas, ao contrário, o crescimento vigoroso da economia só acontece num regime de desequilíbrio. É, segundo eles, a demanda forte acompanhada de aumento de preços que estimula os investimentos e, portanto, o aumento da produção futura e da renda. É uma postura frágil, que desdenha a importância da poupança prévia que fundamenta o investimento.

O brasileiro é especialmente mau poupador. Não guarda mais do que 16% de sua renda, de longe insuficiente para dar conta de seus sonhos de economia forte. Os de sempre argumentam que o Brasil ainda é um país de baixa renda (média anual de apenas US$ 10 mil por pessoa) e que pobre não tem opção a não ser viver da mão para a boca, sem condições de se dar ao luxo de amealhar poupança.

Pura falácia. Na nação mais rica do mundo, os Estados Unidos, o atual nível de poupança está próximo do zero. Não fosse a importação de poupança, não conseguiriam fechar suas contas internas.

Em contraponto, o chinês é bem mais pobre do que o brasileiro, trabalha num regime que muitos identificam como próximo da escravidão e, no entanto, poupa nada menos que 51% do que ganha.

O padrão dos tigres asiáticos é um pouco mais baixo, em torno dos 35% do PIB, mas, ainda assim, é mais do que o dobro do índice de poupança do brasileiro. É, em grande parte, a diferença entre magnitudes de poupança que explica o alto dinamismo da economia asiática e, ao mesmo tempo, a vulnerabilidade da economia brasileira ao atual aumento do ritmo da atividade econômica.

Em boa parte essa alta propensão à poupança dos asiáticos é explicada por fatores culturais: eles são assim, não fazem tanta questão de conforto consumista e, além disso, têm de amealhar patrimônio para financiar seu tempo de aposentadoria. Por lá, não há previdência social.

No Brasil, um volume importante do investimento nacional é resultado de poupança compulsória, arrancada do assalariado e das empresas: Fundo de Garantia, PIS/Pasep e Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), parcelas de recursos muito mal remuneradas.

A outra implicação do reconhecimento do ministro Mantega é a de que o serviço mais ingrato acaba sobrando para o Banco Central. Tão logo a inflação põe a cabeça para fora, como passou a acontecer, os juros têm de ser puxados para cima de maneira a conter os desequilíbrios e a escalada dos preços.

Tudo seria diferente se o governo Lula mostrasse mais empenho em bloquear a expansão das despesas públicas e, ao mesmo tempo, em ser mais eficiente na redução do custo Brasil. Mas, neste ano, as prioridades são outras, porque passou a ser preciso pavimentar a estrada para garantir a boa vontade do eleitor.


Confira

Começou o processo

Ontem, a Petrobrás divulgou nota oficial em que comunica a contratação de um consórcio de bancos para a coordenação global da oferta pública de ações da empresa.

Bancões

O consórcio é formado por seis grandes bancos: Bank of America Merrill Lynch, Bradesco BBI, Citi, Itaú-BBA, Morgan Stanley e Santander.
Isso parece indicar que a diretoria da Petrobrás já desistiu de esperar pela aprovação do projeto de lei em tramitação no Congresso. Vai colocar em andamento o processo de capitalização da empresa sem contar com os 5 bilhões de barris de petróleo a receber da União como subscrição da parcela do Tesouro.

Bocca chiusa

A nota avisa ainda que, desde ontem, a diretoria da Petrobrás se encontra em "período de silêncio". Não se pronunciará sobre a operação de oferta pública, a não ser em condições oficiais, em obediência ao que determina a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

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